“Inflação. Os porões inundados”, por Alberto Goldman
A inflação no Brasil ultrapassou o teto da meta, estabelecido como limite máximo. Pior, gira, mensalmente, em torno dele, como se centro da meta fosse. Pior ainda, não há pressões externas que justificam o novo patamar. A inflação é o mais perverso dos impostos pois atinge os que vivem de salários e fere, mais profundamente, com índices mais altos, os que tem na alimentação o maior volume de seus gastos em relação à sua renda. Esses são vítimas indefesas, cobradas em cada compra que fazem, sem dó nem piedade.
Ela é a responsável pela iníqua distribuição de renda que temos no país e pelo enriquecimento dos que especulam com a moeda ( os três bancos mais lucrativos das Américas, incluindo os EUA, são brasileiros: dois privados e um estatal ). Não há política assistencialista, nem mesmo os aumentos do salário mínimo, que o impeça. A inflação é muito poderosa. Corrói o organismo da economia por dentro. Além de ter um custo social muito alto, paralisa os investimentos produtivos. O Plano Real deu-lhe uma pancada muito forte, mas a incompetência dos governos petistas conseguiu fazê-la renascer das cinzas.
Não se pode combate-la com medidas pontuais, conjunturais. Nem com um único instrumento, como o aumento da taxa de juros, que têm efeitos momentâneos, e duvidosos, sem atingir as causas mais profundas, estruturais, de nossa economia.
Esse governo não é desenvolvimentista porque não tem uma política industrial consequente, nem neoliberal porque não incentiva um mercado que só se torna competitivo com o aumento da produtividade. Está enredado em um conflito ideológico entre o ser e o não ser. Um pouco aqui, um pouco ali. Após 2002 caminhou na manutenção da política macroeconômica anterior, sem aprofundá-la como seria necessário, dormindo sobre os louros do passado e sobre um quadro mundial favorável. Em seguida foi sendo tomado pelos preconceitos em relação à participação do setor privado para, mais adiante, recentemente, sem consistência e sem convicção, tentar superá-los em face da crise que se abateu sobre a economia.
Perdeu a credibilidade. Perdeu o “timing”. Busca com, uma canequinha, retirar a água dos porões inundados. Preparemo-nos para mais emoções.