“Tempos Estranhos”, por José Aníbal

Acompanhe - 26/09/2013

Jose Anibal Foto George Gianni PSDBLá se vai mais de uma semana desde a entrevista em que um ministro de Estado ameaçou, nas páginas de “O Globo”, tomar providências “impublicáveis” caso fosse demitido pela presidente. Não bastasse o constrangimento, ficou no ar um cheiro de prevaricação.

A entrevista foi depois da descoberta de desvios de quase meio bilhão de reais numa pasta em que, segundo o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, irregularidades já tinham sido apontadas em auditorias de 2009, 2010, 2011 e 2012.

Quando ainda não havia gente na rua e o governo Dilma era todo promessa e expectativa, a marquetagem palaciana não tardou em criar a fábula da faxina.

Na época, a intransigência com “malfeitos” ganhou ares de expiação cívica, mesmo que o objeto da limpeza fosse a estrutura herdada de Lula.

Hoje, pressionado pelas fissuras na base parlamentar e com a economia em ponto morto, o Planalto parece ter aposentado de vez a vassoura e o esfregão.

A faxina está suspensa. Ao invés do lixo, o fundo do tapete.

A firmeza de compromisso não é, definitivamente, uma marca desse governo. O combinado raramente é cumprido. Mudou o vento, mudou o discurso do governo. Para tudo se tem uma desculpa e um culpado. E nada anda.

Os resultados que o governo tem para mostrar são ruins. Basta fazer um teste: as obras que iriam resultar em prosperidade e dinamismo, prometidas na última campanha eleitoral, estão todas atrasadas ou abandonadas. As concessões, travadas.

As pessoas percebem que a vida cotidiana ficou mais instável, seja nos preços ou na insegurança diária  A percepção de que o dinheiro público quase sempre foi mal empregado é constante. A desconfiança com as instituições generalizou-se.

Daí, quando o chefe da CGU diz que as entidades que desviaram dinheiro público são “carimbadas, velhas conhecidas da nossa auditoria”, e o governo silencia diante da ameaça feita por seu subordinado, é porque o que restava de espírito público acabou.

Tempos estranhos estes. Não dá mais para disfarçar. Há uma eletricidade de fim de ciclo no ar.

Secretário Estadual de Energia de  São Paulo

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26/09/2013