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Henrique Afonso: “a ética na política não é só possível, mas extremamente necessária”

19 de setembro de 2016
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HENRIQUE - oficialA juventude de Henrique Afonso, 51, foi marcada por duas vertentes: a da fé e do engajamento no movimento social. Mesmo com uma formação conservadora do seminário Irmãos Marista, em Cruzeiro do Sul, município do qual é filho, opta pela Teologia da Libertação, corrente filosófica da Igreja Católica, que fez opção pelos desvalidos e apregoava a libertação através da fé e da ação política.

A inquietude e o desejo de transformar a sociedade também marcaram a sua personalidade. Integrou os movimentos cultural e comunitário. A formação intelectual e suas posturas são influenciadas pelo processo de transformação social iniciado no final dos anos 60, que contagiou os jovens nas décadas seguintes. Alguns anos depois, o Acre se transformou num cenário de várias lutas sociais e políticas, notadamente depois da chegada dos “paulistas”.

É nesse contexto que Henrique Afonso se constrói, cultivando a sua “Nauás- aquiryanidade”, fincando sua identidade cabocla, amazônida, totalmente mimetizado e aculturado às peculiaridades da região do Vale do Juruá e de seu povo. Daí seu engajamento unindo pensamento e ação.

Depois de se formar em Pedagogia pela Universidade Federal do Acre (Ufac), no final da década de 80, Henrique, que já era professor da rede pública estadual, milita no Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac) e, pouco tempo depois, chega ao cargo de presidente do núcleo da entidade em Cruzeiro do Sul. Em 1996, o ativista se elege vereador pelo município.

Naquela ocasião, faz do espaço institucional uma trincheira para defender as suas bandeiras de luta, embora tenha feito uma dura oposição ao então prefeito Aluízio Bezerra: “Nunca vi alguém fazer política com tanta vontade”, disse um conterrâneo, para quem Henrique é um excepcional orador e dotado de uma formação intelectual vasta. “Com aquele mandato, fazia aquilo que ele mesmo definira como utopia concreta”, completou o observador.

Henrique voltaria ao parlamento depois, por 12 anos (2003 a 2015), para cumprir três mandatos consecutivos como deputado federal. Como congressista, defendeu bandeiras cristãs e destinou emendas parlamentares com destaque para as áreas social e educacional.

Ainda naquele mesmo período, candidatou-se a prefeito por duas vezes, perdendo sempre por uma pequena diferença de votos. “Em 2012, obtive 47% dos votos válidos”, ressaltou Henrique Afonso (PSDB), que é novamente candidato a prefeito nas eleições deste ano.

Apesar da classe política estar desacreditada, ele aborda os eleitores com uma mensagem de fé e esperança, sempre reafirmando que é possível transformar o município em um lugar próspero e com um povo feliz. “A ética não é só possível, mas necessária, mesmo porque, como bem disse São Tomás de Aquino, a política só tem um único propósito, que é servir a todos”, declarou ele.

Nesta entrevista concedida em sua casa, o candidato fala dos últimos acontecimentos políticos no município, principalmente de cooptações dos candidatos da sua coligação e, é claro, de suas propostas para administrar o município. Vejam os principais trechos:

 

Jorge Natal – Por que o senhor quer ser prefeito?

Henrique Afonso – O mandato ou a representação politica é coisa séria. Não é somente vocação em ser politico, mas é ter, sobretudo, um referencial da vida coletiva. É pensar e sonhar grande com um ideal de sociedade igualitária. É saber que quem ganha com o mandato deve sempre a sociedade e não o politico. Em se tratando de experiência política, sou o candidato que mais ocupou cargos públicos. Não sou candidato por uma questão de vaidade ou qualquer outra coisa. A prova disso é que recebi, tanto do prefeito Vagner Sales (PMDB) como do senador Gladson Cameli (PP), o convite para ser candidato pelos seus partidos. De forma respeitosa, agradeci e não quis. Não por querer ser o melhor ou que não precise deles como aliados, mas porque quero iniciar uma política nova, pautada na inversão de prioridades, na meritocracia e na justiça social. Faremos um choque de gestão, diminuindo gastos e otimizando os recursos, tornando eficiente a arrecadação e captação de novos investimentos. A médio e longo prazo, o nosso projeto preparará a gestão para obtenção de resultados baseados na qualidade e na produtividade, mediante critérios de incentivos que induzam o maior comprometimento dos atores responsáveis. Iremos investir na capacitação do servidor público e a adoção de novos modelos de parcerias público-privadas que possibilitem a oferta de melhores serviços aos cidadãos.  Eu nasci e me criei aqui. Para mim será uma honra ser prefeito de Cruzeiro do Sul que, se Deus quiser, será uma referência para a Amazônia.

 

Jorge Natal – O senhor fala em quatro pilares básicos nos quais a sua futura administração irá se sustentar. Quais são eles?

