Eduardo Leite: Brasil precisa encerrar o capítulo da divisão política
Em entrevista ao Valor, o governador Eduardo Leite falou sobre as prévias do PSDB e a importância de se construir uma terceira via para o país.
Confira alguns trechos da entrevista ao jornalista Cristian Klein:
Coordenação da terceira via
“Acho difícil o PSDB não ter candidato. Tudo se apresenta até aqui de modo a fazer crer que o PSDB irá mais uma vez protagonizar o processo dessa candidatura no centro. Desde a redemocratização, o PSDB sempre teve candidato a presidente, mais do que esperado que tenha novamente. Mas você não consegue construir convergência se sentar para dialogar com outros atores com a ideia fixa da candidatura. Você tem que estar disposto a ouvir e entender se do outro lado há eventualmente alguém que agregue mais. Até agora isso não se apresenta. A gente quer ter a candidatura, acreditamos na viabilidade. As pesquisas indicam isso, tenho o mesmo percentual de votos dos outros candidatos, mas com uma taxa de conhecimento muito mais baixa e menor rejeição entre todos até aqui. Isso dá um potencial de crescimento. Agora, a responsabilidade primeira é com o país, o projeto não é pessoal, não pode ser um mero projeto partidário em um país polarizado como o nosso, de radicalismo.”
Alianças
“Não tenho problema em sentar, dialogar e tentar construir. Em debate que tivemos recentemente, conversamos eu e o Ciro sobre vir a conversar, ter uma reunião nossa, que não tivemos até hoje. A política precisa disso, mas temos um pensamento diferente do ponto de vista de agenda econômica, o que numa candidatura nacional se torna especialmente sensível por ser uma grande agenda. Se fosse uma candidatura estadual ou municipal isso seria menos relevante porque não são governos que atuem sobre a economia diretamente. Agora, uma candidatura a vice, não apenas do Ciro como de qualquer outro candidato, é algo sobre o que menos me inclino. Aí ficaria no Rio Grande do Sul, para concluir o meu mandato e ajudar a conduzir o processo eleitoral local, da sucessão, e daria a minha contribuição à candidatura que viesse a ser consagrada no centro.
Prévias do PSDB
“Eu vou tomar todo o cuidado para que justamente as prévias não signifiquem feridas que atrapalhem o processo eleitoral que vem pela frente, inclusive no cuidado nestas declarações agora (risos). Porque sem dúvida nenhuma São Paulo é importante para o Brasil em todos os sentidos. E acredito que pelo tanto de entregas que historicamente há pelo PSDB e também no governo do João Doria não será um problema para uma futura candidatura, confio nisso.”
Maior adversário
“O adversário são os dois. Agora, o adversário não é o bolsonarista e nem o lulista. O adversário é o Bolsonaro e o Lula. O eleitor não é o culpado dessa história. Ele tem as suas razões para acreditar num ou noutro caminho e tem que se compreender as razões que levaram esse eleitor a votar em Bolsonaro e, eventualmente, em ser até ainda um defensor de Bolsonaro, pelo que ele rejeita de outro lado. Assim como se tem que compreender o eleitor do Lula também. O que a gente precisa é deixar de fazer uma política do contra um e do contra o outro e conquistar o eleitor para uma política a favor das causas que devem ser defendidas.”
Prioridades do país
“A grande causa no momento é o emprego, viabilizar a retomada da economia. E se mantém também uma importante causa que é o combate à corrupção, que se perdeu com Bolsonaro, é verdade. O PT se apresentou como o moralista, o vestal, um partido que não iria compactuar com a corrupção e se mostrou ali os maiores casos de corrupção da história recente do país, financiando um projeto político, ou seja, uma corrupção institucionalizada, no centro do partido. Bolsonaro também está aí diante de denúncias muito graves de corrupção nas compras das vacinas, além das denúncias gravíssimas envolvendo sua família e tantas outras frentes. Deixa de financiar um partido para financiar um projeto familiar.”
Voto em Bolsonaro em 2018
“Era um caminho muito difícil. A volta do PT ao poder parecia um mal maior naquele momento. Eu menosprezei de fato a capacidade de fazer o mal do Bolsonaro. Eu não considerava… especialmente não sabíamos que haveria uma pandemia em que esta crueldade do presidente se apresentasse fatal, como se apresenta, com perdas de vidas. E não apoiei, o que é importante dizer. Fiz uma declaração de voto. Apoiar é pedir votos.”
Lula ou Bolsonaro no 2º turno?
“Vou lutar tudo o que eu posso para evitar essa situação. Se ela acontecer vamos discutir lá na frente, que tipo de posicionamento acontecerá. Lula não vai cicatrizar as feridas deixadas abertas por Bolsonaro porque está na raiz da divisão. O país precisa encerrar esse capítulo e abrir o capítulo de uma nova história política.”