Bruno Araújo: PSDB é oposição e reagirá sempre que a democracia for ameaçada
O PSDB é um partido de oposição, afirmou o presidente nacional Bruno Araújo em entrevista à Folha de S.Paulo. “O PSDB nunca teve vocação de oposição estridente, mas discorda com vigor do que é ameaça à democracia”, disse ele. No caso do governo Bolsonaro, completa, três temas são vigorosamente contra as posições do PSDB: os excessos em relação a manifestações antidemocráticas, com as instituições, a imprensa e a própria sociedade; a política externa e a gestão vexatória da pandemia.
Confira a íntegra da entrevista à jornalista Carolina Linhares, publicada na edição desta quarta (17/02).
O PSDB viveu dias de crise. A divisão no partido se dá em torno do quê?
Não podemos falar de divisão quando houve uma decisão unânime da prorrogação do nosso mandato. Pelo contrário, fazia muitos anos que o partido não se sentia tão unido num propósito de gerar uma estabilidade para cuidar do ano de 2022.
Na segunda [dia 8], tivemos um jantar que nasceu do convite do governador Doria, onde o tema foi discutido, isso seguiu para o partido e daí evoluiu para uma decisão, inclusive com o apoio do governador Doria e da executiva de São Paulo, de achar que a prorrogação do mandato desta atual executiva daria um ambiente de mais estabilidade.
Mas é uma unidade do partido contra João Doria.
Não, é um processo de unidade do PSDB na compreensão de que, dado a fragilidade dos partidos e tudo que nós assistimos nessa primeira metade do governo Bolsonaro, e com o resultado de 2020, em que o PSDB se recoloca como player eleitoral relevante depois do tropeço de 2018, nós precisávamos criar uma estabilidade na administração para poder preparar o partido e os candidatos para 2022.
Existe divergência no PSDB a respeito da posição do partido em relação a Bolsonaro, se é oposição ou não?
O PSDB é um partido de oposição. Quem acompanha as redes sociais do partido sobretudo de junho de 2019 pra cá, período que eu presido, vê muito clara a posição de oposição. O partido reage. As pessoas misturam a posição do partido com uma rotina no Parlamento. A bancada na Câmara e no Senado nunca votaram contra posições do PSDB.
Por que então o partido se dividiu e boa parte votou em Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro na eleição da presidência da Câmara?
O processo de disputa interna no Congresso envolve variáveis outras que não são só a institucional do partido, sobretudo a ocupação dos espaços políticos dentro do Parlamento. As alianças que se dão no Parlamento, grande parte das vezes, não são as alianças que você encontra na hora das composições eleitorais.
O partido apoiou o deputado Baleia Rossi [MDB-SP]. E nem por isso eventual defecção signifique falta de compromisso desses parlamentares com o projeto do partido ou com candidatos novos em nível nacional.
Eduardo Leite afirmou que o PSDB não tem o perfil de fazer oposição sistemática e nem deve fazê-la. Concorda?
O PSDB nunca teve vocação de oposição estridente, mas precisa sim se caracterizar como um partido que discorda com vigor do que é ameaça à democracia. No caso de Bolsonaro, três temas são vigorosamente contra as posições do PSDB: os excessos em relação a manifestações antidemocráticas, com as instituições, a imprensa e a própria sociedade; a política externa e a gestão vexatória da pandemia. Em matéria econômica, temos bem menos divergências, mas ela se aplica no fato de nós assistirmos há muito tempo promessas, semana após semana, por parte do governo através do ministro da Economia e essas entregas não serem feitas.
Qual a situação de João Doria no PSDB? Ainda tem condições de ser presidenciável ou deve migrar para outra sigla?
João Doria é um presidenciável do PSDB, um governador que fez a entrega mais importante no momento contemporâneo da vida dos brasileiros. Teve a capacidade política e de gestão de buscar uma alternativa de vacina que hoje é a maior esperança da população brasileira. É um executivo que faz entregas importantes em São Paulo e continua sendo uma das mais importantes e vigorosas lideranças do PSDB.
Mas Doria enfrenta oposição no PSDB? O governador Eduardo Leite também é presidenciável. Doria ainda é viável?
O partido não faz oposição a nenhum dos nossos presidenciáveis. O partido deve ser chamado para escolher entre alternativas. É natural que o seja, é democrático que o seja e a regra assim o prevê. Se o PSDB não conseguir construir uma unidade em torno de um candidato e for chamado a escolher, o fará neste ano de forma democrática e que ajuda no debate interno e ajuda a nacionalizar o nome daqueles que querem se colocar à disposição de assumir uma candidatura presidencial.
Qual o calendário previsto?
