“O voo de galinha e os custos da candidatura”, por Antonio Imbassahy
A renomada revista inglesa The Economist escolheu o Brasil como tema para uma extensa reportagem de capa em sua edição mais recente, onde busca explicações para uma pergunta pertinente: por que, mesmo dispondo de potencial interno invejável e atravessando conjunturas externas favoráveis, o Brasil não decola, nem consegue acompanhar o ritmo de crescimento dos outros países emergentes, apresentando o pior desempenho entre eles?
A matéria, de ótimo conteúdo jornalístico, foi taxada pelos assessores do Planalto e a militância petista como uma espécie de ‘encomenda’ oposicionista para desmerecer o governo Dilma, quando trata-se de uma análise profunda dos fatores que ora travam o nosso desenvolvimento e que podem ser resumidos em duas vertentes básicas: O foco único no palanque, na perpetuação do poder partidário, na reeleição da presidente-candidata e, mais grave, a tentativa ideológica de transpor para o Brasil um modelo ‘bolivariano’ de gestão pública, ignorando a grandeza, a história e a diversidade da Nação.
O custo da candidatura à reeleição de Dilma é inimaginável e os estragos são já evidentes. Estão explícitos nos 40 ministérios e nas 13 empresas federais criadas de 2004 a 2013 para acomodar “companheiros” dos partidos da base, numa gastança desenfreada ‘como nunca dantes neste país’. No mais, a nossa durona e inflexível gerente-candidata-presidente anda a ‘fazer o diabo’ em função do palanque/2014, acobertando escândalos como o do Ministério do Trabalho, calando boca, olhos e ouvidos para os desmandos, ameaças e chantagem explícita do titular da pasta. A candidata capricha na imagem cuidando de factóides eleitoreiros tipo o episódio da embaixada boliviana, os médicos cubanos e o discurso inócuo na ONU.
Enquanto isso, o país patina com crescimento pífio, volta da inflação, perda de credibilidade internacional e do empresariado nacional em função de quebras de contratos, regras que mudam de uma hora para outra, perda de confiança. Convivemos com apagões de energia e a paradeira geral, de sul a norte. Tornamo-nos um imenso canteiro de obras paradas e inacabadas. O caráter intervencionista controlador do governo tem devorado aos poucos a economia, afetando já o setor de gás, energia, comunicações, transportes, rodovias … até a nossa gigante Petrobrás.
A reportagem da The Economist deixa claro que um dos maiores entraves para o crescimento é a precária infraestrutura. E perguntamos por que o PAC não conseguiu até agora concluir 20 % das obras prometidas; por que as tais ‘concessões’ de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias não andam; cadê a Transnordestina, a Fiol, a ampliação e modernização dos portos e aeroportos, como se explica o abandono dos canteiros da Transposição do São Francisco, com prejuízos incalculáveis? Por que não investimos em silos de armazenamento da produção agrícola – a China acaba de cancelar a compra de dois milhões de toneladas de soja em função de nossos gargalos internos; até onde vamos com uma carga tributária em torno de 36% do PIB? Até quando teremos a maior taxa de analfabetos funcionais? Para concluir, lembramos que o Brasil aplica somente 1,5% do PIB em in fraestrutura, enquanto a média no mundo é de 4 % e por isso temos a 114 ª pior rede de infraestrutura entre 148 países avaliados.
Apresentamos o pior desempenho entre os países emergentes porque aproveitamos mal a volumosa quantia de dinheiro que entrou no país nos últimos anos, e estamos a ver passar de portas abertas o bonde da história. Tivemos a chance mas não decolamos, fizemos um ‘vôo de galinha’ (chicken flight, como diz a The Economist) apenas, tentando vender eleitoralmente estádios modernosos superfaturados, copa e olimpíadas, trens-bala, médicos estrangeiros e afins, enquanto a saúde continua precária, o ensino é lastimável, a insegurança nos transforma numa sociedade do medo, as cidades travam e a propaganda já não mais engabela. Queremos mudanças de verdade. Sonhamos que as urnas de outubro 2014 nos mostrem que há esperanças num Brasil renovado, no caminho do futuro.
Deputado federal (PSDB-BA). Artigo publicado no Jornal A Tarde (11.10)