“No País da burocracia”, por Antonio Anastasia
Artigo do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) publicado no jornal Hoje em Dia no domingo (5)
Vontade de mudar o rumo da história, de acreditar que a vida da gente pode, sim, ser um mundo fantástico, desses de livro. Uma fantasia. Um mundo que Alice quis conhecer.
Tomando uma poção mágica, Alice, de Lewis Carroll, que acaba de completar 150 anos de publicação, acredita em um outro mundo. E para isso diminuiu seu tamanho. Quis entrar pela porta pequena. Tomo emprestadas as metáforas.
Ao contrário, hoje, temos que nos transformar em “gigantes” para entrar por uma, duas, três portas. Vivemos o inverso do mundo de Alice. Não um sonho, um pesadelo.
A burocracia é hoje a porta que temos de atravessar. Ela inviabiliza, dificulta, paralisa, impede-nos de crescer. Ao invés de gatos, chapeleiros, relógios, cartas, temos papéis e exigências, xerox, cópias, firmas reconhecidas, cartórios, filas, senhas…
Um mundo sem cor, sem graça, carimbado por avalistas, recheado de fiadores. Certidão de nascimento, de casamento, de separação e de bons antecedentes. Nada consta do Tribunal de Justiça. Do Tribunal Regional Federal. Do TRT, TST, TRE, TSE, STM, CNJ, no Superior Tribunal de Justiça. E do Supremo também.
Título de eleitor. Comprovante de votação nas últimas cinco eleições. Carteira de trabalho, de motorista, de identidade. Número de PIS. PASEP. Passaporte. Cópia. Autentica. Comprovante de endereço? Só luz ou água. Fotos 3 x 4. Camisa preta. Fundo branco. Sem sorrir…
O coelho que atrai Alice lembra que o tempo urge. Mas quanto tempo não perdemos no Brasil com processos desnecessários e ultrapassados?!
A realidade
Vivemos uma burocracia negativa e exagerada, que atrapalha a vida nacional. O País da burocracia e do papel. Do carimbo e da autenticação. Herança dos tempos da Coroa portuguesa que, infelizmente, permanece incrustada na administração pública brasileira até hoje.
Colocamos em um altar a ‘papelada’, na linguagem singela do nosso cidadão comum. Isso tornou-se um tormento. Gera atraso, aborrecimento, prejuízos para os cidadãos e para o País.
Tivemos em determinado momento esforços importantes com a figura do ministro Hélio Beltrão para um processo de desburocratização. Passados tanto tempo ainda não conseguimos incutir na sociedade, especialmente nas áreas governamentais, o gosto pela simplicidade. Tudo é complicado e exige confirmações infindáveis. Não temos confiança nas relações entre Governo e o cidadão.
Enquanto não superarmos isso, na busca de uma administração pública mais enxuta, mais leve e mais simples, dificilmente poderemos avançar. Mudar essa realidade não pode ser um sonho ou uma quimera. Não podemos mais aceitar que a porta emperrada nos empeça de prosseguir.
Simplificar, desburocratizar, tirar as amarras, verdadeiros nós górdios, é dever do Estado que pretende ser eficiente, catalisador do crescimento. É um esforço que se faz urgente. Para o bem de nossas empresas, de nossa economia, de nossos trabalhadores, de nossa qualidade de vida e da nossa paciência.
O tempo urge. “Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu – o Chapeleiro falou –, não usaria a palavra desperdício para se referir a ele. Ele não é qualquer um”. Siga o coelho branco.