16h20 – Leia a íntegra do discurso de José Serra
Concorrer à Presidência é uma honra para qualquer político. Mas uma honra maior ainda é concorrer à Presidência pelo PSDB, por um Partido que já teve como candidatos à Presidência o Mário Covas e o Fernando Henrique; e um Partido, como lembrou o José Aníbal, que pode homenagear a memória de grandes brasileiros como Magalhães Teixeira, Sérgio Motta, Montoro, Mário Covas, Vilmar Farias, Nelson Marchezan. Poucos partidos, poucas instituições no Brasil têm pessoa dessa estatura para homenagear. Candidato de um Partido que tem coragem, um Partido das administrações bem-sucedidas no Brasil, para a Nação, nos Estados e nos Municípios. Aqui estão à mesa os nossos Governadores que testemunham a nossa competência, a nossa fidelidade aos compromissos, a nossa coragem. O PSDB não é um Partido que joga com as esperanças populares, mas é um Partido que não trai a sua origem, que cumpre os compromissos que assume. Portanto, é uma honra muito maior para um político ser candidato deste Partido.
E quero aqui agradecer a esta indicação, quero agradecer à Direção do nosso Partido, à Executiva, ao nosso Diretório, presididos pelo José Aníbal, por esta confiança, pelo equilíbrio com que conduziu o processo.
Quero agradecer muito especialmente a dois companheiros que acabaram de falar: o Ministro Paulo Renato, que pela sua obra na Educação, que mudou a Educação no Brasil. Eu dizia: muitas vezes se faz comparação do Governo Fernando Henrique com o Governo do Campos Sales, há um século, dizendo que fizeram saneamento financeiro. Mas se o Campos Sales naquela época tivesse feito o que foi feito agora, botar 97% das crianças na escola, o Brasil seria outro e por outras coisas ele seria lembrado.
E agradecer ao Governador Tasso Jereissati. A respeito há um ditado que diz: quando um não quer dois não brigam. Mas no nosso caso podemos dizer: quando dois não querem, não só não brigam como vão andar juntos dentro da luta política e social.
E quero agradecer acima de tudo ao meu Partido, aos militantes, à militância combativa aqui representada, militância de luta e de briga. Os Tucanos não sabem fazer jogo baixo na política e nem chantagem, mas sabem brigar, têm bico afiado para defender as nossas bandeiras, nossos candidatos, nossas lutas.
Todos sabem que não sou homem de fazer promessa, mas quero aqui hoje estabelecer os meus compromissos com a militância Tucana e com o Brasil. Quero estabelecer meus sete compromissos: o compromisso com a verdade, o compromisso com o trabalho, o compromisso com o desenvolvimento, o compromisso com a justiça social, o compromisso com a redução das desigualdades regionais, o compromisso com a segurança pública e o compromisso com a democracia. Essas são as nossas bandeiras.
