“Depois da terceira onda”, por Luiz Paulo Vellozo Lucas
Artigo do ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas
Artigo do ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas
As manifestações de junho surpreenderam. Uma nova atitude política nasceu no país e foi saudada como um acontecimento positivo por todos. Os episódios de violência foram entendidos como sendo fatos isolados e até justificados pelos anos de indignação represada. Esta foi a primeira onda.
A segunda onda foram as manifestações e a greve geral “chapa branca” do dia onze de julho convocada pelos sindicatos. Contaram com a simpatia do governo do PT, do ex-presidente Lula e das entidades cooptadas por seu projeto de poder. O fracasso do dia de protesto fajuto também pode ser confirmado por todos.
A terceira onda foi o quebra-quebra violento no Leblon, no Palácio do Governo em Vitória e em outros episódios semelhantes. Grupos encapuzados foram para a rua armados de coquetéis molotov e determinados a enfrentar a polícia, provocar destruição e semear violência e medo. O absurdo do vandalismo virou o jogo na opinião pública a favor da ordem constituída. O que se pede hoje é a manutenção da paz, a ação eficaz das polícias e a punição exemplar dos depredadores, dentro dos princípios do estado de direito democrático.
As bandeiras e palavras de ordem na primeira onda foram difusas, todos compreendiam sua abrangência simbólica. “Não é pelos vinte centavos é por direitos”. Os inimigos eram igualmente difusos, políticos, governos, partidos, todos que deveriam cuidar do funcionamento dos serviços básicos de saúde, educação, segurança e transporte coletivo. O contraste do Brasil sede da copa do mundo “padrão FIFA” com o Brasil que não funciona, que não acredita na palavra dos seus líderes, que sabe que merece e paga para receber muito mais do estado do que está recebendo. A primeira foi a onda da cidadania.
Na segunda onda, as corporações e os interesses setoriais organizados ocuparam a rua, mas o espaço que ficou vazio falou mais alto e com mais eloquência. A soma de reivindicações especificas não forma o interesse geral do país e a plateia que aplaudiu emocionada a primeira onda se calou e acompanhou desinteressada o desfile da burocracia sindical, da militância paga e de palavras de ordem incapazes de desenhar a nova cara do Brasil, que acordou e se mostrou na primeira onda. A segunda foi a onda corporativista.
A terceira onda reuniu radicais violentos sem qualquer apreço pelas instituições e pelo estado de direito democrático. Desde marombados brigões até simpatizantes das FARC, adeptos da violência e do medo como método da luta política. A terceira foi a onda do ódio indiscriminado, das depredações e da violência.
Com a opinião pública claramente contra, a terceira onda cria condições para uma reação no sentido de afirmar a capacidade de manutenção da ordem por parte do poder público. Trata-se também de uma oportunidade, principalmente para os governos estaduais e municipais, de se dedicarem aos temas da agenda da primeira onda, lembrando que ela inclui a contenção do vandalismo, mas é muito, muito mais ampla. Tudo que signifique trabalhar para o interesse coletivo, eliminar desperdícios e privilégios, enfrentar a mesquinharia da pequena política e o aparelhamento da máquina pública será valorizado.
Mais do que antes, qualidade na política vai ser reconhecida e cobrada. Pode valer ouro nas eleições de 2014.