“Nem muito depressa que pareça ânsia de poder, nem muito devagar que pareça covardia”, por Alberto Goldman
Do vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman
Dilma Rousseff realmente perdeu as condições para governar. No entanto não serão Renan Calheiros, ou Eduardo Cunha, ou mesmo Michel Temer, figuras de um PMDB profundamente envolvido na corrupção que tomou conta do governo nesses últimos 12 anos, que terão, através da tutela à presidente desgastada, a legitimidade para governar. Nenhum deles, nem o PMDB, tiveram o respaldo das urnas para governar o país.
Pouco também valerá o chamamento à UNE, a CUT e ao MST para socorrer o poder. Essas entidades já tiveram uma representatividade maior mas, nos últimos anos, sob o governo petista, se transformaram em medíocres aparelhos partidários, de um ou de outro partido da base governista, sem capacidade para mobilizar seus pretensos representados.
Muita água ainda vai correr por debaixo da ponte antes que se encontre a fórmula de transição da situação atual para uma nova que possa atender às exigências da condução do país, para superar a crise em que eles, PT, PMDB e demais agregados, nos meteram.
A ansiedade é compreensível em face da crise por que passamos, mas o açodamento pode ser fatal.
Melhor seria para o país se a decisão do Tribunal Superior Eleitoral sobre a existência de crimes eleitorais, através dos quais Dilma e Michel venceram as eleições, fosse a mais rápida possível. As investigações da Lava-Jato, que mostraram a farta distribuição de propinas para sustentar as campanhas eleitorais, hoje comprovada, pode dar aos juízes do TSE condições para cassar os mandatos dos beneficiários. Assim, novas eleições seriam convocadas.
Porém a decisão é do Tribunal e tem que ser respeitada.
Outra hipótese seria a ação do Congresso Nacional no sentido do impedimento da presidente, decisão que pode ser tomada pelo Legislativo desde que se configurem, concretamente, os já conhecidos crimes de responsabilidade por ela cometidos, alguns sob a avaliação do Tribunal de Contas da União.
Existem, pois, caminhos a serem trilhados até que o processo de impeachment se inicie e o seu final esteja no horizonte. Sem receio mas com o passo firme.
Nós não temos ânsia de poder. Sabemos que assumir o país nas condições em que se encontra, não é trivial, nem é sedutor. O risco de um imenso desgaste é assustador. Mas pode ser necessário, pelo bem do país.
Não seremos covardes ao ponto de não fazermos o que tem de ser feito. Vale dizer, estamos fazendo de tudo para que as investigações cheguem às conclusões possíveis, caracterizando as responsabilidades de cada um e a necessidade do cumprimento da lei. A possibilidade do impedimento do presidente da República não é um simples adereço da Constituição. Está lá para ser cumprido, se as condições adequadas se impuserem.
Faltaria, vistos os trâmites legais, o essencial: a vontade popular que se expressaria não só pelo povo nas ruas e pelas pesquisas de opinião, mas pela percepção diuturna que temos no contato com as pessoas.
E isso nos parece que não falta.