“A voz rouca das ruas”, por Ademar Traiano

Artigos - 15/02/2017

14962777_1200911780003652_7975577084715802978_nA ideia que o afastamento definitivo de Dilma Rousseff e a implosão do PT nas urnas, em 2016, silenciou os movimentos de rua, que tiveram papel determinante no impeachment, pode estar errada.

A demora das reformas econômicas de Michel Temer, em produzir resultados que representem crescimento e geração de emprego; a percepção que a Operação Lava Jato está ameaçada; a crítica a impunidade, que continuaria a existir, começam a produzir uma agenda que pode levar, de novo, o povo às ruas.

Não existe, ainda, uma agenda unificada, além da defesa da Lava Jato e o fim da impunidade. Defender a Lava Jato e combater a impunidade é a linha do movimento paranaense Mais Brasil Eu Acredito. Já o mote um dos grandes movimentos de rua, o MBL, alia a defesa da Lava Jato com a revogação do Estatuto do Desarmamento.

A tese é muito polêmica, mas encontra eco em setores significativos da sociedade. Parte do princípio que o Estado demonstra ser incapaz de prover segurança ao cidadão, mas, ao mesmo tempo, impede que esse mesmo cidadão se arme para a autodefesa. Existem teses ainda mais polêmicas, na periferia dos movimentos sociais, como a da volta dos militares.

A primeira manifestação dessa era pós-PT já tem data marcada. Se forem grandes manifestações, podem influenciar os rumos das reformas em curso, a condução da economia e da política do governo federal.

Desde as gigantescas manifestações de 2013 o mundo político presta bastante atenção aos protestos populares. Por não ter sido suficientemente atenta, Dilma Rousseff teve de trocar o Palácio da Alvorada por um apartamento em Porto Alegre.

Mais habilidoso, e menos prepotente que a antecessora, Michel Temer deve ficar muito mais atento àquilo que Ulysses Guimarães apelidou de “voz rouca das ruas”.

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15/02/2017