E olhem, vamos ter uma campanha dura, árdua pela frente. Eu estava sexta-feira dando uma entrevista para o Bóris Casoy, que vai sair hoje à noite. E o Bóris num certo momento falou: olha, todo mundo diz que você é competente. Você trabalhou comigo. Eu e o Bóris trabalhamos num momento da vida juntos. E quero dar aqui meu testemunho: mas tem uma coisa contra você, que é que dizem que você não é simpático. Eu disse: olha, Bóris, eu comecei minha vida pública há 40 anos. Não tenho tanta idade assim quanto o Martus venenosamente quis sugerir aqui. Eu tinha 20 anos só. Fui Presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo numa época de muita agitação. Depois, da UNE, na época em que a UNE era forte, agitava e fazia muita subversão no Brasil. Eu fiz muita agitação. Depois fui para o exílio, 14 anos no exílio. Voltei ao Brasil, integrei-me na luta democrática. Tive tempo ainda de fazer isso. Integrei-me na luta democrática imediatamente, mesmo antes de sofrer os efeitos da anistia, que só veio um ano depois de que eu voltei. Fui Secretário do grande Governador Franco Montoro. Que homem extraordinário o Montoro! Primeiro Governo democrático de São Paulo. Fui Secretário de Economia e de Planejamento. O Paulo Renato lembra, ele trabalhava comigo, depois foi Secretário da Educação. Eu era o Secretário mais ligado ao Governador e de alguma maneira levava a decisão a respeito de todos os recursos de São Paulo, que estão aquém das necessidades da população, mas estão muito acima dos recursos de que dispõem outros Estados no Brasil. Depois fui eleito para a constituinte. Na constituinte fui relator de muita coisa, inclusive do capítulo financeiro, muito delicado. Depois, como Líder do PSDB, coube-me conduzir, com outros, mas de maneira muito firme o processo que levou à destituição do Presidente Collor. Depois fui eleito para o Senado e ocupei o Ministério do Planejamento e do Orçamento do primeiro Governo Fernando Henrique, que reunia o que hoje são vários Ministérios. Depois ocupei o Ministério da Saúde, que isoladamente, depois da Previdência Social, tem o maior orçamento. São 40 anos. A única coisa que no final disso tudo se diz com restrição a mim é que eu sou antipático.
Eu disse aos Bóris: olha, se é só isso, eu quero te agradecer. É um grande cumprimento para mim, é um elogio. Está certo, Marconi? Um grande elogio. Caramba, 40 anos! Além do que a questão da simpatia, vocês sabem, é improcedente.
Eu até disse a ele: olha, pelo menos a minha mãe e a minha filha, que estava comigo no estúdio, acham-me simpático. Já é um ponto de partida.
Mas eu falava dos compromissos. O primeiro deles é com a verdade. Na política só a verdade é democrática, porque ela é que pode permitir que a população possa fazer suas escolhas sem ser enganada. Chega no Brasil de político que faz questão de prometer o que não pode cumprir, que esconde suas posições, que exagera na desgraça. Já tivemos experiências semelhantes no passado. Lembrem, e foram a Direita: Jânio Quadros e Collor de Mello. Um com a vassoura, o outro com o marajá. Lembrem que engano isso representou para o Brasil. A verdade é a arma da democracia. E nesta campanha, como em toda a minha vida, vou dizer a verdade sempre em todos os cantos. Nós vamos levar essa verdade a todos os cantos do Brasil, a todas as Regiões do Brasil, a todos os setores, nas periferias, na universidade, no agreste, na Amazônia, nos pampas, aonde for, em entidades empresariais. Não vamos terceirizar idéias, as idéias vão ser expostas e debatidas com todos. A população precisa conhecer isso para fazer a sua escolha com segurança e dar segurança ao futuro do País.
Meu segundo compromisso, que eu disse aqui, é com o trabalho. Vamos trabalhar muito na campanha e no Governo. No Brasil não faltam idéias. Às vezes sou mal entendido. Não é que eu diga que não precisamos de idéias. Precisamos, sim, mas não é só disso, não. Nós temos que saber tirar as idéias do papel, ter vontade política para fazer isso, ter competência para materializar, ter persistência para fazer acontecer depressa.
O terceiro compromisso é com o desenvolvimento. Nesses anos todos o País afirmou a sua estabilidade. E não foi pouco. No passado chegamos a enfrentar inflação mensal de 80%. Isso tudo tende a se esquecer, tende a se perder na memória. Era um país que num certo momento não era respeitado pelo mundo. E o que é pior, nem pelos brasileiros e brasileiras. Agora, afirmada a estabilidade, construída uma rede de proteção social como nunca houve no nosso País e que temos que avançar no sentido de aprofundá-la, de tornar esta proteção para todos. Temos agora que dar ênfase ao desenvolvimento, ao crescimento da economia e ao crescimento do emprego.
