“A verdadeira face do PT: uma declaração de guerra”, por Alberto Goldman
* Artigo de Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB
Logo após a aceitação pelo Senado do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o Diretório Nacional do PT apresentou a sua “Resolução Sobre Conjuntura”. Nessa resolução a admissibilidade do processo contra a presidente é apresentada como uma “manobra” para “a recuperação da direção do Estado pelas velhas oligarquias da política, da mídia monopolizada e do grande capital”, através de um “golpe parlamentar que rompeu a ordem democrática e rasgou a Constituição” promovido pelas “classes dominantes”, e “representa o desfecho de uma ofensiva planificada”… “destinada a conduzir um amplo programa de reorganização do desenvolvimento capitalista nacional.”
Segundo o documento o “golpe” foi dado em nome da “cartilha neoliberal”: “arrocho de salários e aposentadorias, eliminação de garantias trabalhistas, corte de gastos com programas sociais, anulação das vinculações constitucionais em saúde e educação, privatização de empresas estatais e abdicação da soberania sobre o pré-sal, e submissão do país aos interesses das grandes corporações financeiras internacionais. “
O documento nos faz lembrar os textos do antigo partido comunista da década de 1950 e dos partidos mais radicais da atualidade, dos movimentos dissidentes que foram à luta armada na década de 60, e dos grupos petistas no início de sua vida política com uma visão dogmática.
Segundo a Resolução Dilma era “o obstáculo a ser removido (na visão dos ‘golpistas’) de forma imediata e a qualquer custo, indispensável para a criminalização do PT, a desarticulação repressiva dos movimentos sociais e a interdição do ex-presidente Lula como alternativa viável nas eleições de 2018.” Tem a coragem de afirmar que “a operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista.” Segundo o PT a operação lava jato “revela o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal – delegados, procuradores e juízes – com o campo reacionário.,,”.
Esse discurso completamente dissociado da realidade, sem qualquer fundamento nos fatos, usado apenas como instrumento de defesa do partido em flagrante processo de desmoronamento, vai além. Acusa a tentativa de “desestabilizar as demais experiências progressistas na América Latina para reconstruir a hegemonia imperialista sobre a região” e “para atender as prioridades da geopolítica norte americana sob a lógica de retomar o controle sobre fontes essenciais de matérias primas e energia…”, para fragilizar as alianças regionais “progressistas” e influir na evolução dos BRICS…
Nada mais ultrapassado e irreal. Parece a volta ao passado dogmático que destruiu os sonhos de milhões de pessoas que acreditaram ser possível, através das ditaduras do proletariado, construir um novo mundo.
O resumo do documento não é uma auto crítica quanto aos erros cometidos que levaram à repulsa da sociedade. Segundo a resolução o erro foi não terem sido levadas adiante as posições dogmáticas que, por décadas, foram defendidas pelas auto denominadas “esquerdas”.
Quando a resolução fala em “equívoco” do governo é para se referir a terem “relegado tarefas fundamentais como a reforma política, a reforma tributária e a democratização dos meios de comunicação”, sem explicitar quais seriam as medidas concretas necessárias.
O extremo dessa visão totalitária é o trecho em que proclama que haveria a necessidade de “reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, modificar os currículos das academias militares e promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista, bem como fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
Lá adiante a resolução admite que “terminamos envolvidos em práticas dos partidos políticos tradicionais, o que afetou negativamente a nossa imagem e abriu flancos para ataques de aparatos judiciais controlados pela direita.”
No plano da análise da política econômica a resolução não reconhece a responsabilidade da política de governo – mais uma vez a culpa é da crise internacional – pela crise em que vivemos. Pelo contrário lamenta que ela não tenha se radicalizado “com a tributação dos mais ricos e desmontagem do oligopólio dos bancos, com um novo ciclo programático para possibilitar a ampliação dos investimentos e a expansão do mercado interno”. Dilma no segundo mandato teria optado por “aceitar a agenda do grande capital” e adotado “medidas de austeridade sobre o setor público, os direitos sociais e a demanda, ao invés de acelerar o programa distributivista como havia defendido na campanha eleitoral”. Isso é, a crise se dá pela tentativa do ajuste fiscal, “gerando confusão e desânimo entre os trabalhadores”, o que teria fragilizado o PT e o governo.
Finalmente o documento indica que “o centro tático para este novo período ( pós aceitação do processo de impeachment pelo Senado) – sob a palavra de ordem ‘Não ao golpe, fora Temer’ – deve ser a derrocada do governo ilegítimo…impedir a sua consolidação no comando do Estado”. Contra ele “não há oposição moderada ou conciliação possível’.
Como se verifica, uma declaração de guerra dos verdadeiros cultores do golpe. A confissão de que o compromisso com a Democracia não passa de discurso tático. De que o interesse público não está na mira do partido. A reafirmação de que, em nome do poder, podem fazer o diabo, como disse a própria Dilma durante a campanha eleitoral.
Não vamos nos intimidar. Vamos enfrenta-los com os instrumentos que a Democracia nos concede e mobilizar o povo brasileiro contra os grupelhos que sabem fazer barulho mas que não representam a alma e a consciência do nosso povo.