“A amizade cívica e a concórdia política”, artigo de Wambert Di Lorenzo
Artigo de Wambert Di Lorenzo, candidato do PSDB à prefeitura de Porto Alegre em 2012
Artigo de Wambert Di Lorenzo, candidato do PSDB à prefeitura de Porto Alegre em 2012
A cidade nasce da diversidade. Ela resulta da transformação da (pequena e simples) comunidade hegemônica da aldeia na (grande e complexa) sociedade plural dos interesses diversos. Tida pelos gregos como sociedade perfeita, nela se encontram os bens necessários à existência e à realização da felicidade de cada um. A cidade é a mãe da política, seja ela uma atividade, uma relação ou um ambiente. Esse ambiente, plural por natureza, do qual a cidade resulta é, desde os romanos, chamado de público e se contrapõe aos ambientes privados onde, em geral, impera a hegemonia.
A base profunda da cidade é um tipo de relação discreta que passa desapercebida, mas que gera a rede de conexões que a mantém viva: a amizade cívica.
Há quem pense que a política seja constituída do antagonismo entre amizade e inimizade, que a discordância e a oposição sejam fins em si mesmas e não meios necessários para expressar visões distintas sobre o bem comum e o amor de cada um pela cidade. É uma visão distorcida da política e do seu fim último que não é mostrar que esta ou aquela facção é dona da verdade, mas realizar o bem comum.
Esse bem comum é o objeto da fé cívica, uma fé laica promotora da unidade e da concórdia política, que crê em um ente real e que não busca um bem absoluto, mas um bem prático. É essa fé que constitui a amizade cívica que ocorre nos vários graus de intensidade a partir dos fins próprios de cada grupo social, restando para a política conduzir estes interesses particulares a um fim último comum. Assim, a tarefa propriamente política é a unidade e a concórdia da cidade. Sem um bem comum a cidade se dissolve na discórdia.
Essa amizade cívica, a qual excede ao privado e tem relevância pública, foi chamada pelos gregos de homonoia (concórdia). Ela é o acordo que envolve o empenho de todos na realização do bem comum.
Só os que amam a cidade são capazes de superar as diferenças e se unir em torno dela para o bem de todos que nela vivem.
Assim, para realizar seus fins, a cidade exige unidade em torno da fé cívica no bem comum, liberdade no pluralismo para discordar e se opor e, em tudo, amizade cívica e concórdia política para que ela seja um lugar de paz, prosperidade e realização da felicidade de todos e da cada um.
Quem é contra o bem comum, o pluralismo e a concórdia, é contra a cidade.