“O agronegócio na passarela”, artigo de Lúcia Vânia
Artigo da senadora Lúcia Vânia (GO)
Artigo da senadora Lúcia Vânia (GO)
O agronegócio foi destaque no desfile das escolas de samba no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A Unidos da Vila Isabel e a Beija-Flor desfilaram com enredos que contemplaram a vida no campo, por meio de homenagens a produtores rurais e ao cavalo mangalarga marchador, respectivamente.
A Unidos de Vila Isabel foi campeã com o tema “A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um”.
Podemos perguntar: pode o agronegócio e o carnaval se misturarem? Desta vez tivemos uma mistura perfeita que acabou agradando muita gente do campo. Numa entrevista, o agricultor Vítor Patrício, que é produtor de soja, milho e trigo no município de Campo Mourão, no Paraná, disse que ficou encantado com a apresentação: “Finalmente lembraram do agricultor, do agronegócio brasileiro, reverenciando a importância do peso do agronegócio do Brasil”.
Mas, nessa época de “pibinho”, qual a importância real do agronegócio na economia brasileira em geral, e na goiana em particular? É sobre isso que teço algumas considerações.
Quando falo em agronegócio refiro-me à produção da agricultura e da pecuária, incluindo o resultado das indústrias de insumos e de processamento de produtos de origem animal e vegetal e todo o processo de distribuição.
Temos que considerar, ainda, as novas tecnologias agrícolas, o armazenamento, o transporte, o processamento dos produtos agrícolas e seus derivados.
Ao contrário do que podemos afirmar sobre outros segmentos do universo econômico brasileiro, o agronegócio é classificado pelos especialistas como moderno, eficiente e competitivo apresentando-se ao investidor como uma atividade próspera, segura e rentável.
As condições naturais de um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e o fato de dispormos de 13% de toda a água doce disponível no planeta dão a base para o gigantismo do agronegócio no Brasil. Com todas essas condições favoráveis o país conta com 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados.
Essas precondições devidamente aproveitadas estão fazendo do agronegócio uma verdadeira locomotiva da economia brasileira, respondendo por um em cada três reais gerados no país.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, o agronegócio responde hoje por cerca de 21% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, 31% dos empregos e 41% das nossas exportações.
No final de 2012, o Ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, disse que o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária deve continuar crescendo em 2013. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra deste ano atingirá 181,5 milhões de toneladas. A carne brasileira, que acaba de ser liberada para todos os países, elevará os seus embarques para o Japão, a Rússia e a China.
Em Goiás, a Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan) informou, no final do ano passado, que o agronegócio representa 65% do PIB goiano, que chega a R$ 102,8 bilhões. Em abril do ano passado, o Governador Marconi Perillo, na última Tecnoshow, em Rio Verde, já ressaltava o desenvolvimento do agronegócio goiano.
Esses números grandiosos, contudo, não devem nos fazer esquecer que deficiências ainda precisam ser superadas: o chamado “custo Brasil” ainda atrapalha a competitividade, a logística deficitária impede o adequado fluxo de escoamento da produção e a mão de obra precisa de melhor qualificação. Além disso, há carência de ações que unam todas as pontas da cadeia produtiva, desde o campo até a indústria, passando pelo governo federal e pelas entidades que representam o setor, visando ampliar mercados e diminuir custos.
Ao falar do agronegócio e de sua grandiosidade não posso deixar de destacar o papel da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, Bill Gates, criador da Microsoft, referiu-se à Embrapa como “um tesouro mundial, pois conhece profundamente os grãos e os solos tropicais”.
Louve-se que instituições superiores de ensino, como a Universidade de Campinas (Unicamp), oferecem cursos de Gestão de Agronegócio, visando dotar os profissionais do setor das ferramentas de gestão de cadeias agroindustriais, bem como capacitá-los para o contato com sistemas nacionais e internacionais de comercialização de produtos agropecuários.
Conclui-se, então, que a par do aspecto lúdico e festivo do carnaval, o agronegócio está, literalmente, na passarela, não somente na Marquês de Sapucaí, mas também no contexto do universo econômico brasileiro.
Resta-me apelar para o poder público no sentido de continuar corrigindo os aspectos que ainda impedem o setor de um desenvolvimento ainda maior, já que, mesmo considerando o vigor do nosso processo industrial, o agronegócio continua a representar uma vocação brasileira.