Lançado em São Paulo livro em homenagem a Mario Covas
Publicação não é uma biografia mas revela passagens inéditas da atuação do tucano
Publicação não é uma biografia mas revela passagens inéditas da atuação do tucano
São Paulo (06) – O livro narra em seis capítulos momentos importantes da vida e da trajetória política de Mario Covas desde Santos, onde nasceu, em 1930, até sua morte, em 2001. Escrita por cinco amigos e colaboradores de Covas e por dois cientistas sociais, a obra revela passagens inéditas da atuação deste que foi um dos mais importantes personagens da cena política brasileira na segunda metade do Século XX. O fio condutor da narrativa é a fidelidade de Covas aos valores da democracia, que ele defendeu, ajudou a conquistar e praticou em toda a sua vida.
No primeiro capítulo o jornalista Osvaldo Martins lembra o surgimento de Covas na política, no início dos anos 1960, apoiado por Janio Quadros, e segue até 1979, quando recuperou os direitos políticos, suspensos por dez anos após a edição do Ato Institucional nº 5. Líder da oposição na Câmara dos Deputados em 1968, Covas comandou a resistência parlamentar em defesa das prerrogativas do Poder Legislativo e fez, em 12 de dezembro daquele ano (véspera do AI-5), um dos mais importantes discursos da história do Congresso Nacional. O livro registra, pela primeira vez, a íntegra desse pronunciamento (à época a censura impediu a sua divulgação).
O autor revela pormenores inéditos da estratégia de Covas para impedir o confronto desejado pelo regime militar e de suas conversas com o líder governista, o senador gaúcho Daniel Krieger, nos momentos cruciais do episódio. Segundo Martins, a “linha dura” do Exército procurava um pretexto para dar “o golpe dentro do golpe” e o encontrou num discurso do deputado carioca Márcio Moreira Alves, em setembro de 68, considerado ofensivo às Forças Armadas.
O livro publica, em um Anexo, texto também inédito com trechos de uma alentada análise de conteúdo do discurso de Covas, e revela a uma curiosidade: as notas taquigráficas desse pronunciamento sumiram da Câmara, “salvas” por uma funcionária que só as devolveu em 2.000.
O cientista político Humberto Dantas, autor do segundo capítulo do livro, esmiúça os 33 meses de Covas como prefeito de São Paulo (1983-1985), com destaque para os célebres mutirões de obras públicas nos fins de semana, com a participação da população de bairros da periferia da Capital. De novo, sobressai o estilo democrático de gestão de Covas na prefeitura e a presença constante do prefeito nas ruas, experiência que ele próprio considerava “a mais gratificante” de sua vida.
O constitucionalista mais citado em sessões do Supremo Tribunal Federal, José Afonso da Silva, escreve o capítulo dedicado à atuação de Mario Covas na Assembleia Nacional Constituinte (1987-88), baseado em suas observações diárias – ele foi o principal assessor de Covas naquele período. O jurista relata com precisão os embates ocorridos nas comissões temáticas e na comissão de sistematização, observa as dificuldades enfrentadas por Covas na elaboração de uma Carta progressista e deixa claro que o Centrão (agrupamento de parlamentares conservadores e fisiológicos, cooptados pelo então presidente José Sarney) foi o fiel da balança em muitas votações decisivas na Constituinte.
Outro cientista político, Sérgio Praça, pesquisou os bastidores das eleições perdidas por Covas para presidente (1989) e para governador de São Paulo (1990), pelo recém criado PSDB, em meio à desorganização e às dificuldades de seu novo partido. Em seu capítulo, Praça ressalta o empenho de Covas em manter o tempo todo sua conduta democrática e seu projeto de Brasil explicitado em famoso discurso no Senado, quando propôs um “choque de capitalismo”.
O capítulo sobre Covas governador (1995-2001) é de autoria de dois de seus principais colaboradores no palácio dos Bandeirantes: Antonio Angarita e Dalmo Nogueira, respectivamente secretário e secretário-adjunto de Governo e Gestão Estratégica. De um ângulo privilegiado, dada a proximidade com o cotidiano do governador, Angarita e Nogueira participaram da bem sucedida luta de Covas para recompor as finanças de São Paulo e recuperar a sua capacidade de investir em obras e serviços, praticando a democracia e, em nome dela, agindo com pulso firme.
O último capítulo do livro, de autoria de David Uip, médico de Covas, é outro depoimento repleto de informações inéditas sobre a luta contra o câncer e a forma como o governador enfrentou essa tragédia pessoal. Liderando uma equipe de especialistas, Uip revela como deu a má notícia a Covas sobre sua doença e destaca a conduta de seu paciente desde então: ele queria transparência total sobre seu estado, por entender que o povo tinha o direito de saber tudo. “Nada pode ser omitido”, ordenou.
O lançamento do livro coincide com o 10º aniversário de instituição da Fundação Mario Covas, criada em abril de 2001.
Fonte: Fundação Mario Covas