“O Brasil, com Lula, merece um “Oscar” (Parte 2)”, por Alberto Goldman

Acompanhe - 26/11/2015

Alberto-Goldman-foto-DivulgacaoHoje continuo comentando a entrevista de Lula ao jornalista Roberto D’Ávilla, no canal GloboNews. Para ver a primeira parte, com vídeo da entrevista, clique aqui.

Na entrevista Lula repete, como um mantra, a acusação de que os meios de comunicação estão contra o PT, sem qualquer base na vida real. É verdade que alguns meios de comunicação adotam posições em defesa de seus interesses econômicos ou ideológicos, mas a história tem nos mostrado que o PT tem se beneficiado disso, antes e depois de assumir o governo central.

Diz Lula que não quer tirar o Levy e que não deve dar palpites no governo Dilma. Aí Lula atinge as raias do cinismo. Não só dá palpites como promove e participa de reuniões no Alvorada em que distribui tarefas, dá diretrizes e, de fato, determina a ocupação de postos de governo. Todos sabem disso. A mídia apenas o registra.

Falando sobre os últimos episódios que passaram a se chamar de “mensalão” e “petrolão”, afirma que foi o governo que acabou com o cerceamento às investigações de corrupção dando autonomia ao Ministério Público. Esse avanço institucional, Lula credita ao seu partido, como se pudéssemos esquecer que o PT votou contra o texto final da Constituição que garantiu essa autonomia.

Lula criminaliza a todos que buscaram recursos para as campanhas eleitorais, como se a posição do PT no comando do governo não fosse determinante para que a corrupção pudesse se consumar. Nada tem a ver com os recursos obtidos pela oposição. No caso da Petrobrás ele tem a coragem de afirmar que levou um susto, que a história da quadrilha não é nova, que foi organizada por funcionários muito antigos, sem citar que dirigentes do PT foram e estão sendo presos e condenados por terem sido responsáveis pela formação de grupos de funcionários corruptos dirigentes das estatais, escolhidos pelo partido, que passaram a ocupar cargos decisivos no aparelho estatal, e formaram, com empresários sem limites éticos, quadrilhas que levantaram recursos para as campanhas partidárias e para a sua satisfação pessoal.

A respeito de uma necessária reforma política, Lula diz que não é problema só do governo, mas também do Congresso Nacional. Menos mal que na reunião que tivemos em 2005, quando ele convocou todos lideres de bancadas para uma reunião no Palácio e, diante da minha intervenção em que eu dizia que o país não seria governável sem uma reforma política, ele respondeu que reforma política não é com o governo, é problema do Congresso.

Lula defende também uma Constituinte exclusiva, como se não soubesse que não existem instrumentos constitucionais para, durante a vigência do Estado de Direito, convocar uma nova e qualquer Constituinte. Uma mudança que poderia ser feita durante o seu governo seria acabar com o direito à reeleição contra a qual se manifestaram. Nada fez. Já não lhe interessava.

Com o toque demagógico que lhe é peculiar, Lula não deixou de mostrar a sua virtude teatral ao falar da crise por que passa o país. Proclamou que “a crise não foi feita pelos pobres, pelos trabalhadores, foi feita pelo sistema financeiro internacional”. Vale dizer, Lula, Dilma e o PT não são autores da crise, são vítimas dela. Os culpados são o JPMorgan, e todo sistema financeiro que tanto o apoiou e venerou pois lhes possibilitou lucros “nunca antes nesse país”.

Segundo ele, todos ganharam, todos subiram um degrau, sem reconhecer que nestes últimos dois anos uma grande parte dos ganhos dos mais pobres e dos recém emergentes já foram pelo ralo.

Falando de privatizações e de concessões Lula diz que no governo FHC se “vendiam” as estradas para obter dinheiro e que eles, pelo contrário, não pediam nenhum valor pelas outorgas, procurando apenas tarifas mais baixas para o usuário. Ora, quando só se licita pela menor tarifa o usuário pode pagar menos, mas o contribuinte entrega o ativo público sem retribuição pelos investimentos feitos, isto é, toda a sociedade paga. Dilma bem que aprendeu, pois está licitando, nesse momento, as antigas usinas hidrelétricas cujo período de concessão se encerrou, não pela menor tarifa mas pelo maior pagamento de outorga pelo novo concessionário. Lula não anda lendo o noticiário econômico.

Como solução para a crise Lula diz que os bancos e o governo devem financiar as empresas e os consumidores para retomar o crescimento. Ora, os bancos estatais sob o comando federal estão exauridos, inclusive pelas dívidas (pedaladas) realizadas pelo tesouro nacional, e o governo em geral não tem recursos próprios e tem seu limite de endividamento já bastante expandido.

Lula e seu governo estão vivendo uma crise sem precedentes. O seu governo, sim, não de Dilma. No último outubro, 169 mil vagas de trabalho foram fechadas, 1,4 milhão nos últimos 12 meses. Os índices de inflação aumentam, e a previsão de queda do PIB é de 3,1% este ano segundo o BC e de cerca de 2% no próximo ano. Os desempregados já são 9 milhões. A década está sendo perdida. Os investimentos caem, a indústria definha e mesmo os setores agrícola e mineral sofrem com a retração da economia chinesa. Não existem boas notícias.

Enfim, Lula fala que o impeachment da Dilma não teria base legal. Ora Lula liderou a campanha pelo impeachment de Collor de Melo, com muito menos base legal e moral. Lula e Dilma e seu PT são os responsáveis pelos maiores crimes já cometidos por algum governante. Nada parecido na nossa história. Se isso pode ser mostrado e provado e convencer o Congresso Nacional, já que é claro que o povo brasileiro está convencido, é o que veremos. Não é “pisotear” a Constituição como ele proclama.

O toque final de Lula na entrevista foi falar de Educação. Alardeia que campi universitários foram erigidos para todos os lados, como se isso fosse suficiente para garantir a sua qualidade, e ressalta as escolas técnicas, matéria que teria sido melhor tratada pelos Estados se o governo federal os munisse de instrumentos financeiros e de gestão para a sua consecução, como fizemos aliás em São Paulo, sem qualquer guarida federal.

Porém, antes desse final apoteótico, Lula esbraveja sobre um valor que afirma do qual não abre mão e aprendeu com a sua mãe analfabeta: a vergonha na cara. Quando o entrevistador pergunta sobre um filho que ficou rico em curto prazo (outro já tinha ficado rico há anos, com a venda de ações de sua empresa para um concessionário de telefonia) em operações com pessoas cujos interesses dependiam de decisões governamentais, Lula esbraveja indignado: “ele tem que provar que fez a coisa certa. Está subordinado às leis…”. Afinal, o que mais ele teria a dizer?

Avalie, leitor, se ele não é genial. Não merece a estatueta?

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26/11/2015