“O fator Lyra”, artigo de Terezinha Nunes

Acompanhe - 26/04/2013

* Artigo de Terezinha Nunes, deputada estadual (PSDB-PE)

Terezinha Nunes Foto George GianniSegundo as mais variadas gramáticas da língua portuguesa, o sujeito está oculto em uma oração quando o agente da ação – a pessoa responsável por um ato – está implícito na frase, embora seu nome não se encontre impresso.

Na linguagem política, sujeito oculto sempre é o vice. Seja no município, no estado ou no plano federal, o vice – a não ser quando substitui o titular ou exerce cumulativamente uma outra função executiva – é uma pessoa que está presente mas não tem poder de decisão. Alguém que apenas paira no ar.

Com o advento da reeleição, porém, o vice deixou de ser propriamente um sujeito oculto para se tornar concreto. Embora possa ficar uma administração inteira à espera de oportunidades, ele passa a ser figura exponencial na sucessão do titular. Se o titular, por exemplo, se desincompatibiliza para concorrer a outro cargo, o vice assume de fato e de direito e pode concorrer à reeleição com o poder de mando, o que faz uma grande diferença.

No atual quadro da política pernambucana em que cresce, cada vez mais, a convicção de que o governador Eduardo Campos vai se desincompatibilizar para concorrer à presidência, o vice-governador João Lyra Neto “só não será candidato à reeleição em outubro de 2014 se não quiser” – como afirmou esta semana um amigo de Lyra.

Este mesmo amigo acredita, porém, que o vice-governador não entraria numa aventura. Só enfrentará a batalha se o governador Eduardo Campos o apoiar, mas, na hora determinada, dirá que tem, sim, o desejo de se submeter às urnas para continuar no cargo.

Para isso estaria verdadeiramente disposto a deixar o PDT e se filiar ao partido do governador, o PSB, onde já se encontra sua filha Raquel Lyra, atual deputada estadual. Evitaria, com isso que, no momento apropriado, alguém alegasse que o candidato a governador da situação deveria ser um socialista, fazendo o seu sonho morrer no nascedouro.

Lyra até hoje não deu um pio sobre o assunto e há convicção de grande parte dos deputados estaduais do PSB de que, fiel a Eduardo, apoiará quem o chefe escolher, mesmo que não seja ele próprio.

Há, porém, controvérsias.

Um deputado do PSB, de estreita ligação com o Palácio do Campo das Princesas, comentava, reservadamente, esta semana que “todos ficam falando, notadamente na imprensa, que os pré-candidatos são apenas os secretários até o momento citados, mas João Lyra não é só um forte pretendente como, ao contrário dos demais, vai estar sentado na cadeira e com caneta na mão em 2014”.

Todo esse quadro demonstra que o governador, se candidato a presidente, vai precisar ter um grande jogo de cintura para mexer com as pedras do xadrez estadual sem correr o risco de um xeque-mate.

Na verdade, além dos secretários lembrados como prováveis candidatos a governador há, no entorno da Frente Popular, o próprio Lyra, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) e o ministro Fernando Bezerra (PSB), todos querendo a mesma coisa.

Lyra, porém, ao contrário dos demais, estará no centro das atenções em qualquer cenário, o que só reforça o seu poder de fogo. Se for candidato à reeleição, precisará compor com todos os atores acima para continuar competitivo, sobretudo diante da possibilidade clara de enfrentar, no mesmo campo, um nome apoiado pela presidente Dilma e pelo ex-presidente Lula.

Se não for candidato, vai precisar “ser” convencido de que vale a pena dar tudo de si para ajudar alguém que hoje é tão concorrente quanto ele. A tarefa não será fácil.

Afinal, em termos de biografia, tão logo assuma o posto em definitivo ele vai passar a fazer parte do grupo seleto dos governadores pernambucanos. Pouco importa se ajudando ou não a eleger o sucessor.

X
26/04/2013