“Economia virou joguinho de compadres”, por Vanderlei Macris

O país se encontra em uma situação econômica corrosiva para o bolso dos trabalhadores. O mais dramático é que não há, por parte do governo Federal, um trabalho planejado para a reversão da condição. Na ponta da agulha, a vacina pretendida é a fórmula tão antes criticada pelo atual presidente da República, um novo programa social.
A pandemia do novo coronavírus agravou a economia brasileira e o processo culmina para a degradação das famílias. O desemprego expandiu, os preços dos produtos básicos avolumaram e não se avista condição para a melhora. Pelo contrário, o presidente insiste que a inflação que enfrentamos é a mesma dificuldade vivenciada por outras nações mundo afora. Não é! Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com base em relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), aponta que a disparada dos preços foi mais intensa no Brasil do que no restante do mundo. A inflação por aqui deve fechar 2021 maior que a de 83% dos países.
Dentre os inúmeros problemas enfrentados, a pretensão governamental é meramente transformar o Bolsa Família no Auxílio Brasil e romper o Teto de Gastos para justificar o novo programa. Atender a população que mais precisa é necessário. Fortalecer os programas sociais no momento da conjuntura econômica que estamos é fundamental, mas, sem projetos, a PEC dos Precatórios se tornou “a” alternativa para o pagamento da assistência. Não é medida fundamental para o país, já que ela possui vários pontos contra a própria população, mas a propaganda é que é vital inclusive para a prorrogação da Desoneração da Folha de Pagamentos, onde luto pela manutenção de 6 milhões de empregos.
Cabe ressaltar que o caminho escolhido pelo governo vai ampliar o rombo que enfrentamos e gerará uma falsa realidade de “amparo” aos mais humildes. No entanto, desde 2019 não foram feitas as reformas estruturais como se devia e não foram cortados os privilégios que se discursava em campanha na última eleição presidencial, onde milhões de brasileiros apoiaram e, ansiosamente, ainda esperam a solução.
O Auxílio Brasil e qualquer ação contra o Teto de Gastos se configurarão em instabilidade e dúvidas. Desta forma, os trabalhadores e os mais pobres continuarão sendo os grandes penalizados, haja vista que a inflação será superior ao já alto índice e deteriorará mais o bolso de quem menos ganha. Lembrando que a inflação “rouba” o poder aquisitivo das pessoas. A nova geração não conhece essa dolorida realidade, mas os maiores de 40 anos sim. É só perguntar para os nascidos no início da década de 1980.
Debatendo com diversos agentes sobre a PEC dos Precatórios, avaliamos que, com a apresentação de uma simples medida provisória, teríamos os recursos necessários para assegurar os R$ 400,00 do Auxílio Brasil sem maior arrombo. O Teto de Gastos, que começou a valer em 2017, é um mecanismo para conter as despesas públicas em referência à inflação registrada no ano anterior. Um controle importante para nortear as contas do governo e não sacrificar os brasileiros.
A economia de uma nação não pode ser tratada como jogo de tabuleiro e nem guiada por um “guru” que não investe seus recursos no próprio país que rege. Descobriu-se que Paulo Guedes aplica seus bens em offshore de paraíso fiscal. Duas comissões da Câmara dos Deputados e, também, o Plenário aprovaram a convocação do ministro para prestar esclarecimentos sobre a revelação de que ele é sócio de uma empresa no exterior com patrimônio de US$ 9,55 milhões – cerca de R$ 51 milhões.
Os brasileiros têm o direito de cobrar explicações do ministro da Economia, e, o Congresso Nacional, o dever de questionar por que ele mantém recursos pessoais em moeda estrangeira enquanto a economia do País naufraga e o governo alega que está tudo sob controle. Então, bem para quem se é o gestor da pasta econômica que se beneficia da desvalorização do real frente ao dólar?
No Plenário da Câmara já me manifestei sobre a situação da população ter que trocar o gás de cozinha pela lenha por não ter condições de pagar pelo botijão. Voltamos à Idade da Pedra. Não fosse só isso, milhões de famílias estão comprando ossos para ingerir algum resto de proteína animal que sobra no esqueleto. Outros tantos estão procurando refeição no lixo. Esta realidade é pesada e não pode ser ignorada. O Brasil de fato não vai bem.
A tão propagada responsabilidade caiu ao chão e milhões de cidadãos estão prejudicados. A corrupção precisa ser banida, bem como a fome e a leviandade governamental.
(*) Deputado Federal pelo PSDB-SP