“Trem sem bala”, análise do Instituto Teotônio Vilela

O que começou como uma má ideia acabou se transformando num péssimo negócio

ITV - 14/03/2013

* Análise do Instituto Teotônio Vilela

Ferrovia foto Wilson Dias ABrO que começou como uma má ideia acabou se transformando num péssimo negócio. Sem conseguir atrair investidores privados para participar do rocambolesco processo de implantação do trem-bala brasileiro, o governo petista anuncia agora que vai socializar o prejuízo. Vem aí a “Trembrás”, mais uma empresa da holding “Buracobrás”.

O trem-bala deverá ser estatizado, publica o Valor Econômico em sua edição de hoje. Grosso dinheiro público irá bancar 80% da bilionária operação, reunindo a participação da estatal especialmente criada para o negócio (a EPL), fundos de pensão de empresas públicas como Previ, Petros e Funcef e até os Correios. É o contribuinte pagando a fatura.

Por ora, sócios privados têm dito que querem distância do empreendimento. Avaliam que se trata de investida arriscada demais para se animarem a pôr algo como módicos R$ 50 bilhões na empreitada – ou mais que o dobro do inicialmente divulgado quando o governo petista começou a falar na obra, ainda no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo do partido que se diz dos trabalhadores resolveu despejar dinheiro do contribuinte para tentar evitar o fracasso da iniciativa: o leilão está marcado para 13 de agosto e, hoje, o mais provável é que termine às moscas. Antes que se torre mais dinheiro à toa, melhor seria que a ideia fosse varrida para debaixo do tapete.

Quando as conversas começaram, o trem-bala deveria ser um empreendimento exclusivamente privado. Logo se viu, com base na experiência internacional, que iniciativas desta natureza, quase forçosamente e pelo menos nos seus anos iniciais, demandam alguma participação estatal.

O governo do PT, então, passou a falar em bancar até um terço da obra, criando para tanto mais uma de suas dezenas de estatais. Em dezembro passado, quando novo edital do leilão foi divulgado, a fatia da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) já foi aumentada para 45%. Como nem assim o negócio parece parar de pé, os contribuintes fomos chamados a quitar a dolorosa. O céu é o limite.

Mas as doideiras petistas no setor ferroviários não se resumem a “apenas” torrar dinheiro público. Agora, os sábios do Planalto também decidiram que irão obrigar os concessionários das novas ferrovias a serem licitadas a comprar pelo menos 75% dos trilhos usados nas obras no Brasil, informa hoje a Folha de S.Paulo. Detalhe: desde 1996, o país não produz um único metro do produto.

“No mercado, a regra está sendo vista como um tabelamento de preço disfarçado para quem vier a produzir os trilhos no país, o que prejudicaria sua competitividade. Outra crítica é que a exigência poderá tornar a obra mais cara, o que preocupa”.

Já vimos isso antes e a história nunca termina bem. Sem a necessidade de ir muito distante no tempo, basta ver o que a Petrobras está tendo que enfrentar para honrar os percentuais de conteúdo local aos quais as regras baixadas pelo PT a sujeitam.

No setor do petróleo, o resultado dessa política – pela qual o percentual produzido internamente deve ser de, no mínimo, 55%, podendo chegar a 77% – tem sido custos ascendentes, prazos não cumpridos e obras atrasadas. A empresa já até tentou convencer a ANP a atenuar as exigências, mas não foi bem sucedida.

Há no atual governo uma convicção – melhor seria dizer um desvio de comportamento – de que o dinheiro do Estado é a salvação para tudo. Se determinada ideia não para de pé por inconsistências na sua elaboração, irrigue-a com o recurso recolhido dos contribuintes que tudo se ajeita.

Assim é também, por exemplo, em Belo Monte, em que quase só há participação estatal no negócio. E assim será no fundo com o qual o Ministério da Fazenda irá criar uma espécie de “Banco do Tesouro Nacional”, destinado a repassar dinheiro do Tesouro para o sistema bancário privado financiar o pacote de concessões de infraestrutura. Nem a pomada Minancora era tão milagrosa…

O distinto público agradeceria se a gestão petista se eximisse de torrar seu suado dinheirinho em aventuras desta natureza e parasse de cometer temeridades com os recursos públicos. Mais que isso, adoraria se Brasília desse ao trem-bala o destino que ele merece: o fundo empoeirado de uma gaveta. Até o dia em que um governo que saiba o que e como fazer, atraindo capital privado e deixando ao Estado apenas uma participação acessória, fosse capaz de tirar a obra do papel, sem passar a conta para o contribuinte pagar.

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14/03/2013