Outro dia fui a Mato Grosso e nem sei se plagiei ou não o Presidente Fernando Henrique quando eu disse lá: ao vir aqui eu me sinto presente no Brasil do futuro, no Brasil que não tem retrovisor, no Brasil que olha para frente, no Brasil que explora todas as suas possibilidades de desenvolvimento, de integração territorial, de enfrentamento com competência da concorrência mundial. E é isto que nós temos que mobilizar. É possível, é viável e vamos fazer a economia brasileira crescer mais, voltando àquela época dos anos 50 em que o Brasil realmente abriu-se para o seu futuro, modernizou-se e avançou. Agora vamos reabrir essa fase, mas relacioná-la com outro compromisso nosso, que é com a justiça social. Desenvolvimento tem que ser para todo mundo senão não é desenvolvimento.
Eu me lembro do que disse na apresentação da minha candidatura lá na Câmara dos Deputados. A Bandeira Nacional fala em Ordem e Progresso. Agora, não é possível no Brasil ter ordem para todo mundo e progresso só para alguns. Nessa situação não vai haver ordem nem progresso para ninguém.
E temos – isso é muito importante se dizer – a rede de proteção social montada. O que temos agora é que levá-la às últimas conseqüências.
Outro compromisso é com a redução das desigualdades regionais. Sem isto não haverá igualdade social. E junto com ela a defesa da nossa integridade territorial. No século passado, o grande Presidente norte-americano Abraham Lincoln na guerra civil declarou que a nação americana não poderia ter futuro se ela fosse metade escrava e metade livre. Trazendo para este século, eu diria, não vamos ter futuro no Brasil se tivermos metade pobre e metade rico. Portanto, o que estou dizendo aqui é menos do que um item de campanha, é um compromisso de Governo, é um compromisso de vida. Em toda a minha vida toda vez que fiz política, fiz como político nacional. Sou filho de migrante de primeira geração e acostumei desde cedo a pensar fora do meu território. Fui Presidente da UNE, conheci o Brasil inteiro, passei 14 anos no exílio, vivendo em quatro, cinco países. A minha visão é a do Brasil como um todo. Por isto é que quando eu digo: desenvolvimento para todos não estou fazendo retórica, estou expressando os compromissos da minha alma.
Mas falei também em desigualdades regionais e integridade territorial. Temos que acelerar o crescimento econômico inclusive para ter recursos para que as nossas Forças Armadas possam melhorar o seu equipamento e o seu treinamento, a fim de defender a integridade do nosso território. O Brasil não pode tolerar a violação de nenhuma das suas fronteiras, nem planos de internacionalização de nenhuma das suas Regiões. Por isso precisa estar pronto para defendê-la sim, assim como precisa integrá-las ao crescimento nacional, através de novos planos de desenvolvimento adaptados à diversidade do nosso País e às circunstâncias internacionais; um País único e soberano, da Amazônia aos Pampas, do Pantanal à plataforma marítima. Isto é que nós temos que defender como bandeira e como política de governo.
Falei do sexto compromisso, com a segurança pública. Hoje há mais pessoas trabalhando para a segurança privada do que para a segurança pública. No entanto, as pessoas que podem pagar guardas, que podem pagar segurança privada não se sentem seguras. A questão básica é a seguinte: ou a segurança é para todos, ou a segurança é de ninguém. Isto nós temos que ter claro. E a nossa fórmula, não tem mistério: está se falando muito de coisa de segurança, muito: digressões, propostas, isto ou aquilo. Mas o que nós temos que ter acima de tudo é uma atitude. Quem está preso, condenado, deve continuar preso? Quem está condenado fora deve ser preso. E nós temos que introduzir de maneira mais decidida o Governo Federal nesta luta, criando o Ministério da Segurança Pública para envolver o Governo nesta ação. E temos que dar à Polícia Federal também a missão da polícia ostensiva, da polícia da repressão e não apenas investigativa. Temos que criar uma Polícia Federal fardada inclusive no Brasil. Quando pensamos que 70, 80% das armas que circulam nas mãos de bandidos são contrabandeadas, inclusive com produção nacional. E temos que integrar os municípios dentro dessa batalha. E é possível fazer esta articulação, como nós fazemos no sistema de saúde, a União, os Estados e os Municípios.
