Senadora Lúcia Vânia critica falta de projetos para o futuro

Senadora (foto) produziu texto em que afirmou que políticas econômicas e sociais empreendidas pelo governo federal criam ilusão de um “país rico” que não corresponde com a realidade. Para a congressista, o Brasil sente a falta de um programa que planeje o país para o futuro.

Acompanhe - 24/04/2012

Brasília – A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) contestou as políticas econômicas e sociais do governo federal. Para a parlamentar, o país carece de um projeto consistente para o futuro.

Leia, abaixo, texto produzido pela congressista.

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Lúcia Vânia atacou falta de alternativas para a economia

O que foi construído no governo FHC vem sendo dilapidado para mostrar um falso bem estar.

Há cerca de 10 dias fiz pronunciamento no plenário do Senado abordando a seguinte questão: o Brasil tem um projeto para o futuro ou estamos vivendo um período de populismo para o consumo?

Por mais que as aparências indiquem o contrário, o Brasil não tem, no momento, um projeto de futuro.

Os últimos números da economia brasileira mostram que o Brasil é algo muito distinto da máquina de crescimento que o governo tentou mostrar na última campanha presidencial.

Evidentemente, a crise européia, e suas repercussões, colocam imenso constrangimento à economia e à política econômica. Mas essa é uma questão do mundo, da instabilidade global, e terá sua condução por seus próprios caminhos e meios.

O país está numa encruzilhada. As decisões de agora vão definir o perfil do nosso futuro e nosso espaço no contexto internacional.

O comportamento da economia brasileira é frágil. Tomando o crescimento de 2009 a 2011, o PIB brasileiro avançou apenas 3,3%, algo muito próximo ao desempenho que o PT tanto criticou durante o Governo do Presidente FHC.

Só que ali, nos anos de implantação do Real, estava-se reconstruindo toda uma institucionalidade e toda uma cultura inflacionária; agora, o que foi construído vem sendo dilapidado para mostrar um falso bem estar.

Mas, preocupa-me discutir o futuro do país.

Quero apontar três pontos nevrálgicos:

1) nossa indústria de transformação era, ao final de 2011, 5,7% menor que no terceiro trimestre de 2008, momento onde a crise internacional emergiu;

2) comparando os mesmos momentos, nossas exportações cresceram apenas 7%, isso mesmo, em 3 anos, apenas 7%;

3) mas, nossas importações no pós crise explodiram: no último trimestre de 2011 eram 35% superiores ao trimestre onde a crise emergiu, em 2008.

O problema mais grave é que o percurso da economia brasileira até a crise de 2008 mostrou-se uma economia de consumo sem investimento.

Na média, a taxa de investimento durante o período entre 2003 e o terceiro trimestre de 2008 foi apenas 2,9% superior ao período compreendido entre o início de 1994 e o final de 2001 (não se computou o período eleitoral de 2002, onde a forte queda do investimento decorreu das desconfianças em relação à transição que se delineava).

Tomado o período de 2009 ao final de 2011, as coisas pioraram e a taxa de investimento foi, na média, apenas 2,8% superior à registrada entre 1994 e 2001.

Mas agora a situação é pior que no período pré-crise internacional: além do consumo sem investimento, temos o crescimento do consumo de produtos importados. As manchetes dos jornais já estamparam que 20% dos bens finais aqui consumidos não são aqui produzidos.

Mas, sem alarmismo, é mais grave que isto: para continuar a sobreviver com o Real supervalorizado, as empresas têm que ampliar a presença de insumos importados em sua produção. Muitas vezes, o diferencial não é a qualidade do produto importado, mas apenas a possibilidade de trocar um custo em reais por um custo em dólares.

É evidente que o consumo vai bem. Há pelo menos três anos, as medidas de desoneração de impostos e o consistente avanço do emprego, especialmente em termos quantitativos, de vez que os novos postos de trabalho são basicamente com remunerações abaixo de dois mínimos, vêm dando lastro ao crescimento do consumo.

Em 2010, a demanda contribui com 9,2% ao crescimento do PIB, ou seja, exigiu importações para viabilizar um crescimento do PIB de 7,5%. O mesmo ocorreu em 2011, em escala mais moderada (3,8%), mas ainda acima da capacidade de produzir de nossa economia.

Mas o grande fator a explicar o consumo tão acelerado não é a expansão da renda dos brasileiros, mas sim seu acesso ao crédito.

Crescendo a uma taxa anual média de 13% em termos reais, o estoque do crédito doméstico ao setor privado saltou de 24,8% do PIB, em 2003, para 47,1% do PIB, ao final de 2011.

Não que a expansão do crédito ou do consumo seja ruim. Ao contrário, é para dar melhores condições de vida a todos os cidadãos é que faz sentido dirigir o país.

Mas há grandes riscos. A expansão da vulnerabilidade de nossa balança comercial só não transparece por conta dos altos preços das commodities. Aliás, alguns as satanizam como responsáveis pela desindustrialização.

Sou completamente contra essa tese. Os nossos grandes itens de exportação são um patrimônio do Brasil e a imensa capacidade tecnológica que os diversos setores conseguiram pode ser indicada com um dos casos de sucesso de nossa economia. Todavia, jogar nas commodities toda a carga de nosso futuro, já é uma estratégia do desastre.

Mas, já passamos ao terreno da angústia. Será que é impossível ver que o país está perdendo sua indústria? Será que estamos fadados a conviver com a necessidade de ficar torcendo pelo crescimento da China para garantir que os preços das commodities continuem a sustentar nosso saldo comercial?

Será que o pré-sal tem que ser nossa única alternativa?

Temos que reconhecer que os dois governos que antecederam a este mantiveram os paradigmas econômicos deixados pela gestão FHC.

É verdade, também, que esses governos inovaram ao reincorporar o que de mais antigo temos no aparato das políticas governamentais: o extravagante crédito do BNDES com recursos do Tesouro Nacional, as seguidas manipulações no resultado fiscal do Governo Federal, a reestatização do investimento nos setores de petróleo e energia. Mas, em seu cerne, a questão é de projeto.

É fácil dar um banho de consumo no país, regado a crédito farto. Mas desenhar uma nova estratégia de investimento e construção de nova capacidade produtiva é muito mais difícil e envolve coisas que o governo não consegue coordenar: o pacto federativo, a institucionalidade do setor elétrico e a forma de compor interesses na indústria do petróleo. O populismo do consumo tem seus limites, o País espera um projeto para o futuro.

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24/04/2012