“PAC do palavrório”, por Ademar Traiano

Acompanhe - 27/06/2013

Na sexta-feira, 21, uma Dilma Rousseff acuada pelas ruas em fúria, foi à televisão e leu um discurso confuso, sem eira nem beira. Na segunda-feira, 24, a mesma Dilma reuniu 27 governadores e 26 prefeitos para anunciar “cinco pactos e uma proposta de constituinte exclusiva”.

Não foi o despertar de um governo que abusa do direito de errar, o que se viu foi o resultado de um surto criativo do marqueteiro João Santana somado as piores cabeças do PT. Uma nova tentativa de resolver problemas reais e urgentes do Brasil a golpes de marketing. A resposta de Dilma ao grito das ruas foi o PAC do palavrório.

Com o esse PAC o governo quer mostrar iniciativa, simular atender as demandas da população, usar as manifestações para emplacar velhas agendas do PT, e terceirizar as responsabilidades pela crise.

Programas de Aceleração do Crescimento lançados depois de estudos detalhados, previsão de recursos, impactos financeiros estão, constrangedoramente, paralisados pela incompetência gerencial do governo federal. O que esperar de um projeto fabricado em um final de semana?

Quando se sai do mero palavrório (“unir forças para manter a estabilidade da economia”), muito pouco se encontra de concreto nas propostas do governo. A proposta de destinar 75% dos royalties do petróleo à educação e 25% para saúde, por exemplo, perde o brilho quando se sabe que só vale para contratos firmados a partir de dezembro de 2012. Que começarão a gerar royalties dentro de 5 ou 6 anos.

Nos últimos 10 anos o governo federal destinou à mobilidade urbana apenas R$ 1 bilhão. Agora, Dilma fala em aplicar R$ 50 bilhões nesse setor, mas ninguém sabe se esse dinheiro existe ou se simplesmente saiu da cartola de João Santana, o mágico do marketing do PT.

O governo contrabandeou pautas petistas nos pactos improvisados. Uma delas é a importação dos médicos cubanos. Suspeita-se que, menos que resolver problemas de saúde do Brasil, pretende socorrer as finanças de Cuba (o governo cubano seria remunerado regiamente por cada médico que vier para cá). O Brasil do PT estaria sendo chamado para ajudar a financiar a ditadura da família Castro, porque a Venezuela em crise não tem conseguido bancar sozinha a mesada de Cuba.

A cereja envenenada do bolo apresentado por Dilma foi a proposta de uma constituinte exclusiva para a reforma política. Constituinte para reforma política foi o expediente que Hugo Chávez usou para hipertrofiar os poderes do Executivo e asfixiar a democracia na Venezuela. Chávez foi copiado por Corrêa no Equador e Morales na Bolívia. Agora é o Brasil querendo copiar o chavismo.

Felizmente, a tentativa tosca de se aproveitar das agitações das ruas para dar um golpe bolivariano durou menos de 24 horas. Abatida pelas reações fortes das instituições e dos meios jurídicos a presidente bateu em retirada sob uma chuva de críticas.

Ademar Luiz Traiano Foto Divulgacao ALPRNão se disse uma palavra sobre o que interessa. Sobre o enxugamento dos 39 ministérios. Nem um pio sobre o fim do trem bala. O trem, que iria custar R$ 12 bilhões, depois chegou a R$ 19 bi, passou para R$ 30 bilhões, e agora oficialmente é estimado em R$ 33 bilhões. Avaliações de especialistas falam em R$ 60 bi. O trem bala é um desastre antes de começar.

Não se disse uma palavra relevante sobre a inflação, controlada há quase 20 anos, depois de uma luta de todos os brasileiros, e que os governos do PT – com irresponsabilidade e incompetência – trouxeram de volta. Uma inflação que está esvaziando o carrinho de supermercado dos brasileiros.

Só um descolamento total da realidade pode levar alguém a imaginar que o descontentamento das ruas será resolvido com mais propaganda, com mais factóides, com mais palavrório.

*Ademar Traiano (PSDB) é deputado estadual, líder do governo Beto Richa na Assembleia Legislativa do Paraná.

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27/06/2013