“Riso ou choro?”, artigo da senadora Lúcia Vânia
Artigo da senadora Lúcia Vânia, publicado no jornal Hoje (GO), desta segunda-feira (27)
* Artigo da senadora Lúcia Vânia, publicado no jornal Hoje (GO), desta segunda-feira (27)
As repercussões em todas as mídias, sobre os resultados do IDEB, foram as mais desencontradas. De um lado a manchete proporcionada pela reação da Presidente da República, pela qual se disse “Presidente comemora números do IDEB”. Seguem-se as expressões das outras reações: “IDEB mostra derrota da educação no Brasil”; “Cristovam Buarque: educação brasileira está falida”; “Ideb: ensino médio piora em nove estados”; “37% das cidades não atingem metas do Ideb 2011”; “Ideb mostra educação ainda medíocre no país”; “Brasil sem educação, uma ameaça aos BRICS”.
Enfim, entre as comemorações governamentais e a estupefação dos outros setores da sociedade, desde políticos, analistas, especialistas em educação e gestores, parece que se colocam realidades diferentes ou que resultados diferentes estão sendo analisados.
No Programa de Rádio Café com a Presidenta, usaram-se números misturando a rede pública e a privada. Diz-se que nos anos iniciais do Ensino Fundamental o Brasil teve nota 5 no Ideb e nos anos finais atingiu a nota 4,1.
De fato, sem a rede privada, o Ideb nos anos iniciais cai para 4,7 e nos anos finais chega a 3,9. Deve-se pensar sempre que os parâmetros estabelecidos são de 0 a 10.
Por causa desses números, o senador Cristovam Buarque, educador, ex-reitor da UnB, ex-ministro da Educação, em pronunciamento no plenário do Senado, convocou todas as “forças nacionais” para debater o que ele chamou de “infraestrutura intelectual” e a educação brasileira, que ele classificou de “depredada, podre, reprovada e falida para as exigências dos tempos atuais”.
De minha parte, tenho certeza de que a educação brasileira, analisada à luz dos números dos últimos anos, precisa de um urgente choque de gestão.
Afora o resultado do IDEB, lembremos do 88º lugar que o Brasil ocupa no ranking da educação divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU); e mais, o resultado do exame Pisa, que avalia a educação em 56 países e onde o Brasil se coloca em penúltimo lugar. São resultados lamentáveis e que dão uma idéia real de que a nação precisa se levantar em prol de uma educação de qualidade.
O educador João Batista Araújo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, ONG dedicada à educação, em entrevista a uma revista nacional, na semana passada, disse, taxativamente, “sobram pedagogos e faltam gestores”.
A análise que os melhores especialistas do país fazem dos resultados da chamada Prova Brasil é que realmente não há motivos para comemorações. Não ocorreram avanços de 1995 para cá, embora os gastos com educação tenham aumentado. Mas, como conclui o professor João Batista, há pouco citado, “ou os programas criados são bons e não foram bem executados, ou são desnecessários e não trouxeram benefício algum”.
Os centros de excelência, que são algumas boas escolas, não são a regra, mas a exceção. A educação brasileira só melhorará quando as boas escolas forem a regra no país e a elas tenham acesso qualquer pessoa, em qualquer região.
A Prova Brasil revela, também, que mais de 50% das crianças brasileiras não sabem matemática. Em consequência, hoje o Brasil vem importando engenheiros de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Estados Unidos e até da China, país mais distante de nossa cultura.
Concluo, pois, que os resultados há pouco divulgados estão mais para choro do que para riso.
Estejamos conscientes de que há um caminho a percorrer na educação brasileira, e que Goiás aperfeiçoe os caminhos que está seguindo, para que nossas escolas cheguem ao nível de qualidade que o desenvolvimento do Estado exige.
*Lúcia Vânia é Senadora (PSDB) e jornalista