Ao contrário de Kyoto, Conferência de Paris não terá posições “de cima para baixo”, avalia Goldemberg

Acompanhe - 23/11/2015

IMG_6660 (1)Ao comentar a palestra do presidente Fernando Henrique Cardoso, no Seminário “Caminhos para o Brasil – Meio Ambiente e Sustentabilidade”, o ex-ministro do Meio Ambiente, José Goldemberg, disse que a luta pela redução das emissões de carbono teve três momentos importantes: as conferências do Rio de Janeiro (1992), de Kyoto (1997) e agora, a de Paris (dezembro de 2015).

“No Rio, foi a primeira vez em houve o reconhecimento do aquecimento global como um dos graves problemas que os países teriam de enfrentar. E ficou evidente que, para conseguirmos a redução das emissões de carbono, seria preciso um acordo entre todos, inclusive a China que ainda era um emissor modesto, mas que já dava sinais de que um emissor importante no futuro”, lembrou.

“Já em Kyoto, a posição do Brasil foi menos agressiva, pois ficamos presos a um sistema que dividiu o mundo entre os paises que precisavam reduzir as emissões de carbono (OECD) e os demais. O Protocolo de Kyoto foi uma decisão de cima para baixo e muitos não estavam de acordo. Os Estados Unidos não aderiram, apenas a União Européia. A China sempre se opôs e foi, de maneira pouco sábia, acompanhada pelo Brasil”, disse, ressaltando a explosão de crescimento da China desde então.

Segundo Goldemberg, na Conferência de Paris não haverá ações “de cima para baixo”, porque todos os países estão apresentando suas contribuições – os INDC (Intended Nationally Determined Contributions). “Essas contribuições, efetivamente, vão levar a uma redução das emissões”, confirmou.

O ex-ministro afirmou ainda que, apesar da redução do desmatamento, a partir de 2005, outras emissões estão crescendo no Brasil – vindas, sobretudo, do setor elétrico e de transporte. “Os desacertos do governo são intoleráveis. Algo muito prejudicial, por exemplo, foi o abandono do programa de etanol”, citou. “Precisamos adotar no Brasil algo semelhante ao que foi feito nos Estados Unidos, que consideram o CO2 um poluente regular. Assim, as emissões poderiam ser controladas pelo Ibama, e os automóveis emitiriam menos carbono”, sugeriu. “Outro ação importante está sendo adotada pelo Governo de São Paulo, com a promoção de protocolos que estão sendo assinados voluntariamente pelas indústrias” , concluiu.

“Engano favorável” no Código Florestal
Também comentando a palestra do ex-presidente Fernando Henrique, o engenheiro ambientalista Israel Klabin destacou que houve um “engano favorável” na elaboração do Código Florestal hoje em vigor: a criação do CAR (Cadastro Ambiental Rural), que permitirá que todos os municípios do Brasil, em suas propriedades privadas, possam recuperar 20% de suas áreas nativas. “Neste desastre da Samarco, foi possível constatar que, entre os mais de 20 municípios da Bacia do Rio Doce, apenas dois ou três tem área florestada conforme previsto na lei”, disse.

Klabin destacou ainda alguns avanços no INDC do Brasil: redução das emissões em 37% até 2025 e de 43% até 2030; recuperação de 15 milhões de hectares desmatados; e a garantia de que a matriz energética terá 45% de fonte renováveis. “Não é preciso apenas mitigar o uso de carbono. Estamos na idade da adaptação. Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento”, concluiu.

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23/11/2015