“BNDES: Hobin Hood às avessas”, artigo do senador Alvaro Dias

Acompanhe - 24/01/2013

* Artigo de Alvaro Dias (PR), líder do PSDB no Senado, publicado na edição de janeiro da Revista Voto

Alvaro Dias foto George GianniAplausos ao Ministério Público Federal pela iniciativa da ação impetrada contra o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por falta de transparência em suas operações.

Desde os idos de 2005, ocupo a tribuna do Senado para contestar a política adotada pelo BNDES no tocante à transferência de recursos, especialmente para o exterior, a grandes empreiteiras de obras públicas, que têm gerado empregos em outros países e reduzido as oportunidades de trabalho no nosso País. Todas as tentativas de abrir essa caixa-preta foram infrutíferas. A instalação de uma CPI não prosperou. Os expedientes encaminhados ao TCU, solicitando auditorias, foram frustrados. O pedido de informações formulado ao próprio Banco cobrando esclarecimentos sobre a utilização dos recursos públicos aplicados, a nosso ver, na contramão dos princípios que inspiraram a criação dessa instituição financeira, não logrou êxito. A resistência em prestar informações pormenorizadas dos negócios realizados é uma mácula a ser removida.

Mas agora a nossa luta pela transparência recebeu importante e qualificada adesão. O Ministério Público solicitou especificamente “detalhes e justificativas sobre os dez maiores projetos de financiamento concretizados, quais deixaram de ser aprovados e por que motivos.” O mote da ação cível pública é a exigência de que banco torne públicas as informações sobre todos os financiamentos concedidos a empresas e entidades públicas nos últimos dez anos e daqui em diante, incluindo qualquer tipo de apoio a programas, projetos, obras e serviços que envolvam recursos públicos.

Um exemplo apenas para ilustrar as distorções. Segundo dados coletados pela rede britânica BBC em Angola, “desde 2006, o BNDES ofereceu US$ 3,2 bilhões (R$ 6,4 bilhões) em empréstimos a companhias brasileiras em Angola.” É revelador saber que, com o apoio do BNDES e de políticos locais, uma empreiteira brasileira tenha edificado um império naquela nação africana.

São recursos oriundos do Tesouro Nacional, basicamente do FGTS e do FAT, recursos dos trabalhadores brasileiros, que recebem uma remuneração inadequada e que são direcionados para favorecer grandes empreiteiras no exterior.

É um cenário de inversão de valores e prioridades, no qual o Governo se torna um Hobin Hood às avessas, tirando dos pobres para entregar aos ricos. Esperamos que a denúncia inspire a presidente da República a adotar medidas que redirecionem os recursos do BNDES em favor do povo brasileiro.

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24/01/2013