Henrique Afonso – O primeiro deles é o desenvolvimento econômico. Para tornar isso exequível, basta a gente investir naquilo que já temos em nossa região, ou seja, vamos nos desenvolver a partir das nossas próprias potencialidades. Cruzeiro do Sul é a cidade-polo do Vale do Juruá. Temos uma tradicional vocação agrícola, com destaque para a produção de farinha, banana, arroz, milho, feijão, sem contar com a fruticultura. Podemos industrializar esses produtos, ou seja, instalaremos as agroindústrias, utilizando ciência e tecnologia. E aí temos o Ifac, a Ufac, a Embrapa, o Sebrae, entre outros, que serão nossos parceiros nessa caminhada. A Suframa foi criada para investir na Amazônia Ocidental e, pelo que consta, não existe região mais ocidental do que o Vale do Juruá. Vamos envolver e articular a nossa bancada federal. Temos, ainda, um enorme potencial para o turismo. Tudo isso irá redundará na geração de emprego e renda para os cruzeirenses, principalmente na juventude, que está ávida por oportunidades. Mas desenvolvimento sem inclusão social não é desenvolvimento, apenas acumulação de riqueza. É preciso incluir as pessoas numa melhor qualidade de vida e felicidade. Nenhum país atingiu etapas de desenvolvimento sem investir maciçamente em educação. Não se pode pensar educação se não tivermos um projeto de Nação, de Estado e Município. Faltam investimentos que não são apenas prédios e 10% do PIB destinador para o setor. É preciso investir da base à universidade. Os professores que saem da academia não estão suficientemente preparados para ensinar na educação básica. Por fim, seremos um município sustentável, adotando uma série de práticas eficientes voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população, conciliando desenvolvimento econômico e preservação ambiental.  Os quatro pilares, em síntese, são o desenvolvimento econômico, a inclusão social, a educação e a sustentabilidade.

 

Jorge Natal – O Vale do Juruá é uma região estratégica. Além da fronteira, é a que concentra a maior biodiversidade do planeta. Por que as indústrias de cosméticos e fármacos não se instalam por aqui?

Henrique Afonso – Boa pergunta! Acredito que seja por conta desta visão antiga e populista que reina nos velhos políticos da região. E nem mesmo um governo dito “da floresta”, que cunhou termos importantes como “florestania”, conseguiu efetivamente estimular estas práticas sustentáveis da nova economia verde. Mas vamos perguntar às indústrias. Se a Natura possui contratos com populações extrativistas em Carauari, interior do Amazonas, por que não em Cruzeiro do Sul? Identificaremos o potencial de estímulo desta e de outras formas de exploração econômica da floresta, de forma sustentável, mas é preciso que o município compre a ideia e as instituições de apoio, de ensino e pesquisa, além do fomento de crédito, também direcionem seus esforços neste mesmo sentido. Também nos faltam melhores análises de cenários possíveis, de acesso aos mercados. Muito mais do que uma estrada, que também é importante, precisamos construir uma visão conjunta que aponte no rumo deste futuro possível e desejado, tirando o produtor rural do foco quase que exclusivo na farinha, percebendo um conjunto de outras práticas produtivas acessíveis.

 

Jorge Natal – Muito se fala em desenvolvimento sustentável, o que, na realidade, não tem passado de mera teoria. Em Cruzeiro do Sul, o assunto é bastante negligenciado pelo poder público. Quais os impactos ambientais e econômicos que podem resultar, caso as próximas administrações continuem a deixar de lado medidas para fomentar a sustentabilidade?

Henrique Afonso – Biomas como a Mata Atlântica e o Cerrado foram muito deteriorados e perderam a maior parte de suas coberturas vegetais. A Amazônia está longe de se encontrar em situação similar. Mas, se os vários municípios desta região não mudarem suas atitudes para continuarem a se desenvolver em harmonia com a natureza, estaremos rumando para perder algo de valor incalculável para a humanidade. As florestas, os rios e os animais devem ser considerados, sempre, com o avanço do progresso. A Amazônia apresenta uma importância ímpar para a manutenção do clima em escalas continentais.

Jorge Natal – Além da sua experiência, o senhor é tido como o mais bem preparado entre os prefeituráveis. Por que o senhor e o PSDB não se uniram em torno dos partidos de oposição?

Henrique Afonso – Desde que se consolidou como oposição em favor do Acre, o PSDB tem sido coerente em sua trajetória. Lançar candidaturas próprias, em alguns municípios, não significou romper com os aliados. Por sermos uma legenda ideológica, é legítimo que queiramos construir uma nova política. Dessa forma, tentamos dialogar e fazer alianças programáticas, o que acabou não acontecendo. Paciência!

 

Jorge Natal – Como o senhor avalia as cooptações de candidatos do PSDB? O que existe de verdade nisso?

