“Iniciativa sensata”, editorial de O Estado de S. Paulo

Acompanhe - 04/02/2013

* Editorial publicado na edição desta segunda-feira (04) do jornal O Estado de São Paulo

Simposio dos Comites PCJ em Sao Pedro Governador autoriza construcao de reservatoriosO veto, pelo go­vernador Geral­do Alckmin, da lei que proíbe a propaganda de alimentos e be­bidas com baixo teor de nu­trientes e alto teor de gordura, açúcar e sódio, dirigida ao pú­blico infantil entre 6 e 21 ho­ras, já era esperado desde que ela foi aprovada pela Assembleia, em dezembro do ano passado, com apoio de entida­des de defesa dos direitos do consumidor e dos direitos das crianças. A lei também impede o uso de celebridades ou perso­nagens infantis na publicidade dirigida a crianças. Aguardam votação, na Assembleia, proje­tos que proíbem o uso de brin­quedos promocionais, a distri­buição de brindes e a venda ca­sada de lanches em restauran­tes e lanchonetes.

Ao justificar o veto, o Palá­cio dos Bandeirantes invocou um argumento de caráter jurí­dico e outro de natureza políti­ca. Como o inciso XXIX do arti­go 22 da Constituição é taxati­vo ao afirmar que a regulação da publicidade é de competên­cia privativa da União e tem de ser feita por meio de leis apro­vadas pelo Congresso, a As­sembleia não poderia tratar da matéria. As principais empre­sas do setor não se pronuncia­ram sobre o caso, mas a Asso­ciação Nacional dos Anuncian­tes, apoiada por agências de pu­blicidade, anunciou que entra­ria com uma ação de inconstitucionalidacle 110 Supremo Tri­bunal Federal (STF), caso a lei fosse sancionada pelo governa­dor. Por seu lado, as emissoras de rádio e de televisão alega­ram que a discussão está fora de foco. Segundo elas, em vez de restringir a publicidade diri­gida ao público infantil, o mais sensato seria desenvolver es­tratégias para melhorar o teor das mensagens publicitárias.

No plano político, o Palácio dos Bandeirantes deu a enten­der que o autor da lei – o depu­tado Rui Falcão (PT) – agiu com o objetivo de criar cons­trangimentos para Alckmin (PSDB), para desgastá-lo na eleição de 2014. Como a lei foi apoiada por movimentos so­ciais, ONGs e partidos de es­querda, ao vetá-la o governa­dor ficaria com a imagem públi­ca arranhada. Assim que o veto foi anunciado, Falcão acusou Alckmin de se “render aos inte­resses das indústrias”, em vez de defender a saúde das crian­ças. Para prevenir-se contra es­se tipo de críticas, dias antes da publicação do veto Alckmin lançou o programa Alimenta­ção Saudável na rede de ensino básico. Elaborado em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o objetivo do pro­grama é estimular as escolas es­taduais a melhorar a qualidade da merenda.

A discussão não é nova e tem sido influenciada por argumen­tos políticos e ideológicos. Em 2010, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitá­ria (Anvisa) – controlada pelo PT – baixou uma resolução que obriga os produtores de bebi­das não alcoólicas e alimentos industrializados a informar nas embalagens os males causados por produtos com alto teor de sal, açúcar e gordura. O objeti­vo da medida, segundo a Anvi­sa, era reduzir doenças coronarianas, doenças renais, diabe­tes, obesidade e cáries dentá­rias na população. Mas, nos meios empresariais, ela foi rece­bida como tentativa de cercea­mento da liberdade de escolha dos consumidores e a Agência Brasileira das Indústrias de Ali­mentação ameaçou levar o ca­so ao STF, alegando que a reso­lução colidia com o capítulo das garantias fundamentais da Constituição. Em 2007, a Anvi­sa já havia adotado uma provi­dência semelhante com rela­ção a medicamentos popula­res, em seguida contestada pe­la Advocacia-Geral da União.

O consumo de alimentos in­dustrializados com alto teor de sal, açúcar e gordura é um hábi­to da população. Em vez de ten­tar mudá-lo por meio de campa­nhas educativas, planejadas com o objetivo de estimular os consumidores – principalmen­te crianças – a ter comporta­mentos mais saudáveis, parti­dos de esquerda e movimentos sociais defendem a intervenção estatal na iniciativa privada, es­pecialmente nas atividades de marketing e publicidade.

Ao vetar uma lei estadual in­constitucional e concebida com indisfarçável viés político e ideo­lógico, que considera os pais in­capazes de proteger seus filhos e autoriza o Estado a intervir na vida privada das famílias, Alck­min agiu com sensatez.

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04/02/2013