“A rainha está nua”, por Alberto Goldman
“Folha de São Paulo” publicou hoje uma matéria intitulada “Indicador defasado ‘esconde’ 22 milhões de miseráveis do país”, que é um retrato nu e cru da propaganda Dilmista. Segundo ela hoje o Brasil, praticamente, já não tem mais brasileiros classificados como miseráveis.
Desde ao menos junho de 2011 o governo usa o valor de R$ 70 como “linha de miséria” –ganho mensal per capita abaixo do qual a pessoa é considerada extremamente pobre. Ele foi estabelecido, com base em recomendação do Banco Mundial, como principal parâmetro da iniciativa de Dilma para cumprir sua maior promessa de campanha: erradicar a miséria no país até o ano que vem, quando tentará a reeleição. Eis aí a razão da presidente: é parte de sua campanha eleitoral.
Diz a matéria: o número de miseráveis reconhecidos em cadastro pelo governo subiria de zero para ao menos 22,3 milhões caso a renda usada oficialmente para definir a indigência fosse corrigida pela inflação. Ou 27,3 milhões caso se use outro parâmetro como mostrado no gráfico abaixo.
Como são mais de 71 milhões de beneficiários de programas sociais os números acima representam mais de 1/3 que continuam “miseráveis”.
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Mesmo criticada à época por ser baixa, a linha nunca foi reajustada, apesar do aumento da inflação. Desde o estabelecimento por Dilma da linha até março deste ano, os preços subiram em média 10,8% –2,5% só em 2013, de acordo com o índice de inflação oficial, o IPCA.
Corrigidos, os R$ 70 de junho de 2011 equivalem a R$ 77,56 hoje. No Cadastro Único, 22,3 milhões de pessoas, mesmo somando seus ganhos pessoais e as transferências do Estado (como o Bolsa Família), têm menos do que esse valor à disposição a cada mês, calculou o governo após pedido da Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.
Esse número corresponde a mais de 10% da população brasileira e é praticamente a mesma quantidade de pessoas que tinham menos de R$ 70 mensais antes de Dilma se tornar presidente e que ela, com seis mudanças no Bolsa Família, fez com que ganhassem acima desse valor.