“Porque hoje é um dia para não esquecer”, artigo de Miriam Leitão

Acompanhe - 22/11/2012

* Artigo de Miriam Leitão publicado nesta quinta-feira (22) no Blog do Noblat

O ministro Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal terá defeitos e virtudes, vai errar e acertar. Negros continuarão sendo preteridos em empregos para os quais se prepararam e serão as maiores vítimas da violência. Os indicadores sociais ainda mostrarão por muito tempo a desigualdade racial. Nada vai mudar porque hoje ele assumiu a presidência do Poder Judiciário.

Mas tudo já mudou. Um negro atravessou uma barreira que parecia intransponível. Houve quarenta e três antes dele que foram não negros.

Várias pessoas perguntam no twitter: mas é importante a cor da pele? Sim, é importante. Porque até hoje a cadeira de chefe do Judiciário era monopólio de brancos. Como até 2010 a cadeira de presidente da República era monopólio de homens. O primeiro que quebra o impedimento tem que ser festejado.

Não precisa ser amado por isso, nem tratado de forma diferente, nem poupado de críticas, mas o momento precisa ser celebrado. Porque o país fica um pouco mais democrático a cada passo desse.

O futuro terá que ter cada vez mais diversidade no poder brasileiro ou não será futuro. Seria o asfixiante passado em que apenas homens brancos exerciam o poder.

O presidente do Supremo Tribunal Federal será espelho para outros meninos negros e meninas negras. E as crianças de qualquer cor aprenderão apenas com a cena de vê-lo onde está que todos podem almejar
o lugar de destaque.

Joaquim Barbosa está lá porque merece estar. Tem sólida formação jurídica e sabedoria para estar na cadeira em que está. Fez um discurso com voz suave em que defendeu o princípio básico de qualquer república, mas que tantas vezes falha: “o mais sagrado dos direitos é o de ser tratado como igual, mas há um déficit de direito no Brasil. Nem todos são tratados igualmente”.

A primeira mulher a assumir o tribunal, ministra Ellen Gracie, disse ao sair que o Brasil muda a partir de hoje, porque “se percebe em toda a sua integridade em toda a sua diversidade”.

X
22/11/2012