“A valiosa contribuição negra brasileira”, por Juvenal Araújo

Artigos - 19/12/2020

Estamos vivenciando um inédito e significativo aumento do debate das relações raciais em nosso país. E isso é muito bom, muito positivo, porque nos traz a importância de uma argumentação em nível nacional da contextualização da diversidade de raça no Brasil, apesar da ostensiva negação do racismo.

Na TV, a noite de 17/12 foi memorável em razão das representações artísticas que deram mais uma sólida contribuição para a construção da virtuosidade negra e periférica. A participação e a vitória de participantes negros em realitys como The Voice, Big Brother Brasil e A Fazenda promovem e ampliam ações inclusivas e políticas afirmativas para a redução das desigualdades raciais.

Isso nos remonta à perspectiva do íntegro e adequado cumprimento da legislação existente, bem como o aumento dos processos de reconhecimento e autodeclaração da população negra no país. Nos reconhecer é o primeiro passo para a construção de nossa identidade.

Atualmente no Brasil, o livro no ranking dos mais vendidos é de uma mulher preta filósofa, Djamila Ribeiro, com seu “Pequeno Manual Antirracista”. O especial Falas Negras, que reuniu 22 depoimentos de atores interpretando nomes conhecidos na luta contra o racismo, exibido no Dia da Consciência Negra, foi dirigido pelo ator e escritor Lázaro Ramos. A ex-empregada doméstica Mirtes Souza usou a dor para se motivar a um novo estímulo: se tornar advogada e mais um recurso na luta contra as injustiças. O trabalho ágil e preciso da biomédica negra e nordestina Jaqueline Goés de Jesus, que coordenou a equipe que sequenciou o genoma do vírus da Covid-19 em tempo recorde. Essas são algumas das boas práticas inspiradoras que cooperam na construção de um país mais justo e igualitário.

É inegável nossa contribuição na literatura, ciência, arte, cultura, medicina, religião, esporte, entre tantas outras áreas do conhecimento. Negros em posição de poder promovem o fortalecimento de uma agenda antirracista e acolhem com generosidade o percurso histórico de todas essas contribuições.

O país se vê levado a compreender a necessidade de uma reestruturação para refletir os erros insidiosos perpetuados por mais de um século de escravização contra mentes e corpos pretos, que ordena o cancelamento e a violência sistemática contra a população negra. Precisamos nos organizar para nós mesmos. Traçar planos. Estabelecer nossas próprias regras com mais autonomia, efetivação de direitos e afirmação de nossa verdadeira história.

É patente que a opinião pública deve se curvar às manifestações antirracistas até que se tornem convenções, para além de atos de ojeriza e abominação do racismo. Uma nova diretriz para tratar modelos de socialização que autentiquem a importância dessas representatividades e de suas emancipações sociais.

Para além das personalidades que contribuíram e continuam acrescendo na constituição enegrecida, pacificadora e positiva do nosso país, somos milhões que juntos nos compreendemos capazes de ascender e rememorar todos os esforços de nossos antepassados para que ocupássemos dignamente todos os espaços hoje. Sem estereótipos, apropriações ou discriminações, mas sim com a alegria, competência e resistência de ser negro onde quisermos e merecemos estar.

Ubuntu!

(*) Presidente de Honra do Tucanafro, secretário de Direitos Humanos do Distrito Federal

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19/12/2020