“Já está mais do que claro quem foi que quebrou e pilhou o país”, diz ex-presidente do BC Armínio Fraga
Brasília (DF) – A crise econômica e política em que o governo da presidente Dilma Rousseff afundou o Brasil não terá solução a não que haja uma mudança, tanto do governo quanto da forma de conduzir a economia. A avaliação foi feita pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Em entrevista publicada nesta segunda-feira (21/03) pelo jornal Folha de S. Paulo, Fraga destacou que já está claro para o brasileiro quem foi que “quebrou e pilhou o país”.
“No momento não há consenso, mas com uma eventual troca de governo teríamos uma chance de pelo menos estancar a sangria, enquanto se aguardam eleições e uma liderança com mandato para ir mais fundo nas mudanças. O debate é complicado, mas já está mais do que claro quem foi que quebrou e pilhou o país. Mantenho alguma esperança, mas o tempo que nos resta é curto”, afirmou.
Para o ex-presidente do Banco Central, a atual turbulência política pode acarretar efeitos devastadores na recessão econômica, como a perda de empregos e renda, fazendo com que a população acabe tendo que pagar o preço pelo descontrole da gestão.
“O estrago é geral. Desde 2014 a responsabilidade fiscal foi abandonada. O crescimento da dívida pública é galopante e põe em risco o trabalho de décadas”, avaliou. “A deterioração já se faz sentir em toda parte e tende a piorar. Falo de perda de emprego e renda real como nunca se viu. A maior vítima é o povo, que acreditou que esse modelo daria certo, se endividou e agora, como sempre, paga o preço”, disse ao jornal.
Fraga ressaltou que para resolver a crise não existem atalhos: o desenvolvimento da nação requer um Estado competente e com visão de longo prazo. O ex-presidente do BC disse que, entre os maiores desafios que o país tem pela frente, está a questão fiscal. Segundo ele, ao invés de defender medidas como o aumento de impostos e a volta da CPMF, o governo deveria priorizar reformas como a tributária, a trabalhista e a previdenciária.
“Um novo rumo para o país. O governo e seu principal partido não dão nenhum sinal de que proporão um caminho minimamente razoável. Seu histórico não ajuda, e hoje seguem com propostas malucas. Não vejo como avançar assim”, considerou.
Lava Jato
Armínio Fraga elogiou o avanço das investigações da Operação Lava Jato. Para ele, ao final das apurações o país terá passado por “uma boa triagem”, que criará condições para uma guinada cultural e uma reforma política que, com o tempo, “ajudariam a recuperar a governabilidade e alguma confiança da sociedade brasileira na política”.
Para o ex-presidente do Banco Central, a “doença” que se manifesta na crise econômica brasileira é a mesma que a Operação Lava Jato procura curar. “Não dá para separar uma da outra. Tem a ver com um desenho de Estado e economia cheio de incentivos perversos, com uma cultura complicada. A Lava Jato precisa ir até o fim, não se pode abrir mão disso”, completou.