“O caminho de risco de Kassab”, por Alberto Goldman
Kassab sempre fora um aliado importante do PSDB nos últimos anos. Em 2002, como membro do então PFL, participou da coligação com o PSDB, quando elegemos Geraldo Alckmin governador e Claudio Lembro vice, este então no PFL e agora no PSD, partido criado por Kassab.
Em 2004, na eleição de prefeito da capital, formamos a aliança PSDB/PFL, e fomos vitoriosos com José Serra prefeito e Kassab vice. Logo em seguida, em 2006, a aliança se manteve com Alckmin candidato a presidente, quando então Lembo passou a ser o governador. Serra havia deixado a prefeitura e foi eleito Governador, e eu vice, quando Kassab assumiu a prefeitura, com nosso apoio e absoluta integração com o governo do Estado. Em 2008, no primeiro turno, não se deu a antiga coligação PSDB/PFL mas, no segundo turno, essa aliança foi possível, e o elegemos prefeito de São Paulo.
Em 2010, Kassab e seu então partido, o DEM lutamos, sem sucesso, pela eleição de Serra para presidente da República mas vencemos com Alckmin governador e Afif Domingos vice. E, em 2012, nos empenhamos na eleição de Serra para a prefeitura da Capital e Alexandre Schneider vice, este indicado por Kassab e filiado ao seu novo partido, o PSD. Aí então fomos derrotados.
Em todos esses anos a parceria nossa com Kassab foi benéfica, não só para os nossos partidos como para a concretização de políticas de interesse do povo. Quando Lembo assumiu teve de enfrentar a ação dos grupos criminosos que aterrorizaram o Estado. Quando Serra e Kassab assumiram tiveram de superar a situação da cidade, deixada em situação falimentar por Marta Suplicy. No governo do Estado Afif foi o secretário de Serra que conduziu com sucesso vários programas importantes e seu sucessor, Pedro Jeha, já no meu período de governo, lhes deu sequência.
Cito tudo isso para mostrar o quanto essa integração existiu não só nas lutas eleitorais mas, especialmente, na implementação dos programas e dos compromissos assumidos ( vide a operação delegada, convenio entre a Prefeitura e a PM, uma das vitrines do prefeito, e os bilhões investidos pelo Estado na capital ). Dentre eles, agora friso, os enormes avanços que tivemos na área da segurança pública.
Nessa área o indicador mais expressivo é o índice de homicídios. No Brasil, em 2000, era de 26,7 homicídios por 100 mil habitantes, com 45 mil mortos, passando a 26,2 por 100 mil em 2010, com 50 mil mortos, ou seja aumento no número absoluto e queda relativa irrisória. Isto é, nada mudou. Enquanto isso, em São Paulo, era de 42,2 homicídios por 100 mil habitantes em 2000, com 15,6 mil mortos, e em 2010 já havia caído para 13,9 por 100 mil, com 5,7 mil mortos, segundo o chamado “mapa da violência”. Em São Paulo houve, pois, uma expressiva queda dos homicídios durante os governos do PSDB. Esses dados diferem um pouco dos dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo que apresentam em São Paulo índices ainda menores, um pouco acima de 10 homicídios por 100 mil, certamente pela diferença de metodologias usadas.
Para minha surpresa Kassab, em declarações que fez e no texto que escreveu para a “Folha”, afirma que “o governo do Estado anuncia bônus, promete aumentar o número de policiais, dar força para a Polícia Científica… Mas a verdade é que não se pode improvisar políticas consistentes de segurança”. Como se constata, nenhuma palavra de crítica à questão de segurança pública no plano nacional, no Brasil, cujo governo ele hoje elogia, mas uma forte crítica aos governos de São Paulo que conseguiram, em diversos mandatos, de maneira constante, baixar o índice de homicídios a menos da metade. Não há, nem nunca houve improvisação. Nem o aumento havido no segundo semestre do ano passado dos índices de criminalidade que, aliás, já estão em queda, aproximando-se dos que se conseguiu no início dessa década, justificam a sua postura. Ele é, queira ou não queira, parceiro dos sucessos e insucessos nessa luta nos últimos 10 anos. .
Fazendo uma tentativa de entender a posição de Kassab só me resta concluir que ele, para justificar seus novos aliados, Dilma e companhia, necessita de um discurso contra o governo do PSDB em São Paulo e, mais ainda, para se colocar como uma liderança nova no Estado, que procura seu espaço político, atualmente ocupado pela polarização PSDBxPT, tentando atrair o eleitorado mais conservador, já há anos órfão de lideranças com esse perfil, engolidas que foram pelo confronto entre os dois grandes partidos.
Porém, desconhecendo os avanços nos governos do PSDB e usando as dificuldades atuais na área de segurança pública em São Paulo não terá argumentos consistentes. Não são justos e cheiram a oportunismo. A não ser que pretenda, tão somente, agir a serviço do governo federal, o que me parece não condizente com o seu perfil, nem com sua perspectiva política. Adotou um caminho de risco, preferiu um veio que lhe pareceu menos pedregoso e não ouviu seus companheiros de diversas jornadas.