“A necessidade do contraditório”, por Marcello Richa

Artigos - 03/08/2016

Presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná, Marcello Richa (1)Existe um provérbio popular que afirma que “política não se discute”. Difícil dizer quando que isso surgiu, mas considerando a história da nossa política, é fácil entender o motivo de muitos acreditarem na veracidade dessa frase. Não é de hoje que algumas militâncias partidárias adotaram o confronto, ao invés do entendimento, como meio para alcançar seus objetivos.

A prática constante desse comportamento ampliou a repulsa pelo debate de opiniões contrárias, elemento fundamental para o desenvolvimento de novos conceitos, projetos e planejamento. Todos perdem com isso, pois a comunicação é essencial para a política e a pluralidade de ideias, conceitos, crenças e ideologias enriquecem o diálogo, agregam conhecimento e permitem análises mais profundas sobre diferentes temas.

Ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançarmos o debate em sua plenitude e tivemos um exemplo prático disso nesse domingo (31), durante manifestação a favor da saída definitiva de Dilma Rousseff da presidência realizada em Curitiba, quando a atriz Letícia Sabatella, reconhecidamente uma defensora do PT, foi ofendida pelos manifestantes. Um cenário de erros formado por quem buscou constrangê-la, uma vez que jamais devemos perder a civilidade para expor um ponto de vista, e pela própria atriz, que agiu como uma agente provocadora.

Apesar de afirmar que estava no local a passeio, é difícil acreditar que uma pessoa que defende de maneira tão aguerrida a gestão petista não soubesse que haveria manifestação contra Dilma naquele horário e, por ser uma figura pública, que sua presença causaria reações. Provavelmente optou emaparecer lá para provocar, ser ofendida e tirar o foco do debate político – a tática do confronto, muito utilizada pelos adeptos do lulopetismo e que só interessa para aqueles que buscam a promoção da intolerância e divisão entre os brasileiros.

Infelizmente vivemos em uma época de decepção com a política e a população está, com diversos e justos motivos, impaciente para lidar com militantes partidários. Ainda assim, é importante lembrar que naturalmente apenas os argumentos embasados, juridicamente corretos e realistas se sustentam e, ao alimentarmos esse debate, fortalecemos nossas instituições e eliminamos qualquer ação de pessoas que buscam provocar conflitos para se aproveitar da reação.

A democracia necessita do contraditório, da discussão e da análise constante, mas para isso acontecer precisamos nos livrar de velhos vícios da nossa política, como a utilização do confronto como forma de alcançar objetivos, e nos focarmos no debate construtivo. Opiniões divergentes, quando apresentadas com respeito e civilidade, são essenciais para construir propostas e políticas públicas abrangentes e que contemplem toda a sociedade.

*Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)

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03/08/2016