Tucanos repudiam grampos ilegais da Abin
Brasília (1º de setembro) – Parlamentares do PSDB manifestaram indignação com as escutas telefônicas ilegais de políticos e autoridades federais feitas por parte da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A denúncia da revista “Veja” desta semana provocou mais uma crise dentro do governo Lula e o repúdio de integrantes dos poderes Legislativo e Judiciário, alvos dos arapongas. Ontem à noite, após uma série de reuniões, o presidente da República decidiu afastar temporariamente a diretoria da Abin até o fim de investigações que serão conduzidas pela Polícia Federal.
ATENTADO À DEMOCRACIA
Um dia depois de ter divulgado nota da bancada (leia íntegra abaixo), o líder tucano na Câmara, José Aníbal (SP), voltou nesta segunda-feira a se pronunciar sobre as denúncias, as quais considera gravíssimas. O tucano cobrou a demissão do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, que irá depor hoje na CPI dos Grampos. “Ou o general admite que não sabia da gravação e entrega sua carta de demissão ou ele confessa que sabia de tudo e o presidente Lula é obrigado a demiti-lo. Além disso, Lula precisa vir a público dizer se tinha conhecimento da arapongagem. O que vimos foi um atentado à democracia”, disse.
Aníbal destacou ainda que a Abin está desvirtuada de sua função original, como municiar a Presidência da República com informações de qualidade sobre a realidade política e econômica do país e do exterior, além de possibilidades de conflito e outros temas de inteligência. “A Abin não foi criada para bisbilhotar a vida de adversários políticos e criar constrangimentos, como o que aconteceu contra um presidente de Poder. Essas coisas aconteciam na época da ditadura”, apontou, ao se referir ao monitoramento das ligações de Gilmar Mendes, presidente do STF.
Uma das vítimas das escutas, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), cobrou em nota que todo o episódio seja “passado a limpo” e propôs três medidas para coibir as escutas clandestinas. Em primeiro lugar, sugere a identificação de todos os aparelhos de escuta telefônica existentes no Brasil. Depois, o senador pede a realização de auditoria nos aparelhos legais para verificar quais escutas foram permitidas pela Justiça e quais foram realizadas pelo livre arbítrio de autoridades para que elas sejam apontadas à opinião pública e, posteriormente, punidas. Por último, o líder defende a realização de blitz para identificar os aparelhos ilegais e a punição severa desses operadores de grampo que, segundo ele, funcionam de maneira torpe e inconstitucional.
Na quarta-feira, a Executiva Nacional do PSDB se reúne em caráter extraordinário em Brasília para discutir o momento político e a crise entre os poderes agravada pela denúncia da revista “Veja”.
NOTA OFICIAL
LIDERANÇA DO PSDB NA CÂMARA
A bancada do PSDB na Câmara repudia as escutas telefônicas ilegais de todo e qualquer cidadão brasileiro.
Foi com indignação e revolta que os deputados tucanos souberam, pela imprensa, que foram grampeados pela Agência Brasileira de Inteligência, ABIN, alguns dos principais representantes dos três poderes da República.
O que vivemos hoje é a instauração de um poder paralelo, criminoso e antidemocrático, semelhante em ação às milícias e ao tráfico de drogas, que se escondem sob o manto nebuloso da clandestinidade.
É inconcebível o fato de que os legítimos representantes da vontade do povo, assim como magistrados e a cúpula do poder executivo da Nação tenham suas vidas devassadas, bisbilhotadas e expostas.
Os deputados do PSDB – em nome do povo brasileiro, da democracia e do Estado democrático de direito – exigem conhecer, imediatamente, todos os envolvidos neste torpe e sórdido “esquema”, além de saber o objetivo real dos mandantes e responsáveis por tais crimes.
Um governo que se diz democrático e a favor do povo JAMAIS pode permitir que as atrocidades e as práticas típicas de Estados de exceção possam existir em sua estrutura.
O Presidente Lula tem que dar uma satisfação imediata à sociedade ou então permitirá a dedução de que ele é conivente com a realidade policialesca que teima em tentar se instalar no Brasil, fato que parece ser verdade já que assinou medida provisória criando cerca de 400 cargos para a ABIN.
Dep. José Aníbal
Líder do PSDB na Câmara