“As conquistas das mulheres rumo ao empoderamento”, artigo de Solange Jurema

Acompanhe - 08/03/2013

solange jurema foto George Gianni PSDBArtigo de Solange Jurema, inistra da Secretaria Nacional de Políticas Públicas para Mulheres no governo FHC

O século XX ficará conhecido como o século das mulheres na história da humanidade. Foi o século em que as mulheres se organizaram como sujeito político e começaram questionar os conceitos, preconceitos e as relações humanas. Conquistamos o direito de votar e de decidir sobre nosso próprio corpo, tivemos acesso ao mercado de trabalho, elegemos as primeiras deputadas, vereadoras, senadoras. Conquistamos uma legislação mais igualitária e menos discriminatória e leis específicas sobre a violência contra a mulher, como a lei Maria da Penha.

E hoje, qual a situação da mulher no século XXI? Estamos de fato empoderadas? Podemos dizer que conquistamos a igualdade? Sem dúvida, nossas conquistas foram muitas e importantes. Temos uma mulher presidente da República. Temos desembargadoras, ministras, senadoras, deputadas. Mas o Brasil ainda ocupa 82ª posição no ranking da desigualdade de gênero, elaborado pelo Fórum da Economia Mundial, atrás de países como Albânia, Vietnã e República Dominicana.

A má colocação se deve à diferença salarial entre homens e mulheres que exercem o mesmo cargo, e, pior ainda é a situação nos cargos de poder. Ou seja, proporcionalmente temos muito poucas mulheres parlamentares, ministras e em cargos de alto escalão.

Apesar disso, somos 49% da força produtiva. Nos últimos dez anos, a proporção de mulheres que trabalham fora de casa passou de 35% para 45%.

No campo educacional, as mulheres já são mais instruídas do que os homens. Entre as que trabalham, elas têm, em média, 11 anos de estudo, contra nove dos homens. E 19% das mulheres já têm nível de educação superior, contra 11% dos homens. Somos maioria nos programas de mestrado e doutorado. Entre 2000 e 2010, as mulheres dobraram sua participação em cargos de chefia, gerência, diretoria e presidência.

Tudo parece muito bom. Mas, e o preço que as mulheres estão pagando por terem entrado no mundo do trabalho e do poder, com regras previstas para homens, sem fazerem qualquer tipo de negociação? A grande maioria das que trabalham tem que conciliar o papel de funcionárias com o de mães, esposas, donas de casa, cuidadoras de idosos e deficientes e, o mais recente, “gostosonas de academia”.

Elas gastam em média 50 horas por semana – contando o tempo de deslocamento – no trabalho e, em média, 22 horas adicionais nos serviços domésticos, enquanto os homens gastam dez horas. A maioria das trabalhadoras se levanta às cinco horas da manhã e dorme à meia-noite, tentando harmonizar seus diversos papéis.

Isso tudo não é novidade. Ocorre que essa sobrecarga tem se agravado em decorrência da crescente dificuldade para contar com o apoio das empregadas domésticas; do esvaziamento das famílias extensas em que avós, tias, entre outros, ajudavam a criar os filhos e a cuidar da casa; e da ausência de políticas públicas que atendam à nova realidade.

A verdade é que a intensificação do trabalho tem afetado o comportamento das mulheres, sua saúde física e mental, a estrutura da família e os índices de população. As mulheres, hoje, não querem e não podem ter muitos filhos. Em 1990 nasciam três filhos por mulher. Hoje, esse número é de 1,8, com tendência cadente.

A redução da prole é uma imposição da nova realidade do trabalho e uma consequência da melhoria da educação no Brasil. Por outro lado, as mulheres estão no limite do estresse, enfartando, tendo crises de depressão, e outras tantas enfermidades decorrentes da exaustão.

Para chegar a um equilíbrio entre trabalho e família temos grandes desafios: os homens terão que colaborar muito mais nas tarefas domésticas; os governos precisarão adotar políticas sociais mais eficientes, como, por exemplo, escolas e creches em horário integral, saúde pública que funcione, transporte urbano eficiente e políticas de atendimento aos idosos.

Não queremos com isso dizer que a responsabilidade pelas mudanças cai tão somente no colo dos homens e dos governos. Não podemos nos esquecer que somos as principais responsáveis pela educação e pelo repasse de valores culturais que podem criar homens mais solidários e governos mais éticos e responsáveis.

O Brasil, necessariamente, terá que se adequar à nova realidade mundial e aos novos tempos. E nós, mulheres, continuaremos nossa revolução pacífica, lutando por um mundo melhor para nossos filhos e filhas, netos e netas.

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08/03/2013