“Pernambuco via tablete”, artigo de Terezinha Nunes
* Artigo de Terezinha Nunes, deputada estadual (PSDB-PE)
Em plena pré-campanha presidencial, o governador Eduardo Campos causou perplexidade esta semana quando respondia a um repórter da Folha de São Paulo sobre a utilização do Diário Oficial do Estado em benefício pessoal – como foi denunciado pelo jornal – e sobre os deslocamentos constantes que tem feito para outros estados, sem se licenciar do cargo.
Nos dois casos, o governador utilizou a informática para responder às indagações. Sobre o Diário Oficial, um jornal que circula desde 1924 e é um dos mais antigos do País, ao invés de assumir culpa pelo ocorrido, anunciou que o D.O. adotará a forma digital antes de concluído o seu mandato, o que excluiria a possibilidade de continuar a divulgar as ações do Executivo.
No segundo caso, talvez no calor da provocação, Eduardo deixou escapar outra afirmação infeliz. Disse que, na era da informática, sua presença no Estado não seria fundamental, pois acompanha tudo via tablete.
O tablete, hoje muito conhecido pela juventude, entrava assim na discussão política nacional, mas de forma pejorativa.
Certamente, Eduardo não levou em conta de que é fundamental, mesmo na era da informação tecnológica, acompanhar de perto uma administração, fazer cobranças e, sobretudo, conversar com as pessoas.
Está certo que ele detém altos índices de aprovação, mas também é patente que, se no primeiro mandato, cuidava ele próprio de conduzir a equipe, neste segundo mandato, talvez exatamente pela frieza do tablete, as coisas estão deixando a desejar, como tem mostrado a oposição na Assembleia Legislativa.
Não é preciso ir muito longe para constatar isso. No ano passado, Pernambuco cresceu menos do que a Bahia e o Ceará, revertendo uma tendência de mais de oito anos, quando crescia mais do que os dois vizinhos nordestinos. Esta semana, o mesmo jornal Folha de São Paulo mostrou que Pernambuco foi o estado brasileiro que apresentou o maior déficit em suas contas em 2012. Só não entrou em insolvência porque conseguiu vultosos empréstimos nacionais e internacionais.
Na educação, o Estado amarga a 16ª posição nacional no ranking dos estados no que se refere às notas dos alunos das escolas públicas avaliados pelo IDEB (índice de Educação Básica). Além dos estados Sudeste, o que seria natural, perdemos neste ranking para a Bahia e o Ceará e até para estados pequenos do norte do País.
Ninguém pode deixar de reconhecer que, na área de segurança, o governador inaugurou e mantém um bom programa, o Pacto pela Vida, mas nas duas últimas avaliações, o Pacto não vem conseguindo cumprir a meta estabelecida pelo próprio Palácio das Princesas de redução de 12% nos índices de homicídios e cresce, a cada dia, a violência no interior com constantes e preocupantes explosões de caixas das agências bancárias, o que tem causado pânico à população.
Na saúde, o governador inaugurou UPAS e hospitais na Região Metropolitana, mas todos os dias surgem denúncias de pacientes que sofrem para conseguir atendimento nas emergências e de pessoas que permanecem às vezes mais de um mês em uma maca em corredores de hospitais à espera de uma cirurgia. O abarrotamento de pacientes no Hospital das Clínicas (HC), onde nem os elevadores funcionam, é um sintoma de que a rede estadual não corresponde ao esperado. Se as emergências mantidas pelo Governo Estadual estivessem funcionando, ninguém iria, certamente, desejar madrugar no HC em busca de um atendimento que não existe.
Isso sem falar na seca que já dizimou mais de 50% do rebanho do Estado. Esses animais ou foram abatidos prematuramente, transferidos para outros estados ou, o que é pior, morreram por falta de água e alimento e suas carcaças se encontram espalhadas por estradas e propriedades.
Nenhum tablete resolve isso ou ajuda a amenizar o problema. Só a presença e o empenho do chefe da equipe pode pelo menos reduzir o impacto negativo dessas situações.