Henrique Afonso – A justiça é o bem maior da humanidade. Em seu sentido restrito, é a vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros segundo a igualdade. Em seu sentido moral, é respeitar cada um a si mesmo e ao próximo. “Dar a cada um o que é seu”. Verdade, em seu sentido mais lógico, é uma adequação das pessoas à realidade. Como muito esforço, conseguimos formar uma coligação composta por nove partidos, que totalizavam 56 candidatos a vereadores. Isso despertou sentimentos nada nobres em alguns agentes políticos, que, usando de expedientes pouco republicanos, reduziram-nos para apenas dois partidos. Apesar dessa operação de desmonte, o PSDB e a Rede Sustentabilidade mantiveram a nossa força política de pé, desta feita com apenas 18 candidatos proporcionais. E assédio sobre estes, pasmem, continuou ao ponto de chegarmos a 11 guerreiros, entre eles estavam o Clebisson Freire. A história que o envolveu, juntamente com o ex-dirigente Edson de Paula e o chefe de Gabinete da prefeitura, Mário Neto, além do o prefeito Wagner Sales e do seu candidato, Ilderlei Cordeiro, já é de domínio público. O que precisa ser destacado, a meu ver, foi a heroica atitude desse jovem, que disse não a essa velha e nefasta forma de se fazer política. Mostrou que os políticos não são iguais, honrando a sua história e porque não dizer a de todos os cruzeirenses. Sua bravura, honradez e personalidade ficaram na história política do nosso município. Clebisson não estava necessitado e muito menos procurou alguém, conforme querem passar os envolvidos no escândalo. Ao contrário, da mesma forma que os demais candidatos do nosso campo, foi assediado para receber dinheiro e outras benesses. Mas o propósito dos nossos adversários, desde o início, era desmantelar a nossa chapa de vereadores. Isso é a verdade.

 

Jorge Natal – Caso seja eleito, como pretende governar em tempos de crise? Analise o atual cenário político?

Henrique Afonso – O parâmetro de conduta do gestor público é a lei. O Art. 37 da Constituição Federal, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei 8.666, que versa sobre contratos e licitações, entre outras, são mecanismos jurídicos e institucionais que dão base a uma gestão ética, eficiente e transparente. É preciso haver um diálogo permanente com toda a sociedade: a juventude, o homem do campo, associações de moradores, empresariados, instituições e todos os setores mobilizados. Dar eficiência à maquina pública a partir de uma maior presença dos cidadão nas tomadas de decisão, e no controle dos gastos da prefeitura. Vamos aproveitar o potencial econômico da região, a sabedoria do povo e as belezas naturais para transformar em atrações turísticas, gerando renda para nossa gente. Enfim, estamos numa região de grande potencial. O que precisamos é de uma administração inteligente e que tenha o compromisso com as pessoas que vivem aqui. O gestor cuidar com zelo dos recursos públicos. Dessa forma, dá pra fazer mais e melhor.

 

Jorge Natal – Como o senhor avalia a atual gestão do prefeito Vagner Sales?

Henrique Afonso – É um político profissional. E isso não é um elogio, pois acredito que a política não é uma profissão, mas uma causa, um sacerdócio. É com essa finalidade que ela deve ser exercida. Não temos mais espaço para politica clientelista, da barganha, do coronelismo, do toma lá dá cá. O enriquecimento com a política e a familiocracia são práticas que devem ser combatidas. Não faço a crítica pela critica, mas também não posso ser conivente com ausência de politicas essenciais para a sociedade. Não consigo admitir porque até hoje não existe o PROCON em Cruzeiro do Sul. Por que os alunos do IFAC e da UFAC, por exemplo, têm de pagar um preço abusivo por um transporte coletivo sem segurança e sem conforto? Tudo isso porque o transporte coletivo municipal não é regularizado. Temos uma gestão que não prioriza o saneamento básico, nem a destinação adequada dos resíduos sólidos. Apesar da beleza natural, que lhe é peculiar, Cruzeiro do Sul é poluída sonora e visualmente. Precisamos de uma gestão moderna, que utilize os novos mecanismos da tecnologia de informação e comunicação para garantir uma maior participação da população na gestão do município, de maneira que o prefeito não seja mais o patrão, mas fiel servidor dos anseios do povo.

 

Jorge Natal – É possível conciliar ética e política?

Henrique Afonso – Não só é possível como necessário. Imprescindível, diria. Os valores estão invertidos ao ponto de a ética ser vista como uma virtude. E não é. Penso que ética deve ser um valor permanente e inegociável na vida do indivíduo, não só do homem publico, mas, sobretudo, porque ele está lidando com o que é publico e o que é pulico é de todos. Tem uma máxima que eu costumo repetir que é a seguinte: se os homens de bem não se manifestarem, os maus intencionados irão tomar conta da política. A política só é realmente possível e somente trará os resultados que se espera dela, se for protagonizada por homens e mulheres desapegadas do poder, com forte propósito de contribuição temporária no exercício de governar. Ainda estamos muito longe disso. Na nossa região, a ética na política sempre esteve muito mais próxima do “se servir” do que do “servir”. Este é um elemento fundamental para uma ética política consistente e promissora. E um caminho a ser percorrido, sobretudo, hoje, com uma maior participação e controle do cidadão sobre os atos dos governantes. Defendo a transparência nas contas públicas e, através da cobrança, o olhar atento do cidadão. Somente assim, o político aprenderá a se comportar com ética na política.

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