“Em paz com o tempo”, por Lúcia Vânia
Envelhecer é um processo natural da vida. O que nunca podemos encarar como natural são as demonstrações de preconceito que cercam o envelhecimento, os casos de abandono, a exploração financeira, as agressões verbais, físicas e tantos outros tipos de violência que têm os idosos como as principais vítimas.
O balanço do Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República já revelou que o número de denúncias de violência contra idosos saltou de 7.160, em 2011, para 21.404, em 2012. Considerando todas as ligações relativas à violação dos direitos humanos que o serviço recebeu no ano passado, as que envolviam idosos apresentaram um aumento de 199%, o maior, se comparado ao ano anterior.
Há poucos dias, mais um caso de violência chocou o País. Imagens feitas por uma câmera de segurança, instalada pelo filho da vítima num apartamento da zona sul do Rio de Janeiro, mostraram uma idosa de 99 anos sendo empurrada e levando tapas quando tentava se levantar do sofá. As acusadas pela agressão são a cozinheira e a auxiliar de enfermagem.
Entre os assuntos aos quais tenho me dedicado ao longo desses anos de vida pública, está a luta pela garantia dos direitos dos mais velhos. A Política Nacional do Idoso foi implementada por mim, à época em que estive à frente da Secretaria Nacional de Assistência Social, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
É fato que, como sinal de desenvolvimento, a população brasileira está vivendo mais. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde o Brasil deverá ser o sexto país do mundo em contingente de idosos até o ano 2025. E por razões como longevidade e o aumento do número de casos de agressão, precisamos fortalecer as políticas públicas de proteção a quem já chegou à terceira idade.
É preciso mais. Torna-se imperativo ampliar as nossas reflexões acerca da velhice, e isso implica pensarmos mais profundamente na relação da família e dos cuidadores com os idosos mais vulneráveis.
Não teríamos estatísticas do Disque 100 dando saltos triplos num período de 12 meses se todos os indivíduos tratassem o próximo com respeito, amor, responsabilidade e dignidade.
Além de exigir uma série de habilidades e competências, a responsabilidade de cuidar de uma pessoa mais velha também é um exercício de amadurecimento e descobertas de um mundo rico em experiências. Não esqueçamos disso.
Precisamos “abraçar” os anos e as pessoas com as suas fragilidades físicas, seus sentimentos de insegurança, seu estado de dependência que vai se instalando ao passo que as doenças avançam de mãos dadas com a idade.
A todo custo, tentemos inserir idosos nos ambientes sociais, promover o envelhecimento ativo, saudável na medida do possível, e digno sempre.
É preciso estar em paz com o tempo e com a vida.
Lúcia Vânia é senadora pelo PSDB e jornalista