Com a necessidade de nacionalizar qual é a visão de país que o PSDB tem projetada nos seus candidatos, quanto mais rápido consolidarmos uma posição, obviamente, tendo a clareza do momento certo, de chamar as prévias, para que o candidato possa, com vigor e trabalho, chegar em 2022 já falando para uma parte importante do eleitorado. Se depender da minha posição pessoal, seria, um ano antes do pleito eleitoral, nós termos um candidato a presidente da República sendo conhecido.
Há a possibilidade de que, diante da chance de perder as prévias, Doria saia do partido. O PSDB está disposto a perder esse quadro?
Primeiro há uma suposição de quem vence as prévias. Segundo, Doria não tem, na sua vida política ou empresarial, a tradição de fugir da raia. Qualquer jogo permite vitória ou derrota. Doria é extremamente competitivo, é um nome importante da cena pública nacional.
A movimentação de Doria de agregar o partido na oposição, de voltar a falar em saída de Aécio, de substituir o sr. na presidência do partido foi tida, ao final, como uma grande derrota. Vê erros de Doria?
Erros e acertos são normais. No caso da prorrogação do mandato no partido, não vemos isso. Doria se juntou a todos na decisão de prorrogar a executiva. A resultante pende para uma balança ainda positiva na atuação do governador Doria.
Como se sentiu no jantar, quando foi discutida a sua cadeira?
O relevante é que disso saiu a compreensão e a clareza, inclusive por parte de São Paulo, de que era conveniente nos juntarmos a todos os outros estados da federação que sinalizavam que era importante renovar a executiva. Todos sabem que eu já manifestava há meses a posição de não seguir na presidência do partido, achando que já tinha dado minha cota de colaboração. Mas a partir desse ponto, com a própria reflexão e participação de todos os estados, fomos levados a continuar colaborando nessa missão coletiva até junho do ano que vem.
Por parte dos aliados de Doria ainda há o entendimento de que ele deveria substituir o sr., se não agora, em junho do ano que vem.
Nenhum deles tratou isso conosco. Em junho do ano que vem o jogo está praticamente jogado. Essa discussão vai se dar no momento apropriado. Até lá, de forma estável, as decisões mais importantes para o pleito de 2022 estarão tomadas.
Quais os cenários para o PSDB em 2022?
O PSDB saiu de 2018 muito machucado. Passados dois anos, saímos de 2020 com a confirmação do partido mais votado nas urnas, o partido que governa os maiores centros urbanos, sem acusações de laranja.
O problema do PSDB desde a sua fundação sempre foi ter mais de uma alternativa de candidatura. E isso é um problema bom, que grande parte dos partidos brasileiros não têm. Há uma animação substancial como há muito tempo não havia no partido.
Com candidaturas desde alguém que estava fora da vida pública, era da iniciativa privada, e teve resultados importantes, como é o governador João Doria, ou uma virada geracional, com o mais preparado e mais brilhante político da sua geração, Eduardo Leite, ou com uma virada do ponto de vista da credibilidade, da maturidade sênior, de um senador como Tasso Jereissati.
Há opção de apoiar outro partido em alguma aliança ou algum outro nome, como Luciano Huck?
Eu já dei declaração de que o PSDB não vai apresentar prato feito. Primeiro vamos olhar para dentro, fazer o exercício interno de democracia, sem nunca deixar de, com muita humildade, manter um ambiente de diálogo dentro do campo que se afasta dos extremos estabelecidos no Brasil, para oferecer uma alternativa conjunta.
Essa aglutinação não vai se dar unicamente pelo tamanho ou história do partido ou essencialmente pela sua visão de estado. Ela vai se dar em muito pela capacidade de quem liderará esse projeto. Será o escolhido ou os escolhidos desse campo, os presidenciáveis, que terão a principal responsabilidade de articular esse campo gravitacional. A nós presidentes do partido cabe manter o diálogo aberto, franco e de construção.
Esse campo político chamado de centro existe de forma independente do governo ou, em 2022, vai jogar junto com Bolsonaro?
Qualquer campo é atraído por uma força política, eleitoral, que gere motivação e esperança. Vai depender muito da qualidade do candidato, dos nomes que serão apresentados como alternativa. E se essa liderança vai ter o poder de aglutinar.
Como vê o cenário de fragmentação no seu campo político e na esquerda? Isso beneficia Bolsonaro? É possível ter união?
Qualquer presidente no cargo é favorito num processo eleitoral. A fragmentação partidária brasileira leva a uma situação como essa. Depende da capacidade dos partidos de manter um grau de diálogo, mas sobretudo dos nomes que esses partidos possam produzir como alternativa para aglutinar.
Como vê o papel de Aécio no partido hoje, ele tem influência?
Aécio é um político de muita habilidade, que mantém muitos amigos não só dentro do PSDB, mas em todos os partidos. Tem grande capacidade de articulação. O tema Aécio Neves é um tema encerrado dentro do partido.
Não vale a pena revisitar a questão da expulsão dele?
Durante a minha presidência, não.