“Não aprenderam nada”, por Ademar Traiano

Acompanhe - 12/09/2013

* Artigo do deputado estadual (PSDB-PR) Ademar Traiano, líder do governo na Assembleia Legislativa

Ademar-Traiano-Foto-PSDBÀs vésperas do feriado de Sete de Setembro a presidente Dilma Rousseff ocupou uma cadeia de rádio e televisão para fazer um pronunciamento longo, triunfalista e totalmente divorciado da realidade. Nem parecia a mesma que, em junho, acuada pelos protestos das ruas, viu sua popularidade despencar das nuvens e cair para um patamar politicamente perigoso.

O PT e Dilma não esqueceram nada nem aprenderam nada com os protestos de junho, nem com os malogros da política econômica. Dilma, que cometeu uma grosseria planetária ao usar uma recepção ao Papa Francisco para fazer campanha política e gabar feitos imaginários do PT, repetiu a dose. Usou o que deveria ser um pronunciamento protocolar sobre o significado do Sete de Setembro para fazer campanha política antecipada, ilegal e loroteira a respeito das realizações do PT.

O que era para ser um pronunciamento republicano, em uma data histórica, se transformou em palanque eleitoral descarado. Tão escancarado que levou partidos de oposição entrar na Justiça Eleitoral pedindo punições por campanha antecipada com vistas às eleições de 2014.

Chama à atenção a crescente falta de conexão do governo com a realidade. Os triunfos e os sucessos enumerados na fala da presidente só existem na cabeça do marqueteiro João Santana. O país pintado pela fala de Dilma é uma ficção absoluta. Dos escândalos de corrupção, que explodem a todo o momento, aos fracassos do modelo econômico dilmista, os sucessos do governo só existem no reino da imaginação.

O modelo econômico adotado por Dilma, baseado em truques contábeis para esconder resultados negativos – que nunca são contabilizados; no represamento de tarifas públicas como política antiinflacionária, no subsídio de setores escolhidos da economia; no estímulo ao consumo com a liberação de crédito dos bancos públicos, levando ao endividamento da população; na redução dos juros com inflação em alta; na leniência com a inflação e no relaxamento fiscal, faz água por todos os lados.

Prova do fracasso está no fato que a comemoração feita pela presidente no pronunciamento sobre o refluxo da inflação, feito em uma sexta-feira, 6, foi desmentido, na segunda-feira, 9, pelos alarmantes indicadores sobre os índices das prévias da inflação.

O emprego na indústria registrou sua terceira queda consecutiva, vale destacar que o Paraná foi uma exceção nesse cenário negativo. Em termos nacionais, todos os outros indicadores econômicos disponíveis são do tipo que recomendariam mais cautela e menos bazófia.

A Petrobras, por causa do represamento dos preços é obrigada a arcar com prejuízos inaceitáveis. Com os preços defasados em relação ao mercado internacional em torno de 30%, tanto para a gasolina como para o diesel, a empresa vem perdendo cerca de R$ 1 bilhão por mês para importar os combustíveis a preço internacional mais alto do que revende no mercado interno. Um conflito militar na Síria pode levar essa defasagem a patamares insustentáveis.

As manipulações políticas das tarifas também impuseram prejuízos enormes a empresas do setor elétrico A diferença entre o custo da energia e o preço que ela é vendida atinge R$ 9 bilhões. Com o pretexto de desonerar o setor, mas na verdade mirando cortejar o eleitor, Dilma anunciou uma queda do preço da energia ao consumidor e ao setor industrial.

Dilma reduziu o preço da energia elétrica quando o custo estava subindo, por causa de uma seca e do acionamento das termelétricas. A conta vem sendo bancada pelo Tesouro e pelos Estados que foram compelidos a participar do processo. O Tesouro está bancando o prejuízo gerando mais inflação.

Os Estados, por conta dessa cortesia feita por Dilma com o chapéu alheio, tiveram reduzidas suas receitas e sua capacidade de investir. Só o Paraná, com as desonerações, avanços diversos da União sobre receitas do Estado, teve um prejuízo de mais R$ 1 bilhão.

No discurso de Sete de Setembro Dilma se permitiu delírios de grandeza. O Brasil seria mais pujante que a Alemanha, uma das locomotivas mundiais. Os pactos propostos no auge dos protestos de junho, que em sua maioria viraram piadas de salão, como o plebiscito para a reforma política, teriam sido fulgurantes sucessos.

Dos pactos, espalhafatosamente anunciados e logo convenientemente esquecidos, o único que saiu do papel foi à importação de médicos cubanos, que – pelo menos até agora – teve como único resultado desempregar médicos brasileiros. O restante não saiu do campo da ficção.

Pesquisa recente mostra uma realidade bem diferente dos delírios auto-congratulatórios do governo. A maioria das pessoas avalia que o país não melhorou nada depois de quase três meses dos protestos de junho. A falta de projetos e a recusa ao diálogo são outros problemas identificados pelos brasileiros.

A pesquisa mostra que a rejeição da presidente, apesar de todo o investimento em propaganda, campanha eleitoral fora de época, é enorme: 41,6%. Ou seja, ocupando de forma desproporcional, e ilegal, todos os espaços para fazer campanha política extemporânea.

Colocando todo o governo a serviço da reeleição, a presidente arrisca fracassar e ser derrotada pelos próprios malogros. Com a oposição levada a travar uma disputa desigual e desproporcional, Dilma pode acabar sendo derrotada pela incapacidade de aprender com os próprios erros.

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12/09/2013