“Paradoxos da educação brasileira”, artigo da senadora Lúcia Vânia

Acompanhe - 03/12/2012

* Artigo da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) publicado na edição desta segunda-feira (03) do jornal Diário da Manhã (GO)

Por mais que assuntos de alta relevância para o país estejam frequentando as manchetes da mídia nacional, nada se sobrepõe a temas que digam respeito à educação.

A consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), especializada em sistemas de aprendizado, divulgou, nessa última semana, o resultado de pesquisa realizada em 40 países, em que o Brasil aparece em penúltimo lugar. Foi formado um ranking global de educação com base em testes de qualidade de professores, além do número de alunos que ingressam nas universidades.

Ao lado do Brasil, mais seis países foram incluídos na lista dos piores sistemas educacionais do mundo: Turquia, Argentina, Colômbia, Tailândia, México e Indonésia. O Brasil ficou acima apenas da Indonésia, que ocupa o último lugar. Finlândia, Coréia do Sul e Hong Kong aparecem nos primeiros lugares. Essas nações são consideradas as superpotências da educação.

E já que estamos falando em mau desempenho da educação brasileira, é bom relembrar que, entre 65 países, o Brasil ocupa a 53ª posição no índice Pisa, a respeitada medição da situação da educação básica no mundo.

Por outro lado, num desses paradoxos muito comuns do nosso cenário educacional, estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que incluíram 35 países, mostram que, entre 2000 e 2009, o Brasil foi o segundo que mais aumentou a parcela do PIB investida em educação, ficando atrás somente da Rússia. Os dois países registraram uma elevação de 57% (Brasil) e 90% (Rússia). Na verdade passamos de um percentual de 3,5% para 5,5%.

E mais: se considerarmos o investimento público e privado, relacionando-o ao PIB, o Brasil está próximo dos países desenvolvidos, chegando a 6,2% em média.

Que paradoxo é este em que os investimentos estão sendo feitos e os resultados são os que enumeramos nos primeiros parágrafos deste artigo?

A professora Priscila Cruz, diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, ao comentar o assunto, faz a seguinte consideração: “É impossível afirmar que o aumento de investimento não foi importante. Mas é igualmente impossível ignorar o fato de que o avanço da educação não foi proporcional a esse investimento”.

A economista chefe para a educação do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Bárbara Bruns, afirma, em entrevista, que o “Brasil não precisa gastar mais com educação. Precisa gastar melhor”. Ela diz que a educação brasileira necessita, basicamente, de um choque de gestão e foco no ensino básico para o seu aprimoramento.

Dados da Corregedoria Geral da União (CGU) indicam que 35% dos municípios auditados apresentam irregularidades na utilização dos recursos destinados à educação. Outra distorção é que um estudante universitário brasileiro custa aos cofres da nação 6 vezes mais do que um aluno do ensino básico, quando a média dos países desenvolvidos é de 2 para 1.

O estudo da consultoria britânica, inicialmente citado, esclarece que a análise dos sistemas educacionais bem sucedidos aponta que os investimentos são importantes. Contudo, mais importante é implantar uma cultura nacional de aprendizado, que implica na valorização dos professores, das escolas e da educação.

Outras ponderações são feitas pelos especialistas em relação à qualidade dos gastos: a dificuldade dos gestores em, em qualquer nível de governo, gerirem bem os recursos disponíveis; o alto investimento destinado para a construção de escolas, que deveria custar em torno de 1,5 milhão de reais e sai, em média, por 4 milhões; os altos índices de repetência, que estão em torno de 20% anualmente, e que levam os governos a gastarem, também, 20% a mais para atender aos alunos repetentes.

E, outro paradoxo, é que, apesar dos milhões gastos com educação, o nosso custo aluno per capita é de 2.405 dólares, enquanto a média na OCDE é de 7.719 dólares. No ensino médio essa mesma proporção é mais escandalosa: 2.235 dólares e 9.312 dólares, respectivamente.

Pretendo aproveitar a discussão do Plano Nacional de Educação, que está no Congresso, para colocar em discussão todas essas questões, que são cruciais para a construção do país que queremos.

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03/12/2012