“Agregar valor”, por Antonio Anastasia
Diante das dificuldades, muitos optam por lamuriar, imputar a outros culpas pelos seus próprios fracassos. E, para justificar, mentem e omitem fatos. Outros, identificando os desafios, preferem trabalhar, lutar para que a realidade seja diferente. É o que temos buscado fazer no Brasil, assim como fizemos em Minas Gerais. Trabalhar ao invés de reclamar.
Tradicionalmente, nosso Estado sempre teve sua economia muito atrelada às commodities, fruto da história de nossa colonização e das nossas riquezas naturais. Explorar de forma ambientalmente sustentável essas riquezas não é a dificuldade principal. O problema é, na maioria das vezes, não conseguirmos beneficiá-las de modo a que valham mais, continuando a exportar apenas os materiais in natura.
Essa sempre foi uma das minha das minhas grandes preocupações. Precisamos agregar valor aos nossos produtos. O Brasil é, por exemplo, o maior exportador de café do mundo. Cinquenta por cento de todo o café mundial é produzido no nosso País e metade disso provém de fazendas mineiras. Ou seja, um quarto de todo o café do mundo é de Minas Gerais. Mas a maior parte desse produto sai em grãos do Brasil. Não é sequer processado.
No interior, o café movimenta a economia de cidades inteiras, da plantação, manutenção e colheita, ao transporte. Mas poderíamos dar um passo ainda maior. E foi com esse propósito que, enquanto governador, em 2011, procuramos a Nestlé, para que pudéssemos produzir em nosso Estado as cápsulas de café famosas em todo o mundo. Uma saca custa proporcionalmente muito menos do que o café em cápsula. E, depois de muito esforço, ao final do ano passado, a fábrica começou sua produção em Montes Claros, a primeira desse tipo fora da Europa.
A mineração é um outro caso emblemático. De alguma forma, Minas já possui uma cadeia produtiva nesse setor. Além da exploração, nosso Estado possui siderúrgicas – que agora devem receber a devida atenção por parte dos governos –, e indústrias importantes que aproveitam o aço, como a automobilística. Entretanto, podemos avançar mais. Foi com esse intuito que apoiamos a expansão da fábrica de helicópteros da Helibras, que atraímos empresas como a Panasonic, a fábrica de locomotivas da Caterpillar e a de blindados da Iveco, que agora passa por dificuldades por questões envolvendo o Governo Federal. E tantas e tantas outras.
Mas, talvez a que mais representou todo o nosso esforço em diversificar a nossa indústria, em agregar valor aos nossos produtos e em iniciar uma nova economia de tecnologia e inovação em Minas Gerais, tenha sido a fábrica de semicondutores da Unitec, em Ribeirão das Neves. Nesta semana, ao abrir os jornais, vi a notícia de que a empresa vai começar a produzir no próximo ano, e já iniciou a contratação de funcionários. Serão 500 novas oportunidades de trabalho.
Tudo isso em um momento de dificuldades pelo qual passa o Brasil. Lembro desses fatos porque esse esforço em industrializar nosso Estado deve ser permanente. Precisamos mais e mais diversificar, criar alternativas, agregar valor, tecnologia, inovação. Temos capacidade e capital humano. Temos necessidade. Esse é o caminho. Esse é o futuro.