“O preço da coerência”, artigo de Andrea Matarazzo
Quando a presidente da República afirmou, em fevereiro, na comemoração dos dez anos de governo do seu partido que a sigla não herdou nada dos oito anos da exitosa administração do PSDB e que construiu tudo sozinho, Dilma Roussef não estava sendo nada mais que coerente.
Artigo do vereador paulistano Andrea Matarazzo (PSDB)
Quando a presidente da República afirmou, em fevereiro, na comemoração dos dez anos de governo do seu partido que a sigla não herdou nada dos oito anos da exitosa administração do PSDB e que construiu tudo sozinho, Dilma Roussef não estava sendo nada mais que coerente.
Afinal, quem foi contra o Plano Real, a estabilização da moeda, o controle da inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal e o compromisso com a qualidade do gasto público, esquece até que algum dia falou em “herança maldita” para simplesmente dizer que o país começou em 1º de janeiro de 2003. Quem faz festa para comemorar dez anos no poder deixa claro para o que chegou lá.
A coerência de Dilma ao deletar o passado nos remete, além da ingratidão aludida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao dia 18 de setembro do ano passado, quando ela vetou a emenda que isentava a cesta básica de impostos.
E por que ela fez isso, em flagrante contradição com o que seu partido sempre pregou? Por que se tratava de matéria de autoria do então líder do PSDB na Câmara, o deputado Bruno Araújo, do nosso partido em Pernambuco.
A emenda de Bruno à Medida Provisória 563/12, no âmbito do programa Brasil Maior, aumentava os benefícios que a MP previa de forma cirúrgica, para alguns setores e produtos, com desoneração de PIS, Confins e IPI.
E o fazia de maneira a efetivamente contribuir no combate à miséria no país, com uma queda consolidada de 10% nos itens da cesta, em benefício direto e imediato a quem mais precisa e compromete até 60% de sua renda na compra de alimentos.
O IPEA, instituição atrelada como nunca antes neste país ao Ministério da Fazenda, calculou que a carga tributária sobre a cesta básica chega a 14%. A Federação das Indústrias de São Paulo também se manifestou favorável à medida, assim como a Associação Brasileira de Supermercados.
Junto com o veto à emenda, a presidente montou um grupo de trabalho para estudar a redução dos impostos. Olha a coerência aí de novo. Ideia boa da oposição? Não mesmo, isso o PT não permite! Agora, meses depois, o governo anuncia o corte de alguns produtos da cesta básica.
Coerência, meus amigos. Coerência e método. Tudo em nome do que o partido da presidente comemorou em fevereiro passado, às custas dos mais necessitados. A emenda de Bruno Araújo é de julho de 2012. Portanto, a cesta básica poderia estar mais barata há quase um ano.
Segundo o IBGE, a inflação dos alimentos foi de quase 11% no ano passado. Só o arroz subiu 36,67%. Nos últimos dez anos, seu preço variou 38,55%. O feijão aumentou 200% de 2003 – quando o Brasil “começou” – a 2012.
São Paulo e Minas Gerais, “os do contra” para a presidente, já reduziram os impostos estaduais sobre a cesta básica. E o governo federal? Tudo em nome da coerência, de um projeto e seus objetivos. Não por outro motivo Dilma Rousseff disse no último dia 4 de março que na eleição seu partido “faz o diabo” contra os adversários, com a ressalva de que no exercício do poder é preciso respeito.
Respeito a quem? À oposição construtiva, que busca um Brasil melhor, sem fome e sem pobreza, não parece ser. Como também não é com aqueles que há meses já poderiam estar pagando menos pela comida que põem na mesa de suas famílias.