“Césio 137: 25 anos”, por Lúcia Vânia
Artigo da senadora Lúcia Vânia publicado na edição desta quinta-feira (13) de O Popular
A Presidente da República sancionou, na semana passada, a Lei nº 12.646/2011, que instituiu o Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas. A data será comemorada, anualmente, no dia 13 de setembro.
Na sua justificativa o relator, senador Antônio Carlos Valadares, cita, em primeiro lugar, o acidente com a cápsula do Césio 137, em Goiânia, ocorrido há exatos 25 anos, no dia 13 de setembro de 1987. É considerado o maior acidente radioativo do Brasil e um dos maiores do mundo, tendo atingido mais de uma centena de pessoas, levando quatro delas à morte.
Naquela oportunidade, um velho aparelho de radioterapia, aparentemente abandonado no ferro velho, foi indevidamente aberto, com 19 gramas de um elemento altamente radioativo, o Césio 137, transformando-se numa verdadeira bomba. Certamente ocorreu uma ignorância dos responsáveis, aliada à ausência de educação da população sobre os riscos da radioatividade.
O relator do Projeto que deu origem à lei argumenta, ainda, que além de representar um apoio e um reconhecimento aos direitos das vítimas de radiações, a instituição da data é um meio de conscientizar a população e evitar que novos acidentes venham a acontecer.
No ano passado a Comissão de Infraestrutura do Senado, que presido, discutiu, aprofundadamente, em audiências públicas, a questão do uso da energia nuclear.
Vivíamos, na oportunidade, o impacto do acidente na Usina de Fukushima, no Japão, trazendo à opinião pública a necessidade de cuidados permanentes e rigorosos no uso da energia nuclear, de modo a que sejam tomadas precauções mesmo contra eventos mais ou menos improváveis, como foi o tusumani que atingiu aquela região.
Não foram poucos os que passaram a defender a desativação das usinas atômicas, alegando a impossibilidade de se prever todos os riscos envolvidos em sua operação.
Que as precauções devem ser tomadas não há dúvida. Entretanto, até os menores aparelhos de raios X contêm fontes radioativas que representam sérios riscos para aqueles que os manipulam ou que possam, simples e inadvertidamente, entrar em contato com essas fontes. Isto é tão verdade, quanto demonstram os tristes acontecimentos que ocorreram em Goiânia.
O acidente com o césio 137 , como exemplo que é tomado, tem características que o tornam singular, em termos da responsabilização: a ocorrência se deu em função de descaso de uma instituição privada, o Instituto Goiano de Radioterapia – o IGR, que se situava na região central de Goiânia; mas, ao mesmo tempo, temos que considerar o papel do Estado, pois a situação envolveu uma patente ausência de fiscalização e gerência do poder público, tanto Estadual quanto Federal.
Foram múltiplos os fatores que convergiram para que o acidente ocorresse: a necessidade de sobrevivência dos catadores de sucata na rua, que não conseguiram nem identificar os símbolos radioativos, com os seus riscos; destaque-se a irresponsabilidade dos proprietários, ao deixarem abandonada uma peça de tão alto risco; por fim, a ineficácia fiscalizadora dos órgãos estaduais e federais.
São lições que nos ficam e já é um benefício que teremos na primeira comemoração do Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas.