“Sementes de paz e esperança”, artigo da senadora Lúcia Vânia
* Artigo da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) publicado neste domingo (18) no jornal Diário da Manhã (GO)
A doutora Zilda Arns, de saudosa memória, com quem tive o privilégio de conviver intensamente durante minha gestão na Secretaria Nacional de Assistência Social, assim se expressou: “As crianças, quando bem cuidadas, são uma semente de paz e esperança”.
Zilda Arns, que dedicou sua vida à infância brasileira, através da Pastoral da Criança, fez esta afirmação no Haiti, pouco antes de falecer, vitimada por um terremoto, em janeiro de 2010. A Pastoral da Criança estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes sejam atendidas pela entidade.
Nesta semana que passou o Senado realizou a V Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz para destacar, como o faz anualmente, a importância das políticas públicas para essa fase de desenvolvimento das crianças brasileiras.
O Relatório de Monitoramento Global 2010 já chamava a atenção para o fato de que a educação e os cuidados recebidos nos primeiros anos de vida são fundamentais para a aprendizagem nos anos posteriores, como também aumentam as chances de superação da pobreza e de outras desvantagens sociais, o que é extremamente significativo.
Segundo o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI), em parceria com pesquisas da PUC-Rio, 45% das crianças brasileiras na primeira infância ainda estão abaixo da linha da pobreza.
A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) 2006 revelou que 11,5 milhões de crianças de até seis anos viviam em famílias com renda mensal abaixo de meio salário mínimo per capita, o que representava pouco mais da metade das crianças brasileiras nessa faixa etária.
Com o processo de inclusão social ocorrido nos últimos anos essa situação teve melhoras consideráveis. Mesmo assim, de cada cinco brasileiros de até 17 anos, pelo menos um ainda vive em uma família sem renda suficiente para garantir a satisfação das necessidades nutricionais básicas de seus membros. Infelizmente, ainda pode-se dizer que o desenvolvimento da primeira infância no Brasil se faz sob a tragédia da desigualdade social.
O relatório Situação Mundial da Infância 2012, do Unicef, chama a atenção para o explosão urbana do mundo e seus efeitos sobre as crianças.Mais de 50% da população do mundo já vivem em cidades médias e grandes, incluindo aí mais de um bilhão de crianças.
O documento do Unicef evidencia que a vida urbana favorece um grande número de crianças que passam a ter acesso à educação, ao saneamento, à saúde e recreação. Parte da população infantil, entretanto, embora esteja próxima a esses serviços, é impedida de usufruí-los. Temos que considerar, ainda, crianças que são forçadas a trabalhar.
Pelo relatório do Unicef, o Brasil se insere, com toda a propriedade, nesse contexto de urbanização: o país está com 160 milhões e 800 mil pessoas em suas zonas urbanas e tem São Paulo, com 20 milhões de habitantes, como uma das 5 cidades mais populosas do planeta. De sua população total de 193 milhões e 946 mil habitantes, 84% estão nas zonas urbanas. E não é preciso fazer nenhuma descrição da situação de vida de milhares de famílias nas zonas periféricas de nossas grandes cidades.
Não posso, de passagem, deixar de evidenciar a extrema relevância do ato de brincar. Muitas vezes, relegadas como atividades pouco importantes, ou até como aquilo que se faz quando não se tem nada para fazer, as brincadeiras garantem o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e a consolidação de valores culturais, bem como possibilita a socialização e o convívio familiar da criança.
O novo cenário exige o resgate de valores essenciais à vida em sociedade, tais como a ética, o amor e respeito às diferenças. A criança não é só o futuro do país. Ela é muito mais. É um sujeito com direitos e deveres, que possui nome, história, sonhos, desejos e aspirações.
Todos nós, parlamentares, cidadãos, autoridades, civis, militares, religiosos, empresários, governantes, gestores, líderes, educadores, trabalhadores, representantes dos diversos segmentos organizados da sociedade, somos responsáveis pela educação do nosso povo. Pois tudo começa aí, nessa fase, na Primeira Infância, na escola, no futuro, na vida.
Enfim, em nossas crianças estão as sementes da paz e da esperança.