“Um Itamaraty altivo”, editorial de O Estado de S. Paulo
Publicado no jornal O Estado de S. Paulo – 17/05/16
Sob nova direção, o Itamaraty finalmente usou os termos adequados para lidar com as autocracias bolivarianas, que passaram a última década a usufruir da leniência do governo petista enquanto aniquilavam a democracia em seus países. A primeira nota oficial do Ministério das Relações Exteriores sob o governo de Michel Temer serviu para rebater, com dureza, os ataques que a nova administração brasileira sofreu de países latino-americanos como Venezuela e Cuba, que qualificaram o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff como golpe e declararam não reconhecer Temer como presidente interino.
Na nota, que fez referência às manifestações de Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, além da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), o Itamaraty acusou esses países de “propagar falsidades sobre o processo político interno no Brasil”, que “se desenvolve em quadro de absoluto respeito às instituições democráticas e à Constituição Federal”. O Itamaraty deu-se ainda ao trabalho de explicar que “o processo de impedimento é previsão constitucional” e que “o rito estabelecido na Constituição e na lei foi seguido rigorosamente, com aval e determinação do Supremo Tribunal Federal”, de modo que “o vice-presidente assumiu a Presidência por determinação da Constituição Federal, nos termos por ela fixados”.
Houve ainda uma segunda nota oficial, dessa vez direcionada ao secretário- geral da União das Nações Sul- Americanas (Unasul), Ernesto Samper, para quem o impeachment, se concluído, será uma “ruptura da ordem democrática”, o que poderia levar o bloco a suspender o Brasil. Em tom bastante incisivo, o Itamaraty informou que Samper expressou “juízos de valor infundados e preconceitos contra o Estado brasileiro e seus Poderes constituídos”, fazendo “interpretações falsas sobre a Constituição e as leis brasileiras”. A mensagem qualificou ainda de “interpretação absurda” a presunção de que a democracia estaria em risco e aproveitou para denunciar, corretamente, que Samper, ao se alinhar ao bloco dos bolivarianos contra as instituições brasileiras, agiu de forma incompatível com o mandato que exerce na Unasul.