Mas eu falava dos compromissos, o nosso último compromisso, que é a síntese de todos, é o compromisso com a democracia, a democracia que foi tão consolidada, tão afirmada pelo Governo do Presidente Fernando Henrique. No ano que vem vamos estar completando o maior ciclo democrático do Brasil do após-guerra. Vamos ter tido mais democracia do que tivemos de 1946 em diante. Com uma diferença: sem tentativas de golpes como havia naquela época, com governos como o do Fernando Henrique, que absorvem as crises, elas entram no Planalto de um tamanho e saem de tamanho menor, que não agravam as tensões, que é tolerante com opiniões contrárias, que proporciona plena liberdade de crítica, pela liberdade de organização, respeito aos contrários. E esta democracia é que nós temos que afirmar. Não acredito em messianismos políticos nem creio que tenhamos qualquer candidato a salvador da pátria. É o País que precisa esclarecer-se e unir-se para enfrentar os seus problemas. Um bom Presidente não é aquele que fica prometendo resolver sozinho os problemas; o bom Presidente é aquele que é capaz de unir as forças sociais no Brasil, as forças políticas em torno de um compromisso, de um projeto compartilhado de construção de um Brasil democrático, de um Brasil soberano, de um Brasil desenvolvido, de um Brasil justo para todos. Nós promovemos muitas mudanças, mas é preciso que estas mudanças cheguem para todos e para todas as brasileiras. A riqueza mais importante do nosso País não está apenas no território, nos recursos naturais, no tamanho da sua população, no desenvolvimento mais avançado na indústria em alguns lugares; a riqueza mais importante do Brasil está na força do seu povo, se ele conseguir unir-se em torno de um projeto de país, que seja ao mesmo tempo generoso e viável. Uma nação não é apenas uma bandeira que se hasteia de vez em quando, um hino que se canta desajeitadamente, uma língua que todos falam e que nem todo mundo entende. Uma nação é sobretudo um povo que se une em torno de um projeto histórico e com garra e entusiasmo supera os obstáculos e avança em direção a um futuro de dignidade. Nesta Nação um Presidente dá um exemplo, mas nem ganhe e nem governa sozinho. O que precisa, isto sim, é ter clareza de rumo, firmeza de vontade, capacidade para dizer o que é prioritário e unir esforços e anseios.
Ao longo da minha trajetória de vida, da minha trajetória de luta, eu não acertei apenas, eu cometi também erros e não foram poucos. Isso é inevitável. Mas eu nunca tive medo de desafios, nunca, eu nunca fugi aos sacrifícios, nunca fugi ao combate e sempre cumpri os compromissos que firmei.
Depois de 40 anos daquela militância política, de muito tempo de exílio e de estudo, de muito tempo de experiência parlamentar e administrativa, acredito que estou preparado para unir a experiência adquirida à esperança preservada de tornar realidade o sonho de um Brasil próspero e de um Brasil justo, de um Brasil grande no tamanho e na riqueza material, mas, sobretudo, grande no espírito de justiça e de solidariedade do seu povo. Por isso sou candidato a Presidente da República com o apoio de todo o PSDB. Nossa vitória será um passo decisivo na construção de um país, como eu dizia, democrático, desenvolvido e justo, como é o nosso projeto. Agora, não é uma tarefa só para nós, não, para nós cabe avançar nessa tarefa, é uma tarefa para vários anos, várias gerações, muitos braços, muitas mentes, muitos corações. Por isso essa luta exige paciência, exige vigor, exige lucidez e muita, muita paixão, tanta paixão quanto nós temos reunido aqui hoje com esta militância Tucana; e é esta paixão que vai nos conduzir nesta campanha, é esta paixão que vai nos conduzir à vitória.
Dá-lhe Tucano, vamos juntos ganhar esta em benefício do nosso País e do nosso povo. (Palmas.)