Centros de ressocialização transformam a vida de pessoas em situação de rua em Belém
“Antes, minhas orações eram para que, se houvesse ‘um Deus lá em cima’, que ele me levasse logo. Hoje, eu peço a esse mesmo Deus que cuidou de mim, que multiplique meus dias na terra e me dê forças para vencer os desafios, permitindo que eu veja minha neta crescer”. É assim que Osiel Pinto, de 34 anos, define sua vida. Ele está há um ano e quatro meses longe das ruas e das drogas, graças ao trabalho realizado pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), da Fundação Papa João XXII (Funpapa), que lhe ofereceu auxílio.
Em Belém, os Creas ofertam serviços especializados e continuados para famílias e pessoas – seja criança, adolescente, jovem, adulto, idoso -, independente do sexo, que estejam em situação de ameaça ou violação de seus direitos, como a violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas e social associados ao uso de drogas.
Osiel morou nas ruas por mais de um ano, desde que foi abandonado por sua última companheira, com quem foi casado por nove anos. “Eu fazia uso de drogas desde meus 15 anos, mas sempre achei que não ficaria dependente dela, até a situação se agravar e eu perder a confiança da minha família”, contou ele, que é pai de duas meninas – uma de 15 e outra de 10 -, frutos de relacionamentos anteriores.
Por 18 anos Osiel foi dependente de drogas e, mesmo trabalhando para manter seu vício, não foi suficiente para fazer o casamento durar. Foi este o motivo que o levou para as ruas, e o centro comercial de Belém se tornou a sua casa. Às vezes confuso, com sentimento de vergonha, outras, com revolta, se sentindo abandonado, ele começou a roubar e cada vez mais se envolver com as drogas.
“Minha ex-mulher dizia que eu ia morrer por causa das drogas, e mesmo assim eu dizia que não era viciado. Que não nasci bebendo, roubando, nem fumando, então não morreria desse jeito”. Mas a mudança de vida do Osiel aconteceu no dia 05 de novembro de 2014, quando agentes da Funpapa realizavam ronda no centro comercial em busca de uma família que estaria em situação de rua, e Osiel ao ajudá-los com um endereço, se interessou pelo trabalho e resolveu pedir ajuda.
O atendimento – Quando reconheceu que, mesmo envergonhado pela situação, precisava de ajuda, Osiel aceitou o atendimento do Educador Social, que realiza abordagens junto às pessoas que utilizam a rua como moradia, e em sua maioria, apresentam vínculos familiares fragilizados e até rompidos.
“Para atender pessoas na mesma situação que o Osiel, nós primeiramente identificamos qual a circunstância que ele se encontra. No caso dele, que realmente queria (ajuda), o encaminhamos para tratamento no Centro de Atenção Psicossocial Marajoara (Caps Marajoara) do Governo do Estado, em seguida para comunidade terapêutica Missão Belém, onde ele ficou por um ano e quatro meses”, explica Célia Borges, educadora social que trabalha no Creas Comércio.
Atualmente, Osiel se vê livre das drogas, mas ele afirma que é uma luta diária para se manter firme e conquistando a confiança de seus familiares. “Não quero mais perder o amor das minhas filhas, nem da minha neta – de nove meses. Agora tenho a confiança da minha irmã, ajudo até no fechamento do caixa da padaria que ela é proprietária. Com isso eu provo dia após dia que estou vencendo essa batalha. E o Creas foi fundamental para me fazer mudar de vida e reconquistar o que eu havia perdido”, comemora.
Mesmo que os dependentes químicos ainda relutem para receber atendimento, no Centro são realizadas ações conjuntas para fortalecer as possibilidades de inclusão de famílias em uma organização de proteção. Em Belém, existem dois Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP), duas casas-abrigo para Adultos em Situação de Rua e cinco Creas.
“As pessoas atendidas retornam duas vezes por semana ao Creas para serem atendidos e avaliados pelos médicos, que lhes prescrevem os medicamentos no auxílio deste tratamento e, consequentemente, o cidadão vai sendo ressocializado”, pontua Célia.
Ao todo são realizadas de 30 a 40 abordagens por mês. O atendimento no Creas é realizado de segunda a sexta-feira, de 8h às 20h, em um trabalho multidisciplinar realizado por uma equipe composta de Assistente Social, Pedagogo, Psicólogo, Arte Educador, Assistente Administrativo, Educador Social, Agente Serviços Gerais e Educador Social de Rua.
Dados – Em 2015 foram atendidos pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi) 16 pessoas de 1 a 12 anos, 57 pessoas de 13 a 17 anos, 19 pessoas de 18 a 59 anos, e uma pessoa de 60 anos ou mais, sendo desse total, 62 homens e 31 mulheres. As situações mais recorrentes são de violência contra crianças e adolescentes.
*Do portal da prefeitura de Belém