“De chapéu na mão”, por Samuel Moreira

Acompanhe - 14/10/2015

samuel moreira foto Agencia CamaraO funcionamento de um país se dá, entre outras coisas, por meio do pagamento de impostos. Aqui no Brasil, os valores pagos pelo cidadão são muito altos. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), cada brasileiro trabalha cerca de cinco meses do ano para manter em dia uma enorme lista de impostos.

Uma das coisas que todos esperam em contrapartida é que parte desses valores pagos voltem para as pessoas em forma de serviços públicos de qualidade. A oferta desses serviços é de responsabilidade da gestão local. Mas, infelizmente, a tarefa está longe de ser executada nos padrões que os brasileiros querem e merecem.

E para que o país comece o processo de mudanças e avanços nas áreas de mobilidade, saúde, educação, segurança e tantos outros que poderíamos citar, é necessária uma reforma fiscal. Uma revisão no Pacto Federativo.

O Pacto Federativo foi um acordo firmado entre União e estados federados, que estabeleceu funções, direitos e deveres. Na Constituição de 1967, cidades não faziam parte deste acerto. Mas, com a Constituição de 88, o pacto evoluiu e tornou municípios entes federados, introduzindo-os na divisão das receitas dos impostos arrecadados. Só que um ponto essencial do acordo, a distribuição e a divisão dos recursos arrecadados, foi se deteriorando.

Apesar da maior parte dos serviços públicos serem de responsabilidade das administrações municipais, cerca de 60% dos impostos arrecadados ficam com o Governo Federal, que pouco colabora com os governos estaduais (que recebem cerca de 25%) e prefeituras (que têm a menor fatia, 15%). A divisão da execução dos serviços públicos é inversamente proporcional à divisão das receitas.

É importante ter administradores públicos de excelência, mas precisamos também de recursos que financiem adequadamente a prestação de cada serviço público, e que garantam investimentos para a melhoria e a ampliação desses serviços.

É por isso que prefeitos e governadores ficam de chapéu na mão, fazendo fila em Brasília em busca da ajuda do Governo Federal, muitos sem autonomia financeira para suprir as demandas dos cidadãos. O fato é que não se trata de um pedido corporativo da classe política, mas de um direito dos cidadãos. Unir forças para garantir investimentos em obras e serviços públicos para a população é importante, mas rever a divisão de recursos é fundamental.

Além de rever a distribuição dos recursos, é preciso introduzir indicadores que meçam a qualidade dos serviços públicos, bem como definir claramente o ente federativo responsável pela execução de cada atribuição. Precisamos evoluir para uma boa aplicação e gestão dos recursos.

A União vem se afastando do financiamento dos serviços, enquanto que as demandas aumentam de forma acelerada nas cidades. Na saúde, por exemplo, em 10 anos, de tudo que é gasto no setor, o Governo Federal reduziu sua participação, que antes era de 56%, para 46%.

Nosso desafio é encontrar e repassar recursos aos municípios sem criar ou aumentar impostos. Como, por exemplo, zerar a contribuição do PIS/PASEP para Estados e municípios, entre tantas outras iniciativas que podem ser adotadas.

O Brasil não pode esperar mais. É hora de rever o Pacto Federativo. É hora de dar mais autonomia para os municípios. E deixar que o povo faça seu papel fiscalizador. Afinal, o controle social é o melhor fiscal de todos!

Deputado federal (PSDB-SP) e membro da Comissão Especial do Pacto Federativo. Artigo publicado no jornal “A Tribuna”.

Do PSDB na Câmara

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14/10/2015