Construir hidrelétricas sem eclusas é falta de planejamento
Complexo Teles Pires -Tapajós pode isolar a principal região produtora de grãos
Complexo Teles Pires -Tapajós pode isolar a principal região produtora de grãos
Brasília (30) – O senador Flexa Ribeiro (PA) condenou nesta terça-feira a construção de hidrelétricas, em localidades onde existe a possibilidade de transporte hidroviário, sem a previsão de eclusas – obras que permitem a passagem de barcos em rios ou mares com desníveis. “Isso só revela a falta de planejamento e visão do governo federal.”
“É lamentável”, acrescenta. Para o senador, a não construção desses canais impacta no transporte de diversos produtos do agronegócio, como grãos. “No Brasil, a produção é transportada sobre rodas, aumentando o custo e tirando a competitividade do produto brasileiro”, completou.
Nesta terça-feira, a Folha de S. Paulo mostra que o governo federal inicia um projeto hidrelétrico, na região amazônica, sem considerar a construção simultânea de eclusas, o que permitiria um novo corredor para exportação de grãos de Mato Grosso. O canal permitiria o transporte de até 18 mil toneladas por comboio, o equivalente a 600 caminhões.
ISOLAMENTO
O conjunto de 11 hidrelétricas do Complexo Teles Pires -Tapajós pode isolar a principal região produtora de grãos do País (Centro-Oeste), local de onde saem 18 milhões de toneladas de soja em uma única safra. Isso porque o produto passa pela região amazônica. A concessão das primeiras hidrelétricas está marcada para o dia 17 de dezembro, quando os projetos Teles Pires e Sinop devem ir a leilão.
De acordo com Flexa Ribeiro, havia um acordo no Senado proibindo a construção de hidrelétricas sem eclusas nos rios com capacidade para navegação. “Havia, inclusive, um consenso de que não se fariam barragens sem que as eclusas fossem executadas ao mesmo tempo”, lamentou. O governo petista, no entanto, “descumpriu o pacto determinado”.
O custo da “falta de planejamento” é elevado. Dados da Antaq (Agência Nacional de Transportes Terrestres) mostram que a construção de uma eclusa simultaneamente à de uma hidrelétrica tem valor estimado de 6% a 7% da obra total. De forma isolada, o valor sobe para 30% do total da barragem, só para a construção da eclusa.
Para o senador paraense, a concessão das usinas dá o tom da falta de acordo entre os ministérios dos Transportes e de Minas e Energia no planejar conjunto dos rios. “A construção de eclusas separadamente traz à tona a falta de entendimento entre dois órgãos governamentais,” lamenta.