“O momento decisivo é o agora!” por Juvenal Araújo

Artigos - 11/01/2021

Início de ano é praticamente tudo igual: marcado por promessas, expectativas e simbolismos. Mas 2021 já tem um gostinho diferente. Não somos mais os mesmos, fomos obrigados a repensar nossas velhas atitudes, a nos tornar pessoas melhores e, quando escrevo, penso em tocar as pessoas que me leem, seja virtual ou pessoalmente. Verdade importa. Vidas negras também.

Nesses dias de recesso de fim de ano, parei um pouco com essa loucura de só sobreviver ao caos que ainda estamos experienciando, para reexistir. E assisti o documentário AmarElo – É Tudo pra Ontem do compositor e rapper Emicida, um brinde aos nossos trajetos, que deveria ser exibido compulsoriamente para afrofuturistas e para essa juventude pluridisciplinar, que sabe e quer fazer o bom uso das atitudes e das redes sociais na organização de um mundo sem opressões. O artista faz um resgate dos últimos cem anos, da história da cultura e dos movimentos negros no Brasil, tão invisibilizados à margem da sociedade.

Um outro cara que sempre me chamou muito a atenção por sua simplicidade e inteligência, é o ator, apresentador e escritor Lázaro Ramos, que além do especial Falas Negras, citado em outra ocasião (Leia Aqui), mais uma vez nos surpreende ao idealizar e apresentar o Programa Espelho. Em sua última edição de 2020, a atração exibida pelo Canal Brasil comemorou 15 anos nos presenteando com conteúdos nunca antes discutidos na televisão, fundamentais para nosso entendimento como sujeitos de uma nova civilização disciplinada na consciência política e social de ser negro.

Assistam, se inspirem, se reconheçam, sejamos recíprocos e fecundos com nossas obras, feitos, criações e empreendimentos. Vamos juntos erguer a luta antirracista para o centro do debate. E façamos tudo valer a pena, para nós e para as futuras gerações.

Quando nos apoiamos e tomamos consciência de quem realmente somos, relembramos nossa essência africana de coletividade. Somos chamados a nos aquilombar e carregar nossas cores, coros, corpos, carapinhas, potência, auto estima e alegria para onde quisermos. Quando vejo esses e tantos outros exemplos, minha coragem se refaz com a citação atribuída à notável e vital Conceição Evaristo: “Eles combinaram de nos matar. E nós combinamos de não morrer.” E estamos aqui, ressignificando nossas lutas e histórias. Avante!

Quantos outros Lázaros, Emicidas e Conceições estão por aí, realizando, crescendo ávidos para entoar um verdadeiro “a favela venceu”. Essa tão sonhada vitória que significa progresso para toda sociedade. Só vamos evoluir, no que dia que conseguirmos ser plurais, que soubermos respeitar e valorizar nossa diversidade. O caminho é longo, mas marchamos lado a lado com todos esses construtores fundamentais do pensamento negro e da crítica étnica-racial no Brasil. Pelo direito de existir.

Considere-se uma pessoa venturosa, se tem ou teve acesso à educação afirmativa de valorização da cultura negra brasileira. Seja farol para quem ainda está na escuridão do racismo, machismo e de outras correntes que ultrajam as especificidades de cada uma de nossas existências. Quando, de fato, abraçamos nossa negritude, nos enxergamos mais belos, suficientes, capazes e resistentes.

(*) Gestor público, é presidente de Honra do Tucanafro e subsecretário de Políticas Antidrogas do Distrito Federal

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11/01/2021