“Fecham-se as cortinas de uma era. Um quadro novo vai surgir”, por Alberto Goldman
Artigo do vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman
Nas eleições de 2014 o PT venceu numericamente, porém teve uma grande derrota política. Ficou clara a perda de sua liderança entre os trabalhadores dos setores industrial e de serviços, entre a juventude, entre os empresários pequenos e médios e entre os profissionais liberais nas principais áreas urbanas do país e nas áreas rurais mais desenvolvidas. Ou seja, o PT foi derrotado onde a economia mais moderna e produtiva se implantou, onde a sociedade civil é mais ativa, mais participativa politicamente e menos dependente do Estado.
Nas eleições de 2014 o PT só foi maioria entre aqueles que, pela falta de rendimentos, dependem dos mais diversos benefícios do Estado que estariam ameaçados de extinção, segundo a versão petista, na hipótese de derrota da presidente.
O PT, nascido como partido da classe trabalhadora e das elites intelectuais das grandes cidades, passara a ser o partido dos grotões e da população dependente do Estado. Na década de 1970 e começo dos anos 80, a ARENA, partido de sustentação da ditadura militar, cumpriu o mesmo itinerário e teve o mesmo destino que hoje atinge o PT.
Nesse quadro a estabilidade e manutenção de um governo com essa base de apoio e a rejeição da maioria da sociedade produtiva e atuante passou a ser uma tarefa impossível, ainda mais com a crise econômica em que se encontrava o país e com os inúmeros escândalos cuja elucidação atingiu os principais comandos políticos petistas e seus aliados. Daí o impeachment.
Agora, com as eleições municipais, realizou-se o último ato do ciclo petista. Já no primeiro turno o eleitor foi implacável e no segundo turno confirmou-se a vontade popular. Concentrando a sua rejeição no PT, o eleitor arrasou as cidadelas petistas e demoliu suas candidaturas em todo país, bradando sua rejeição aos políticos e à política em geral, como símbolos de um estado de coisas que o condena a uma vida medíocre. Em muitos municípios levou de roldão partidos e políticos tradicionais usando, para isso, partidos e candidatos pouco expressivos.
Esses dois fatores – a rejeição ao PT e à política tradicional, que provocaram em grande parcela da população uma reação liberal/conservadora com forte influência da direita ideológica – foram a essência do recente processo de eleições e do fim de uma era.
Assim, é medíocre e superficial a tentativa de se ligar os melhores resultados eleitorais a partidos e lideranças determinadas. Esses podem, por interesses específicos, propagar suas vitórias mas os resultados, como foi visto, têm origem objetiva, principalmente na desastrosa experiência com o PT em 14 anos, com suas consequências sobre a avaliação do povo sobre a política – atividade cuja desqualificação só pode levar ao enfraquecimento das instituições e do estado de direito democrático.
As recentes eleições municipais não são balizas para se projetar ações eleitorais com vistas às eleições gerais de 2018. A menos da certeza de que não só o PT, como os partidos ditos de esquerda, sofrerão um enorme revés e que o povo quer e vai querer ainda mais que mudanças sejam efetivadas, nada mais é possível prever. Muito menos se isso se dará através dos partidos atuais ou mesmo dos líderes partidários que hoje se apresentam.
Com a derrota do PT, acaba a polarização com o PSDB. Um quadro novo vai surgir.