“Intervencionismo e perdas”, editorial de O Estado de São Paulo

Acompanhe - 04/02/2013

* Editorial publicado na edição desta segunda-feira (04) do jornal O Estado de São Paulo

Petrobras Foto Agencia PetrobrasO mau desempe­nho da econo­mia nos dois úl­timos anos não explica inteiramente as per­das que o mercado acionário brasileiro vem sofrendo, na comparação com os resultados de outras bolsas de valores. O baixo crescimento da econo­mia – que o governo vem ten­tando reverter, sem resultados até agora, o que tem gerado pre­visões pessimistas também pa­ra o desempenho deste ano – por certo desanima os investi­dores do mercado acionário, muito suscetíveis aos resulta­dos das empresas e às tendên­cias da economia real. Mas essa característica natural do merca­do acionário está sendo visivel­mente perturbada pelo ativismo econômico excessivo do go­verno do PT, que turva as ex­pectativas dos investidores, lan­ça dúvidas sobre a segurança das aplicações e produz ainda mais pessimismo. Dessa combinação não se po­deria esperar resultados dife­rentes dos que a Bolsa de Valo­res de São Paulo (Bovespa) vem apresentando. Depois de ter superado 70 mil pontos em janeiro de 2011, o Ibovespa, que mede a variação dos papéis mais negociados, manteve-se em torno de 60 mil pontos nos últimos pregões. É uma redu­ção de cerca de 14% em dois anos. A título de comparação, observe-se que, depois de ter crescido 7,5% em 2010, o PIB aumentou 2,7% em 2011 e cerca de 1% no ano passado. Os dois últimos resultados são muito fracos, mas não negativos.

Nos EUA, cujo governo ain­da nao conseguiu negociar com a oposição os termos definiti­vos de um acordo que permita a solução de longo prazo para seus problemas financeiros, a bolsa de valores está em franca recuperação. O principal índice da bolsa de Nova York, o Dow Jones, está prestes a bater seu recorde. Mesmo na Europa em crise, os mercados de ações es­tão em alta, incluindo os da Grécia, Portugal e Espanha, paí­ses em situação econômica e fiscal mais complicada.

Desde janeiro de 2010, a cota­ção da ação preferencial da Petrobrás, uma das mais negocia­das na Bovespa, caiu mais de 40%. O valor de mercado da empresa despencou de US$ 199,3 bilhões no início de 2010 para cerca de US$ 107 bilhões na semana passada, uma perda de mais de US$ 90 bilhões em três anos. Tendo sido a segun­da maior empresa de gás e pe­tróleo das Américas, atrás ape­nas da ExxonMobil, a Petrobrás agora ocupa a quarta posi­ção, atrás também da Chevron e da colombiana Ecopetrol.

E por que a Petrobrás caiu tanto? Utilizada politicamente pelo governo do PT, a empresa perdeu eficiência, teve de redu­zir seus programas de investi­mentos em exploração e refino para, por pressão do Palácio do Planalto, investir no caro pro­grama do pré-sal e, assim, viu cair sua produção e foi obriga­da a importar combustíveis.

Transformada, também, em instrumento da política de pre­ços do governo petista, teve que suportar, com graves ônus financeiros, o congelamento dos preços dos combustíveis, que vem importando em quan­tidades crescentes, porque não ampliou sua capacidade de refi­no. Estima-se que, só no passa­do, essa política insensata de importar por determinado pre­ço e vender por outro, menor, tenha imposto perdas de R$ 20 bilhões à Petrobrás. Com razão o mercado reduziu o preço de suas ações. O recente aumento da gasolina não muda substan­cialmente o quadro.

Situação semelhante o gover­no impôs às empresas do setor elétrico – inclusive a principal estatal federal, a Eletrobrás com seu programa de renovação de concessões associada à redução das tarifas para consu­midores residenciais e indus­triais. A redução das tarifas re­sultará em graves ônus para as empresas, razão pela qual algu­mas controladas por governos estaduais se recusaram a aderir ao programa. O mercado, tam­bém nesse caso, agiu como o es­perado, e as ações das elétricas despencaram.

Há algum tempo, o governo interveio na gestão da Vale, uma empresa privada na qual o governo ainda tem alguma pre­sença, o que igualmente provo­cou a reação do mercado.

O intervencionismo do go­verno em empresas cujos pa­péis estão entre os mais nego­ciados na bolsa de valores é per­nicioso para as empresas, para o mercado e para o País.

X
04/02/2013