“Fim de ciclo”, por Ademar Traiano

Fadiga de material é um conceito de engenharia estudado há mais de 170 anos. Designa os danos devastadores provocados por esforços, deformações e tensões repetitivas em materiais muito resistentes, como ferro e aço. A “fadiga” consiste em minúsculas trincas, invisíveis ao olho, que comprometem toda uma estrutura.

Acompanhe - 12/07/2013

Artigo do deputado estadual Ademar Traiano (PSDB-PR)

ALPRFadiga de material é um conceito de engenharia estudado há mais de 170 anos. Designa os danos devastadores provocados por esforços, deformações e tensões repetitivas em materiais muito resistentes, como ferro e aço. A “fadiga” consiste em minúsculas trincas, invisíveis ao olho, que comprometem toda uma estrutura. Quando a fadiga atinge o ponto crítico, apesar da aparência íntegra e sólida, peças de metal se partem como se fossem de barro. A fadiga de material é responsável por 90% das falhas em metais. É considerada traiçoeira, porque ocorre repentinamente e sem avisos. Grande parte dos desastres de trem, de avião, navios e de usinas nucleares, acontece devido a esse fenômeno.

Por analogia o conceito da “fadiga de material” é usado em política. Frequentemente é apontada como causa do fim de ciclos políticos longos e aparentemente muito sólidos. A derrubada do Muro de Berlim em 1989 e o desmoronamento a União Soviética, são exemplos mais espetaculares de fadiga de material aplicado à política. Casos como a queda de Osni Mubarak, no Egito, de Muamar Gadafi, na Líbia, além de outras ditaduras árabes – aparentemente muito sólidas e que duravam décadas – na chamada Primavera Árabe de 2011 são outros exemplos do fenômeno.

Os protestos que varreram o Brasil em junho de 2013 e a desintegração da popularidade de Dilma Rousseff sinalizam que a fadiga de material atingiu o petismo e sugerem que esse ciclo está chegando ao fim no Brasil. Depois de 11 anos e meio de poder, em meio a escândalos e casos flagrantes de corrupção e incompetência, as trincas do prestígio do PT são evidentes. A velocidade com que a popularidade da presidente se esfarelou (caiu 30 pontos percentuais em 20 dias) e como protestos, que tiveram como estopim passagens de ônibus urbanos (alçada municipal), se voltaram rapidamente para o governo federal e evidenciam que a revolta dos brasileiros tem como alvo o governo do PT. No dia 21 de junho multidões em fúria tentaram invadir o Palácio do Planalto. Impedidos por um forte contingente policial os manifestantes marcharam para o Itamaraty que foi depredado e atacado com bombas incendiárias.

A prova do esgotamento da vitalidade do PT, vitimado pela fadiga de material, aconteceu no dia anterior, quinta-feira, 20 de junho, em que os petistas chapa-branca, já gordos e sedentários, foram convocados por figuras referenciais do partido, como o mensaleiro José Dirceu, para ocupar espaço nas ruas e liderar as manifestações. Foram expulsos a tapas do asfalto por manifestantes indignados com essa tentativa de infiltração. Representavam tudo aquilo que os manifestantes queriam combater.

Em pouco mais de uma década o PT, que chegou ao poder carregando a bandeira da ética, elevou a níveis nunca vistos a percepção popular de corrupção na política. Pesquisa do Ibope divulgada pela Transparência Internacional revela que 81% dos brasileiros avaliam que seus representantes são “corruptos ou muito corruptos”. É um percentual muito superior a média dos 107 países pesquisados pela organização em outras áreas do planeta. Sob o PT a percepção de corrupção no Brasil vem aumentando de forma assustadora. Numa escala de 1 a 5, onde cinco é o grau máximo de corrupção, o setor público brasileiro atingiu nota 4,6. É a taxa é mais elevada da América Latina, uma das mais altas do mundo.

O ciclo petista de mais de uma década de populismo, corrupção, escândalos, e incompetência, de fracassos vendidos como sucessos ao custo de uma propaganda bilionária, da volta do pior pesadelo dos brasileiros, a inflação, dá sinais claros de esgotamento. Além das violentas manifestações de junho, temos os exemplos do crescente repúdio que a presidente provoca em todos os públicos. Na XVI Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, nesta semana, Dilma foi vítima de vaias arrasadoras. Primeiro por faltar a um encontro com os prefeitos, depois por comparecer a outro.

É um auto-engano imaginar que o problema é Dilma e basta chamar Lula de volta para tudo ficar bem. Fora a inépcia política e a truculência da presidente e de seus auxiliares, que complicam a situação, é Lula o grande responsável por tudo o que está aí. É um equívoco fatal imaginar que o povo que foi às ruas não sabe disso. O ciclo do PT, as trincas apontam, está se esgotando.

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12/07/2013