Entrevistas
Alckmin apóia prévias no PSDB para sucessor de FHC
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, 48, defendeu ontem a realização de prévias no PSDB para definir os candidatos do partido à Presidência da República e governos estaduais. Alckmin disse que é contra a proposta de subordinar a Polícia Militar ao Exército. Ele defende a criação de um instrumento legal para emergências. “A polícia é dos Estados.“ O governador falou à Folha na tarde de ontem, em seu gabinete “protegido“ por quatro imagens de santos. A mais vistosa é uma de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. (SANDRA BRASIL)
Folha – O sr. é favorável à proposta do governador Dante de Oliveira (MT) de realizar prévias no PSDB?
Alckmin – Sou favorável.
Folha – Para presidente e governador?
Alckmin – Para todo cargo majoritário dentro do partido. Quem não conseguir se legitimar dentro do partido, como vai se legitimar perante o eleitorado? Isso fortalece a vida partidária. Em outros países, as eleições primárias são momentos altos da democracia.
Folha – E o seu projeto para 2002? Na cúpula tucana, a sua candidatura ao governo é quase consenso.
Alckmin – Acho equivocada a antecipação da discussão. Isso encurta o governo. Tem tanto problema, tanta coisa a ser feita… A população quer que se resolva a crise de energia. O ajuste fiscal tem de ser permanente. Temos que dar saúde pública melhor.
Folha – Não é estranho que o Planalto cogite o seu nome para o governo de São Paulo e ainda não tenha candidato a presidente?
Alckmin – O PSDB tem lideranças, tem quadros. Escolher cargo majoritário, de presidente da República, governador e prefeito, não é vontade pessoal. Isso tem que ser resultante de uma análise partidária e de uma ausculta à sociedade. As candidaturas acabam naturalmente se colocando.
Folha – Mário Covas defendia o nome do governador Tasso Jereissati (CE) para suceder FHC. Qual o seu candidato?
Alckmin – Tasso é um grande nome, mas não é hora de definição. O governador Covas dizia que devia escolher, mas não devia ter campanha. O PSDB tem diversos nomes, como os ministros José Serra, Paulo Renato, Pimenta da Veiga… e o Tasso.
Folha – E o sr.? Setores do PFL defendem o seu nome.
Alckmin – Eu não sou candidato [a presidente“. Em relação ao governo, depende de decisão do Tribunal Superior Eleitoral e da vontade do partido. Agora, tenho a tarefa árdua de concluir o governo Mário Covas. Nos últimos seis anos, fui co-piloto de um bom comandante. Aprendi muitas lições. A primeira delas: austeridade. Respeito ao dinheiro dos impostos que a população paga. O governador Mário Covas fez o grosso ao colocar o trem nos trilhos. É hora do ajuste fino, que é até mais difícil. É preciso ouvir a população. Duas vezes por semana estou fora do palácio para ouvir.
Folha – Alguma vez, quando o sr. tem algo difícil para resolver, se pergunta o que Covas faria no seu lugar?
Alckmin – Todo dia. O Covas dizia que governar é uma tarefa solitária. Cabe ao o governante defender o coletivo e o interesse público. O primeiro teste duro que nós tivemos foram as 29 rebeliões de presos simultâneas num domingo. O governo agiu, não vacilou um minuto e não atendemos as reivindicações dos rebelados.
Folha – O sr. falou do Serra, Tasso, Pimenta e Paulo Renato. E o ministro Pedro Malan (Fazenda)?
Alckmin – Para presidente, acho que é preciso ter experiência eleitoral anterior. Mário Covas dizia que todo mundo devia ser candidato uma vez na vida a algum cargo majoritário. É uma experiência enriquecedora e muito rica.
Folha – O que o sr. acha da intenção do governo de subordinar as Polícias Militares ao Exército?
Alckmin – Essa não é uma atribuição do Exército. Nem o governo definiu ainda o que vai propor.
Folha – Subordinar as PMs ao Exército provocaria reação muito negativa dentro da corporação?
Alckmin – Acho que não é só o problema da PM. É o próprio problema do Estado. O Brasil é uma República Federativa. A polícia é dos Estados. A solução é ter um instrumento para situações emergenciais. Nada permanente.
Folha – E como se resolvem em São Paulo os problemas com a PM?
Alckmin – Deu para tirar de reivindicação três coisas: teremos um reajuste, não deixamos de fora aposentados e pensionistas e elevamos os pisos. Para o soldado de segunda classe, o aumento é de 34%. Isso sem descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e no momento em que a arrecadação está caindo, há crise na Argentina, dólar disparado e crise de energia. Tudo terá um impacto de R$ 410 milhões até o final do ano.
Folha – Como o sr. avalia a ação que o PT moveu contra a sua aparição no site do governo na internet?
Alckmin – Uma barbaridade. Isso não é publicidade. É prestação de contas. É para saber onde o governador está -até porque o pessoal que quer protestar tem que saber aonde o governador vai. Os sites dos governos e das prefeituras do PT, todos, têm o nome e o retrato do governador ou do prefeito. O que está errado é dizer que no do PT pode e no do PSDB não pode.